Cuide do que é precioso

Cuide do que é precioso.

A existência de “máfias” basicamente acontece pela demanda da população que nem sempre consegue controlar sua ansiedade ou sua “esperteza”. Em alguns casos elas proliferam no meio da população de baixa renda que se torna refém de atravessadores de serviços que subornam fiscais e policiais. Por isto os “gatos” aumentam em grande velocidade. Nós pagamos a diferença às fornecedoras.

O que não se compreende é que pessoas com algum polimento de lucidez relaxem num assunto vital e permitam ser exploradas pelos aproveitadores regulares que por vários anos atuam da mesma forma no mesmo segmento social e com alto sucesso. Vamos a dois exemplos cotidianos de freqüência constante e que retratam a nossa incoerência.

Exemplo 1 - Transporte escolar.

Famílias que possuem renda para colocar dois ou três filhos (entre 6 e 12 anos) em escolas particulares gastando por cabeça quase R$ 1200,00 por mês com mensalidade, material e lanches, deixam de gastar R$ 200,00 pelo transporte escolar especializado e quase 95% seguro. Se você tiver oportunidade, pare por 10 minutos na porta de uma escola deste porte e observe que na chegada ou saída, dezenas de kombis e camionetes caindo aos pedaços e sem identificação legal amontoam 12 ou 15 crianças (onde cabem 10) sem conforto e segurança. Muitos destes motoristas fazem transporte de cargas pesadas e não possuem a menor qualificação para cuidar da segurança dos menores. Nem paciência para lidar com crianças sapecas e trânsito caótico. Mas cobram “apenas” R$ 120,00 pelo serviço (?). Com esta “economia” (sobre 3 filhos) é possível quase suprir o gasto do exemplo 2 abaixo.

Se as pessoas levassem em conta a integridade de seus herdeiros esta prática continuaria?

Exemplo 2 - Ingressos para espetáculos.

Seja jogo de futebol, show musical ou similar, com expectativa de alto público no dia do acontecimento. A administração do espetáculo anuncia a tabela de preços, bem como os pontos de vendas e horários de abertura das bilheterias.

Quatro dias antes imensas filas se formam nas cercanias dos pontos de vendas. Centenas de pessoas (tem tabela de revezamento) passam a madrugada no cimento frio portando cobertores, perdendo aulas (e trabalho) e sujeitos a enchentes e assaltos. Algo que não fazem por uma causa cívica com duas horas de duração.

Trinta minutos depois das bilheterias abertas anunciam que os 30.000 ou 50.000 ingressos estão esgotados, apesar de ter sido definido que cada pessoa só poderia adquirir um máximo de quatro ingressos. Uma hora depois da balbúrdia que se segue, começam a circular na região os cambistas que cobram 4 ou 5 vezes mais pelo valor do tal ingresso (uma parte para os bilheteiros que os atenderam antes da hora e outra parte para os fiscais). E encontram quem pague por esta exorbitância. Até um pouco mais para receber o ingresso em casa. O orçamento doméstico depois ficará comprometido mas poderá ser equilibrado com a queda de qualidade citada no exemplo 1 acima.

E se em duas ou três oportunidades os expectadores deixassem de adquirir os tais ingressos?

Provavelmente esta prática deixaria de acontecer pois o prejuízo dos cambistas seria doloroso e a segurança do bem mais precioso seria tratada com maior cuidado.

Haroldo P. Barboza

Autor do livro: Brinque e cresça feliz

Haroldo
Enviado por Haroldo em 13/10/2011
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