GESTÃO UNIVERSITÁRIA EM INSTITUIÇÕES PÚBLICAS

As universidades, pelo seu conceito intrínseco, são entidades voltadas a ensino, pesquisa e extensão. Docentes são selecionados, mediante concurso público, para estas atividades que, aliás, já lhes deveriam ser afeitas na própria formação. Fugir delas é trair a formação, ser inadimplente com sua relação de trabalho instituída pelo concurso, no caso das universidades públicas.

Permeando essas três dimensões existe ainda uma quarta, a atividade administrativa. São selecionados servidores com esse perfil, para exercer essas atividades.

Infelizmente, como regra, essa separação não é clara nas universidades públicas. Ao contrário, é até combatida. Existe o sofisma de que a Universidade é uma instituição por demais complexa para ficar apenas na mão de técnicos. Instituições complexas, a nosso ver, são o MacDonald's. Ou a rede Wall Mart. Como exemplos nacionais, temos Marfrig, Weg, Embraco, Votorantin, Gerdau, entre outras. Presentes em um sem número de países, com idiomas diversos e características culturais próprias, legislações específicas e até afeitas a imperativos religiosos, ainda assim não nos consta que sejam administradas por docentes. Vão lembrar alguns que parte são empresas havidas por herança. Sugerimos então que estudem a vida de Marcos Molina dos Santos (Marfrig) que, sem formação universitária, criou uma empresa avaliada em uns 10 bilhões de dólares em 20 anos. Ou dos amigos Werner, Egon, Günter (WEG). Talvez até a do nosso Vice-Presidente da República, Sr. José Alencar e sua Coteminas, não citada acima.

Ouvimos, certa vez, de que as Universidades devem ser administradas por docentes, pois, no futuro, é deles que o alunado se recorda. Uma meia-verdade. Ou meia-mentira, como queiram. A realidade é de que o aluno se recorda – e algumas vezes isso lhe dá até certo respeito profissional – de ter sido aluno ou orientando de determinado docente. Não é comum alguém enfatizar: Eu me formei quando o Fulano era Reitor. Ou quando o Sicrano era Diretor.

Dizem, com indisfarçado orgulho, fui aluno de Fulano, fui orientado por Sicrano. Isso quer dizer que pouco se lhes dá, ao alunado, saber que a universidade tem Reitor, Diretor e outros que tais. Querem é que a atividade administrativa seja adequada e precisa. A importância que dão é que a Universidade tenha docentes de qualidade, reconhecidos por seus pares e que lhes supram de ensino, pesquisa e extensão e dos quais possam, efetivamente, falar com saudade, respeito e admiração.

Esse sofisma, de que administração universitária é para docentes, encontrou, durante muitos anos, postura similar nos hospitais. Administração hospitalar é para médicos. Afinal, são instituições de alta complexidade. Resultado, grande parte dos hospitais administrados dessa forma estão em péssima situação financeira e fiscal. Em contraponto, hospitais de primeira linha, que profissionalizaram sua gestão, estão entre os centros de referência. Vide Moinhos de Vento, em Porto Alegre, ou a Beneficência Portuguesa, em São Paulo.

A Universidade pública não pertence aos docentes. Nem aos técnicos. Pertence, sim, a toda uma população que tem o direito de cobrar resultados, pois é quem paga a conta. Mas, da forma anacrônica que vem sendo gerida serve, na realidade, para que alguns a usem como escada para uma aposentadoria decente. E então obter um segundo emprego, numa instituição privada, onde são obrigados, pelo novo patrão, a cumprir horário e suas obrigações.