Maçonaria: A Fraternidade 

 
A meu ver, a questão da “fraternidade” é sempre tratada de uma forma quase mística e muito pouco prática. Ninguém, de fato, parece discutir as virtudes deste ideal, assim ele surge como aceito, como opinião politicamente correta. Entretanto, a prática demonstra o quão distante ele está de fato.
A idéia da fraternidade ou irmandade passou a existir como hipótese a partir da constatação de uma outra questão primeva: o monoteísmo. Ora, se existe um único Pai Criador conclui-se daí que todos os seus filhos são irmãos. Por seu lado, a idéia desta irmandade gerada na origem da criação nos traz o conceito de igualdade. E entre o primeiro conceito e o último surge um terceiro, em verdade uma espécie de ponte de ligação entre os outros dois: a justiça.
Para nos aprofundarmos neste assunto é interessante conduzir este conceito dentro de princípios dinâmicos e interativos, ou seja, dividi-lo em duas faces: uma é a individualidade e a outra a coletividade. Entretanto, as duas não existem isoladamente, mas sim interativamente.
Poderíamos, de início, afirmar que a fraternidade existirá a partir das atitudes dos indivíduos que compõem uma coletividade. Portanto, fica claro que para que exista uma fraternidade é necessário que as atitudes dos seus componentes seja fraternal. Começa a surgir aí o problema, pois toda existência de uma estrutura coletiva irá implicar, de alguma forma, a renúncia do indivíduo em prol do comunitário. Ou seja, tal método de organização social implica limitação da individualidade.
Tal limitação não será ocasional, mas refletirá o estágio de maturidade evolutiva da sociedade através da justiça a ser materializada em código legal, que por seu lado será baseado num determinado estágio de razão e moral que, sem dúvida, dará noção do nível civilizatório dos seus componentes.
Antes de prosseguirmos, introduzamos uma idéia simplificada de bem e mal. Veremos que o bem é identificado no nosso atual estágio evolutivo pelas características que implicam doação da individualidade para a coletividade, enquanto que o mal, pela situação inversa, ou seja, da individualidade que toma para si da coletividade. No primeiro caso temos a generosidade, a bondade, a caridade, a honestidade, a sinceridade etc, enquanto no segundo, a avareza, a maldade, o egoísmo, a esperteza, a hipocrisia, etc. Poderíamos dizer que o homem fraterno é o homem bom. O que significaria dizer que se todos os homens fossem bons, ou seja, se todas as individualidades estivessem voltadas para o bem coletivo teríamos como consequência a fraternidade.
Pois bem, chegando a este termo,  não nos cabe mais explicações, mas sim um convite para a avaliação. De fato não temos fraternidade no mundo, embora ela seja o grande ideal evangélico, assim como principal objetivo a ser atingido pelas escolas filosóficas do pensamento humano. Ou seja, de fato é um ideal, mas não existe na prática.
Ideal por seu lado é um objetivo futuro a ser atingido. A esta altura do texto, alguém pode perguntar, “ E daí?” . E daí que o ideal maçônico também é a fraternidade, o que de alguma forma nos leva a pensar sobre o assunto. Façamos isto imaginando três hipóteses.
A primeira já tratamos, é a de uma comunidade apenas de homens bons, ou seja, de individualidades todas voltadas para o bem coletivo. Teríamos, então, uma fraternidade. Numa segunda, suponhamos haver apenas homens maus, haveria um intenso confronto de individualidades, pois seus objetivos seriam o de suprir os seus egos. E por fim, uma terceira, com homens bons e maus e teríamos os segundos levando vantagem sobre os primeiros. Isto porque teriam objetivos e direcionamentos diferentes.
De fato, homens inteiramente bons ou maus são limites teóricos, pois ao observarmos a realidade o que encontramos são homens intermediários, digamos predominantemente bons ou maus. O homem livre e de bons costumes parece atender o primeiro caso. É esse profano que, ao ser iniciado na maçonaria, passará a cavar masmorras aos seus defeitos (pecados, maldades, vícios,vingança,egoísmo) e erguer templos às virtudes (bondades,acertos,perdão,renúncia). O maçom será uma individualidade trabalhando-se no desbastar do velhos instintos, na busca da espiritualização, ou seja, em prol do bem coletivo.
Trabalhar em prol do todo, entretanto, não significa banir a individualidade, mas sim educá-la ao benefício comum.
E é objetivo da maçonaria lapidar individualidades predominantemente boas e semeá-las na sociedade, visando à sua melhoria a partir da sua unidade constitutiva, a partir da sua ação direcionada ao bem e, portanto, ao ideal fraterno.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 19/04/2009
Reeditado em 20/04/2009
Código do texto: T1548160
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