Filosofia: Produzir ou Reproduzir?

Joacy Santos Malta*

A filosofia caracteriza-se, em conceito, como sendo a busca pela sabedoria ou pelo conhecimento, ou seja, etimologicamente filos = amizade/amor e Sofia = sabedoria, mas, atualmente, este conceito vem sendo violado e, principalmente, pelas academias. O ensino e aprendizagem da filosofia tem muitas e muitas vezes se limitado a meras interpretações e reproduções de pensamentos, infringindo literalmente a filosofia e toda a sua essência no decorrer da história. Produzir tornou-se algo quase que inexistente nas universidades contemporâneas.

Há uma grande diferença entre reproduzir algo, pensamento, palavras..., e produzir. Pode-se dizer que, historicamente, apenas a produção cabe ao campo filosófico conforme o impasse produzir/reproduzir. A análise e as leituras dos antigos não é algo, em si mesmo, mau. Entretanto, o uso dessas análises e leituras pelos atuais é inaceitável. Prendem-se meramente à reprodução dos pensamentos dos antigos e, muitas vezes, ainda cometem o crime de tentarem resolver ou dar solução para os problemas atuais com base nos pensamentos antigos.

As universidades pregam, a todo o tempo, a construção e produção pelos discentes. Entretanto, efetivamente, sua política não se caracteriza como elas dizem ser. O imperativo especifico existente nas universidades é um bom exemplo, ou seja, para que se tenha uma boa carreira acadêmica é preciso especializar-se em determinado autor. Isto significa reproduzir o que determinado pensador deixou em dado momento histórico, criando-se, assim, prisioneiros de mortos. A principal metodologia nas universidades, principalmente no campo da filosofia, é o método hermenêutico, leitura e interpretação, sem abrir em momento nenhum aspas para produção. Não há o parto das idéias (Sócrates), apenas reprodução das antigas, nascidas em um momento histórico propício.

Immanuel Kant diz que não há como aprender filosofia, mas somente a filosofar. Em outras palavras, em filosofia não há como reproduzir, pois assim deixa de ser filosofia, mas, sim, produzir, construir, criar novas idéias que caibam ao modelo de sociedade hoje existente, ou seja, este é o verdadeiro filosofar. O conceito de filosofia é totalmente violado, na medida em que apenas há uma reprodução. Os antigos e seus pensamentos devem, sim, ser consultados, mas não para reprodução e, sim, como base para um surgimento de uma nova idéia, de um novo pensamento cabível ao modelo de sociedade contemporâneo.

Paulo Rudi Schneider deixa isso claro ao afirmar que, “a filosofia, como sistema a ser somente ensinado para fins de uso estratégico e eficiente nas diversas perspectivas da vida, invariavelmente significou traição ao seu conceito” (cf. Schneider, 2002, p.67).

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* Acadêmico do Terceiro Semestre Letivo do Curso de Licenciatura em Filosofia do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.