BRASIL: INFLAÇÃO, PIB E 2013
No início de 2010, esperava-se uma guinada, novos rumos. Muitas palavras ao novo governo foram de relativo otimismo, um pouco de ceticismo e muito de esperar e confirmar os resultados alarmados.

Hoje, praticamente dois anos depois, vive-se um ambiente político-econômico ainda em turbulência e o mais complicado é que esta se estabeleceu e se agrava a cada dia em ritmo acelerado.

Mesmo depois de algumas correções ministeriais, os choques não foram suficientes. A máquina está ineficiente, a corrupção ainda graça e os planos e programas para o povo não revelam a efetividade requerida, pelo contrário, demonstram a incompetência do Estado em solver as demandas societais de saúde, educação, transporte e segurança pública, principalmente.

O governo insistiu na redução dos juros básicos e aceitou a manutenção, por mais alguns anos, da meta de inflação de 4,5%, muito alta pelos padrões internacionais. Em paralelo, a administração agrava a promiscuidade entre as políticas fiscal e de crédito, endividando o Tesouro para reforçar o caixa dos bancos federais... Desastre iminente configurando-se.
2012 será um fiasco em termos de economia. As projeções apontam para um crescimento em torno de 1,5%, horrível, caso comparado com o desastrado número de 2011, 2,7%. Categoricamente, não é somente a crise global que endereça para isso, uma vez que outras economias emergentes, e até alguns países próximos ao Brasil (Colômbia, Peru e Chile), estão bem melhores do que a brasileira.

Embora os consumidores continuem comprando, a política de incentivos do Governo Federal é míope. Desde o ano passado o governo tem estimulado o consumo, por meio de corte de impostos e de aumento do crédito, no entanto, a resposta da indústria de transformação, no geral, tem sido decepcionante. A conseqüência imediata desse equívoco foi o aumento das importações. Há um inegável erro de enfoque, porque só alguns segmentos da indústria foram alcançados pelos estímulos.

Sobre a questão dos investimentos, vigoroso estimulador de crescimento em tempos de crise, o atual governo investiu R$ 45,2 bilhões (jan. a set 2012), 23,3% a mais do que em 2011. R$ 24,3 bilhões do total investido estão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), valor 35,1% superior ao do ano anterior. Os freqüentes atrasos nas tomadas de decisão, fazem sumir as oportunidades, dez anos de governo e as questões de investimento ainda patinam... No uso desse recurso, faz-se necessária mais competência para aumentar a produção e produtividade nacional. Neste ano, a União e as estatais deveriam tocar 651 ações, no valor de R$ 116 bilhões. Considerando os gastos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário até setembro e das estatais até agosto, verifica-se uma soma de R$ 63,3 bilhões. Sempre atuando com restos a pagar de exercícios anteriores, a máquina não consegue se impor, faltam eficiência, eficácia e efetividade nas ações governamentais. Mesmo problema do governo anterior.

Agora, revelado o recente Índice de Atividade Econômica (IBC-Br, do Banco Central), o qual acusou forte retração em setembro: 0,52% em relação a agosto, parece que as coisas ficam mais claras. A retórica não pode vencer a realidade. A economia não está bem.
Reações temperamentais e pontuais (redução momentânea do IPI, por exemplo) do governo fazem aflorar as constantes irregularidades na produção industrial. A indústria nacional vai mal e não se pode garantir um cenário melhor em futuro próximo.

Relativo à questão da falta de mão de obra, a remuneração do trabalho será majorada. Um crescimento em torno de 1,5% do PIB e a manutenção de pleno emprego, faz inferir que um maior crescimento demande mais mão de obra qualificada, o que não existe. Assim, faltarão profissionais e o preço da mão de obra subirá, onerando mais ainda os custos de produção.

No tocante às despesas públicas, elas sobem acima do PIB. Isso também contribui para a elevação dos preços. Para 2013, o governo sinaliza (como sempre faz e fez em anos anteriores) que cumprirá a meta do superávit primário de 3,1% do PIB. Será? Ainda há a desvalorização do Real (tendência de alta da cotação do dólar) e o sempre necessário (e incompreensível) aumento dos preços dos combustíveis, elementos que descontrolam a inflação... Como tiro de misericórdia, nenhuma instituição importante para o mercado projeta a convergência da inflação para a meta em 2013. A recente pesquisa Focus aponta projeção média de 5,4% para o ano que vem.

Há um mundo de incertezas na economia brasileira. As autoridades falam palavras diferentes dos números registrados e dos indicadores. Alegam que o problema é a crise. Aliás, uma palavra que atua como oportunidade para outros países, caso da Rússia, México, Chile, Indonésia, Coréia do Sul e África do Sul que são emergentes e terão avanço do PIB superior ao nacional e inflação menor. Com os Estados Unidos saindo da recessão e a China voltando a crescer acima de 8% em 2013, aparecem alguns pontos claros no horizonte. Mesmo assim, a crise é de todos, mas a competência em geri-la é somente de alguns.

Há uma sensação convergente de que se ouve muito, mas pouco do dito acontece. É como o caso da redução do preço da energia elétrica e da renovação das concessões de energia elétrica, assunto fundamental para o desenvolvimento do País. O preço reduzido não chega ao consumidor, as perdas consideráveis das ações das empresas concessionárias aumentam e um clima de apreensão gera diversos conflitos e infortúnios generalizados.

O que fazer, como e quando fazer? O bonde está passando e o passado não pode ser alegado como fato gerador do desastre que se configura. Urge que estadistas e gestores bem intencionados assumam as rédeas político-econômicas do País. Neste caso, esperar é perder a hora... O momento é de fazer o que as variáveis do jogo exigem, porém os vínculos pouco técnicos estão empurrando as questões político-econômicas abismo abaixo. 2013, assim seja.

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