Enfrentar os deveres e os dilemas da profissão Docente

Falar em praticar ou esperar comportamentos éticos dentro e fora da escola não é tarefa fácil, nem tampouco, explicada racionalmente apenas no contexto da palavra. Requer, antes de tudo, uma tomada de consciência profunda, dia após dia, dos valores de ontem, de hoje e o que se pretende construir para o futuro, baseando-se em estruturas mentais sólidas com objetivos bem traçados.

Prevenir a violência na escola e fora dela requer conscientização dos alunos de que a violência é passível, por mais que não percebam ou não tenham aprendido em seu ambiente cultural, de medidas disciplinares ou corretivas, baseadas na lei, tanto para eles quanto para os pais. No entanto, esta “lei”, tem que ser compreendida como uma meta de convívio social harmônico e pacífico, que possibilite o alcance dos objetivos comuns a todos os cidadãos, de forma democrática e inclusiva. Cabe, então, aos professores, tentar perceber indícios de comportamentos de violência, seja física ou psicológica, e ter o conhecimento suficiente para saber pontuar tais atitudes no devido momento. É algo que vai além dos programas institucionais vigentes, e requer, antes de tudo, uma construção cívica e moral que perceba a complexidade do convívio entre as diversas classes existentes.

Este trabalho deve levar em conta a contramão dos fatos cotidianos, onde a injustiça social e a violência são divulgadas incessantemente, formando um circo de horrores nas mentes de crianças e adultos. Construir deve significar, antes de tudo, elaborar algo que ainda não existe, com foco em substituir as ruínas de um sistema que já não surte efeito na sociedade e não resolve os problemas eminentes com eficácia.

Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais, como outro dilema ético, também não é tarefa fácil. Pregar igualdade de direitos, condições intelectuais e valorização das diferenças culturais simplesmente não resolvem o problema, quando os professores se deparam com alunos que têm o preconceito como referencial de vida, aprendido e reproduzido dentro de casa com seus pais e familiares. A inclusão, o contato, e a troca de experiências entre estes alunos seria o caminho mais fácil de introspecção de novos conceitos. Conhecer o outro, antes de tudo, como forma de absorver sentimentos de admiração, respeito e ajuda mútua. Na sala de aula, este processo se constrói quando damos voz a quem tem medo de falar, e além do mais, quando valorizamos a sua fala e propiciamos que os alunos tenham contato com o que há de melhor dentro de si, sem medo de julgamentos e considerações infundadas por parte dos colegas e professores.

A participação na criação de regras da vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta, também são ações que, independente das regras institucionais, deve trilhar um caminho de buscas constantes. A negociação de atitudes que remetem ao bem comum, deve ser estabelecida, mas antes de tudo, pensada no tocante a legitimidade de tais ações.

Um contrato com os alunos acerca de normas de conduta e sanções disciplinares deve contemplar todas as possibilidades inerentes aos conflitos humanos, portanto, as tomadas de atitude devem passar pelo prisma da consciência, da justiça, da diplomacia e da efetiva resolução dos conflitos, sem marcas ou rebarbas. Um contrato seria facilmente desfeito, quando fere uns em detrimento do desrespeito aos outros: Tal situação contribuiria, com efeito, para o aumento de conflitos em maior grau, e que muitas vezes não estão nem contemplados nas regras de disciplina. Requer imparcialidade, controle da demanda psicológica em exibir autoridade, e antes de tudo, respeito às diferenças de pensamentos e idéias sobre ética dos alunos, tentando direcioná-los a uma consciência crítica aliada às práticas, para a construção do ambiente ideal.

O desenvolvimento do senso de responsabilidade, da solidariedade e o sentimento de justiça são concepções muito pessoais e se esbarram, normalmente, na concepção do outro. O senso comum é a melhor saída para a resolução de dilemas comportamentais, uma vez que se sobressalta pelo valor e pela concretude dos seus resultados. Assim, um aluno que levanta sozinho uma bandeira que não se sustenta sobre a haste de suas convicções, dificilmente conseguirá impor suas idéias sobre os demais. Mas esta tomada de consciência deve vir acompanhada de proteção, conversas, e objetivos previamente definidos, tentando se esclarecer os prejuízos que tais comportamentos lhe trarão.

O Professor deve se comportar como alguém que não pretende cessar a sua vontade em ajudar na percepção de tais comportamentos por parte dos alunos, e trazer para si as dificuldades, compreendê-las, e só depois propor mudanças de comportamento.

Estes dilemas e competências abordados por Phillippe Perrenoud (2000) – 10 Novas Competências para Ensinar, Armed, constituem parte de um tratado feito por ele, com suas próprias concepções pedagógicas e busca pela construção de um sistema de aprendizado que atenda as demandas de uma sociedade em constante processo de transformação.

Na era da comunicação de massa, com informações que surgem a um clique no controle remoto da TV, a uma palavra chave digitada nos sites de busca da internet, e às poucas palavras faladas ou escritas nos telefones móveis, o homem permanece cada vez mais só. A educação, portanto, não se constrói com informações incompletas, cheias de conteúdos mercadológicos perniciosos, mas sim, dentro do campo acadêmico das discussões e da análise de opiniões e pontos de vista.

A sociedade tal como está, praticamente de costas às mazelas sociais, com seu senso de justiça questionável e facilitadora do contato com os fatos que geram violência, está na contramão da Educação que muitos ainda querem construir. Devemos aproveitar os resquícios de ideais que ainda permeiam as sociedades modernas, para começar a reconstrução, ou a construção efetiva de princípios sólidos na Educação do país e do mundo. Fazer agora, desfrutar agora, e gerar subsídios para uma construção futura, que, com certeza, deverá se basear em novos valores e atitudes, ainda não conhecidos por nós.

Bibliografia:

Perrenoud, Phillippe (2000) 10 Novas Competências para Ensinar, Artmed.

Antonio Marques de O Santos
Enviado por Antonio Marques de O Santos em 27/07/2010
Reeditado em 27/07/2010
Código do texto: T2401644
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