INTERDISCIPLINARIDADE E AUTORIA: OLHARES E VISÕES INICIAIS A PARTIR DA PSICOPEDAGOGIA.

Prof. João Beauclair PUC- São Paulo e Universidade de Vigo, Espanha.

Resumo:
Este artigo busca organizar um campo de ideias iniciais a respeito da aproximação do conceito de autoria de pensamento com os pressupostos da Interdisciplinaridade, elaborando uma tessitura onde seja possível vinculá-los a olhares e visões presentes no campo psicopedagógico contemporâneo. Situa-se, entretanto, na pesquisa do autor sobre a temática em processo de realização no Programa de Educação Currículo, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com orientação da Professora Dra. Ivani Fazenda. A proposição inicial reside em construir um corpo referencial que facilite a aproximação entre as perspectivas presentes na pesquisa interdisciplinar e sua importância para a apropriação do conceito de autoria de pensamento em Educação, visando melhorias significativas no campo do currículo escolar. Emerge da busca de sentidos e significados para a prática educativa e visa ampliar caminhos anteriormente traçados, em exercícios de autoria vivenciados em outros momentos. Parte, ainda, de revisões conceituais de trabalhos anteriormente publicados e apresentados em outros espaços e eventos, objetivando rever o caminho do vivido e compartilhar movimentos de construção do sujeito-autor, pesquisador de sua própria prática.

Palavras-chave:
Interdisciplinaridade, Autoria de pensamento, Psicopedagogia.

I - Introdução:


Investigar novos modos sobre como as potencialidades da Interdisciplinaridade pode contribuir na formação do sujeito autor, que pesquisa suas próprias práticas é, acredito, imenso desafio na pesquisa educacional e psicopedagógica do nosso tempo presente.
Isso é possível afirmar quando constato que, no percurso de pesquisas interdisciplinares, ainda podemos observar espaços propícios de construção que sejam metodologicamente favorecedores de construções subjetivadas, capazes de fazer emergir tessituras de vida, validando histórias e produzindo sentido.
Ao validar as singularidades presentes na nossa linguagem cotidiana podemos almejar processos de descobertas e redescobertas de talentos, estimulando leituras “alinhavadas e entrelinhavadas”, onde significados e sentidos possam legitimar movimentos de autoria de pensamento.
Em tal legitimação, o tempo e o espaço necessitam ser contextualizados e observados, de modo com que cada um de nós se perceba em contínuo movimento pela busca de sua autoria e autonomia, compreendendo com clareza nossos estilos, nossas modalidades de ser e estar interagindo no campo da Educação, imbuídos de olhares e visões que transitem pela Interdisciplinaridade e pela Psicopedagogia.
O desejo de aprofundar e sistematizar esta temática reside em fundamentar perspectivas metodológicas de atuação da formação inicial de continuada de educadores e psicopedagogos, com o claro objetivo de propor novos instrumentais onde o dinamismo psicopedagógico esteja presente.
Aqui nos cabe pensar sobre a importância de compreendermos os diferentes estilos de ensinar e aprender e, com isso, as distintas modalidades que estão presentes no “fazer aprender saber fazer” de todos nós.
Os princípios interdisciplinares da coerência, da espera, da humildade, do respeito e do desapego (FAZENDA, 2001) conduzem o desejo por tais aprofundamentos e sistematizações .
Será na interlocução do conceito de autoria de pensamento com tais princípios que pretendo dar conta de produzir novas investigações que favoreçam os movimentos necessários para a aproximação do campo da pesquisa acadêmica educacional com as contribuições cada vez mais relevantes que observamos nos últimos anos no campo da produção de conhecimentos e saberes da Psicopedagogia.

II – Alinhavando o trabalho de pesquisa: algumas reflexões.

O trabalho, aqui iniciado, inserido numa perspectiva dinâmica de intervenção educativa, utiliza-se de linguagens diferentes e possui como objetivo básico a abertura para movimentos de construção de significados e sentidos novos para o sujeito, potencialmente autor, de sua prática educativa.
Se percebo que o espaço e o tempo do aprender e do ensinar se constituem como privilegiados momentos de viver a dinâmica de novas aprendências, é vital a busca por novas e diferentes linguagens que possibilitem o elaborar, o analisar e o descrever os modos que deram origem a tal dinâmica.
Acredito ser possível tomar como base as nossas próprias trajetórias em Educação, de modo geral e, em Psicopedagogia, de modo particular, iniciando processos de percepção onde autoria de pensamento - e seus substratos epistemológicos e interdisciplinares-, favorecem ampliações de movimentos de construção de novos processos de percepção sobre o que venha a ser a aprendizagem em nosso tempo presente.
Com a pesquisa em tela, busco investigar sobre os diferentes modos de contribuição que os estudos atuais presentes na Interdisciplinaridade podem favorecer as necessárias mudanças de postura, de olhar e de escuta sobre Educação, vinculando neste processo o caminhar da Psicopedagogia Brasileira e a ampliação de suas contribuições na vinculação de tais estudos.
Na proposição da construção e reconstrução do olhar será o registro de aprendências a principal das atividades didáticas de fomento a autoria de pensamento, modo de elaborar maneiras novas de ressignificar as experiências vivenciadas.

III - A autoria na formação inicial e continuada de professores e psicopedagogos.

Acredito que a formação inicial e continuada de professores e psicopedagogos com a busca de aproximações conceituais anteriormente citadas favorecem o desenvolvimento da autoria de pensamento com as perspectivas psicopedagógicas atuais permeadas por investigações interdisciplinares.
Educação & Psicopedagogia podem mesclar suas intenções e contribuir para o enfrentamento dos desafios presentes e futuros, a partir de uma proposição interdisciplinar e, com isso, estimular o ensinar e o aprender a partir dos movimentos de autoria.
O intercâmbio de informações, conhecimentos e saberes pode colaborar para a construção de histórias de vidas que sejam efetivamente singulares, onde o sujeito possa em seus movimentos de autoria dedicar-se as suas próprias marcas, estimulações e desejos.
A partir dos fundamentos da Interdisciplinaridade e dos fundamentos originados do campo de ação, pesquisa e atuação em Psicopedagogia, é possível propor à formação docente um conjunto de estratégias para aprender, ensinar e acreditar na autoria de pensamento, como possibilidade contributiva aos processos de construção de novos caminhos para a Educação do século XXI, objetivando “revelar também o lado artístico, poético, o lado sensível dos educadores, que nesse exercício de investigar” (1) podem, de fato, se tornarem reflexivos e pesquisadores.
Será no aperfeiçoamento de procedimentos metodológicos, reconstruído com outros esquemas possíveis de interpretação da realidade, que seremos capazes de ampliar todos estes questionamentos a partir das Histórias de Vida, tanto como aprendentes e como ensinantes, em nossas buscas por significações ante nossos movimentos de apropriação e construção de saberes.
Para tanto, somos desafiados a aliar ação, pesquisa, formação e ação transformadora, emergindo como sendo um desafio interessante para ressignificarmos práticas formativas e proposições de teorização e categorização de Histórias de Vida, estimulando estratégias para o desenvolvendo da autoria de pensamento, a partir dos pressupostos da Interdisciplinaridade e dos fomentos propostos pela Psicopedagogia;
Empreender movimentos de construção coletiva de caminhos estratégicos para a ecoformação docente nos campos da Interdisciplinaridade e da Psicopedagogia também será contribuição em tal processo de ressignificação de paradigmas educacionais.

IV - A configuração dos movimentos de autoria a partir da Interdisciplinaridade e da Psicopedagogia: concluindo (?) alguns olhares, algumas visões iniciais.

A construção de procedimentos significativos, objetivos e subjetivos para o desenvolvimento desta pesquisa ressignificará a caminhada percorrida pelo fato de sabermos que a perspectiva interdisciplinar é fruto de um prolongado percurso antes de sua proposição.
A maior pretensão é refletir com maior criticidade os movimentos já vivenciados e, com isso, reconstruir uma história com novas movimentações, ampliando possibilidades de interlocução e, assim, sentir e pensar a partir de revisões bibliográficas, norteando outras possibilidades, criando novas percepções, contextualizando atitudes singulares diante da totalidade e enredando novas idéias com as que se mantém entre nós por meio das teorias clássicas sobre o ensinar e o aprender.
A emergência de novos modos de ser e estar no mundo trouxe, a partir dos meados do século XX, reflexões plurais advindas de diferentes campos do saber, gerando diversidades de pensamento e a reconfiguração dos paradigmas.
A vida, compreendida como uma complexa teia ganha nova vertente epistemológica e os campos teóricos das ciências criam novas significações e sentidos.
Numa concepção mais aberta, necessário se faz pensar sobre temas tais como interatividade e auto-regulação da aprendizagem, e até mesmo resgatar discussões sobre a dialogicidade resultada do estabelecimento de conflitos cognitivos.
A interação do sujeito com o objeto do conhecimento é possível a partir da mediação (ou intermediação), de um outro sujeito ou um determinado grupo: na teia da vida, se a aprendizagem pode ser compreendida como emancipação humana, a interação pode ser pensada como um processo vivo, negociado, sem pré-ordenação, ou seja, criado a partir de processos interativos.
A questão que se coloca para o nosso pensar reside nesta mudança essencial, pois os antigos paradigmas não dão mais conta de criar respostas, ou de encontrar soluções para os diferentes dilemas vivenciados pela humanidade como um todo.
A nós, cabe o exercício da pesquisa e do fomento a autoria de pensamento.
Quem se habilita?

Referencia:
(1) FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. A formação do professor pesquisador: 30 anos de pesquisa. In: TORRE, Saturnino de La (direção). Transdisciplinaridade e Ecoformação: um novo olhar sobre a educação. Triom, São Paulo, 2008, página 159.

Bibliografia:

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BEAUCLAIR, João. Dinâmica de grupos: MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2009.
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BEAUCLAIR, João e SILVA, Ana da. Encontros e trajetórias: autoria de pensamento, percursos de aprendizagens significativas e criatividade. Comunicação apresentada no II Congresso Iberoamericano de Pedagogia Social/ XXI Seminário Interuniversitário de Pedagogia Social. 17,18 e 19 de Setembro de 2007. Allariz (Ourense) y Chaves (Trás-os-Montes). Sociedade Iberoamericana de Pedagogia Social. Universidade de Vigo, Espanha.
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