APRENDER A SER PAIS

Os pais são os primeiros e os principais educadores. No entanto estarão os casais preparados para ajudar e orientar os filhos no sentido de uma vida responsável e feliz? Ou seja, preparados para assumir, adequadamente, a função de educadores, no acompanhamento pedagógico dos seus filhos enquanto crianças e adolescentes?

Há instituições vocacionadas para essa tarefa: os infantários, os jardins da infância, os vários ciclos escolares, o ensino secundário, ou seja a Escola, oficial e privada. Mas é também a Escola que espera dos pais o desempenho do papel de «encarregados de educação». Assim, também eles são agentes educativos, tanto como os próprios professores e auxiliares de educação.

A diferença é que, enquanto os professores têm um curso de formação de três, quatro ou cinco anos, os pais não recebem qualquer formação. Ou seja, não lhes é dada a possibilidade de aprenderem a ser pais.

E o que acontece? Geralmente os pais, confrontados com a sua tarefa educativa, apenas reagem aos modelos que os precederam. Ou reproduzindo o método pelo qual foram educados pelo seus próprios pais, ou alterando esse método(educação por contraste) se se considerarem vítimas de uma educação deficiente que não querem dar aos filhos. Mas, em ambos os casos, trata-se de mera reacção, sem rigor, sem fundamentação, ou seja, à margem do saber científico.

É certo que há pais que procuram documentar-se, lendo obras pedagógicas, de divulgação,(embora algumas de valor duvidoso),

com o objectivo, louvável, de obterem informação para serem bons pais. É a via autodidáctica, mesmo assim quase sempre relativamente precária.

Então? Será que os pais não têm o direito (já que a necessidade é mais do que óbvia) a uma formação específica para o exercício da paternidade/maternidade? Sim, claro! Todavia, as Instituições Educativas que formam os professores(referimo-nos à situação do nosso país (Portugal) evidentemente) votaram ao esquecimento os pais como educadores, vindo no entanto, repito, a chamá-los à responsabilidade activa e interventiva, na qualidade de «encarregados de educação».

Quando eu leccionava numa Escola Superior de Educação, alertei repetidas vezes para esta lacuna do nosso sistema educativo. Propus cursos pós-laborais, seminários, colóquios, debates, para uma formação contínua dos pais. Porém, com sorrisos cépticos, respondiam-me: «isso é um luxo», «é muito dispendioso e não há verbas», «o Ministério da Educação tem outras prioridades», «é uma utopia»... E este meu sonho duma Escola para Pais ainda está por concretizar.

Contudo, se o Estado se demite de uma tal responsabilidade, talvez a Igreja possa fazer alguma coisa para colmatar essa falta.

Dir-me-ão: mas se, nas igrejas (refiro-me às comunidades cristãs evangélicas), até mesmo os professores da Escola Dominical são, na sua maioria, autodidactas, ou seja sem formação psicopedagógica para o seu cargo, se nem para eles foi ainda encontrada uma estratégia formativa, (excepto, em alguns casos, pequenos cursos para professores de crianças), se continuamos a «ouvir» professores a fazerem exposições e/ou pregações, em vez de orientarem lições, de modo a favorecerem a aprendizagem dos alunos...

É certo que esses professores dão de si o melhor, fazendo o que podem e sabem, com muito boa vontade, esforço e até abnegação, o que é de elogiar, sem dúvida. Mas quando teremos, na Escola Dominical, professores devidamente preparados?

E se, nas igrejas, ainda não há, (que eu saiba) Escolas para Professores, será que posso «aventurar-me» a propor Escolas para Pais?

Mas porque não? O que nos falta? Não temos (se não localmente ao menos regionalmente, ou até a nível nacional) um bom número de professores profissionalizados, a trabalharem em escolas, nos vários graus de ensino? Esses professores, membros de igrejas, possuem formação psicopedagógica e têm, alguns, uma larga e rica experiência como docentes. Conhecem os mecanismos da aprendizagem, da motivação, da relação professor/aluno, estudaram metodologias e psicologia do desenvolvimento.

Porque não organizar (estruturar, programar, mobilizar, promover), com eles e com outros técnicos especializados na área educativa, as tais Escolas de Formação de Pais? Nas igrejas, talvez aos Domingos, na hora da Escola Dominical, durante um trimestre por ano, ou em outros dias e horas, periodicamente, por exemplo no mês da Família (Maio), em Acampamentos, em Instituições Teológicas, a nível local, regional, nacional... conforme as possibilidades e disponibilidades, de forma bem coordenada, com qualidade, numa perspectiva não de dar aos pais a «matéria do curso» como uma receita, mas de trabalhar com os pais, participativamente, no sentido do melhor aproveitamento dos instrumentos pedagógicos. Ouvindo-os, discutindo com eles os problemas, dialogando, fornecendo pistas, num processo de formação permanente e interactiva.

Será um sonho irrealista? Uma utopia impraticável? Julgo que não. E penso mesmo, que da concretização desse «sonho» depende em grande medida o presente e o futuro das nossas crianças e adolescentes, a prevenção de múltiplas dependências (não só tóxicas!), e de muitas frustrações. Por outro lado, esse é o caminho para a aquisição de espírito crítico, de autonomia, de capacidade analítica e experimental, de liberdade responsável para efectuar escolhas, enfim, para a autoconstrução de Mulheres e Homens, tendo Jesus de Nazareth como máxima referência e os valores cristãos como supremo paradigma.

Leiria, Agosto, 2010

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 14/08/2010
Reeditado em 14/08/2010
Código do texto: T2437151