Estudar, ensinar, fazer filosofia

Por Ismael Costa*

É inevitável que estudar, ensinar ou fazer filosofia atualmente exija que percorramos os mesmos caminhos que os que nos antecederam percorreram. No entanto, é preciso termos cuidado, pois, tal percurso pode nos tornar meros eruditos em filosofia ou quem sabe especialistas em um determinado filósofo.

Conhecer toda filosofia clássica ou ser especialista em determinado filósofo não é ruim nem antiacadêmico. Porém, daí extraído, o conhecimento adquirido nesses processos não “só tem” como “deve” ser socializado, de tal forma chegando ser concreto, ou seja, para o conhecimento ter e dar sentido à nossa existência, ele tem que ser “papável” socialmente, caso contrário esse conhecimento torna-se inútil.

É notável que os filósofos clássicos só fizeram filosofia porque se deteram nos problemas, na história e na sociedade de sua época. Completamente diferente do que temos hoje, é claro, a própria Grécia não é mais a mesma. Precisamos sair da estagnada apreciação que fazemos à filosofia clássica.

Descartar toda história da filosofia é o caminho? Não! Começando a ter a filosofia como fonte transformadora de vida, dando a todos a condição de responsável pela sociedade que temos, talvez seja o primeiro e bom passo a ser tomado, pois, o conhecimento nos torna responsáveis.

Estudar, fazer ou ensinar filosofia é caminhar por caminhos já explorados, sem perder a coragem de traçar seus próprios caminhos.

(Ismael Costa)

Obs.: Esse texto foi inspirado no escrito Filosofia, docência e transposição didática II, do professor Wilson Correia.

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• Acadêmico do Terceiro Semestre Letivo do Curso de Licenciatura em Filosofia do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Meu comentário

Ismael Costa, parabéns pelo texto. Penso que você fez o que em filosofia é muito bem-vindo e desejado: se um texto de alguém me fez pensar, então eu me dedico a registrar meus pensamentos em resposta a esse texto. Esse é o diálogo possível. Foi assim que Aristóteles dialogou com Platão. É dessa maneira que os filósofos originais fazem filosofia: pensando por si próprios.

Detalhe: não precisamos escrever um texto que seja visto como um primor, algo parecido a um ouro filosófico. Comecemos como em quase tudo na vida: na simplicidade e na autenticidade do que somos e temos. Sem pretensão, mas sendo o que somos, então podemos ir aperfeiçoando nosso modo de pensar e de expressar nosso próprio pensamento.

Platão não nasceu o Platão dos clássicos que conhecemos. Ele aceitou fazer um percurso curricular que o levou ao lugar que hoje ele ocupa. Só de uma coisa ele não abriu mão: da tarefa de pensar por si mesmo, de assumir o desafio da autoria e de expressar o que ele pensava. Assim também deve ser cada um de nós que estuda, ensina e pretende fazer filosofia.

Não desista nunca, meu caro! Não tema os que vão te desencorajar: pode ser que sua atitude diga a eles que eles também podem quando, na verdade, eles não querem esse poder e, por isso, venham a desqualifica-lo. Agarre-se a si mesmo e àqueles que, de um modo ou de outro, querem vê-lo produzindo filosofia para fazer a diferença e para enfrentar os problemas atuais, os dilemas que nos sufocam e a vida atual que nos pedem sentido e realização.

Obrigado pela contribuição!

Wilson Correia.