Aprender, ensinar, fazer filosofia?

Wilson Correia

Aprender, ensinar e fazer filosofia exigem que:

1 Deixemos claro para os alunos que as práticas de aprender, ensinar e fazer filosofia exigem que ousemos ir além da hermenêutica e da exegese dos comentários, interpretações e reflexões que tentam explicar o já originariamente explicado pelo próprio autor do texto filosófico dado ao estudo analítico em nossas salas de aula.

2 Entendamos que concordar ou discordar, o modo mais indicado de fazer filosofia, só é possível se elaboramos a defesa das teses que nos garantem num sentido ou noutro e o façamos de maneira clara, concisa e objetiva, cuidando para que as razões das verdades defendidas possam ser compreendidas por outrem.

3 Esforcemo-nos para ler o texto filosófico, trabalhando para compreender o discurso como se o lêssemos com os olhos do próprio autor, pois para concordar ou discordar precisamos, antes, compreender, sob pena de distorcermos as idéias e conceitos estudados.

4 Que, antes da memorização, retenção e mimetismo repetidor, os professores de filosofia criemos condições de trabalho filosófico para os alunos de modo a privilegiar a produção criativa e criadora, com vistas para o enfrentamento dos problemas atuais que nos afetam, e não apenas o mergulho em preciosismos de erudição sobre o já vivido e já pensado.

5 Saibamos que ensinar e aprender filosofia, utilizando obras introdutórias, históricas, especializadas e originais são práticas que requerem entendamos que a abordagem filosófica das coisas pode se dar pela via histórica, problematizadora e temática, e não somente como história unívoca e linear que envolvem autores, obras, linhas e correntes filosóficas.

6 Superemos as dicotomias entre licenciatura e bacharelado e o distanciamento entre filosofia e pedagogia, pois o ensinar e o aprender a fazer filosofia exigem que lancemos mão de informações, conhecimentos e saberes produzidos nas áreas que pensam o processo da educabilidade humana com especificidade e com recursos que a filosofia sozinha não possui.

7 Tomemos a iniciativa de levar a público o que produzimos a título de saber filosófico em nossas academias, não temendo o debate que deve motivar o ensinar, o aprender e o fazer filosofia, passando ao largo, quando necessário, das exigências tecnicistas e quantitativistas dos órgãos oficiais que acabam por promover uma prática de pesquisa em filosofia ao molde do ermitão solitário e que não dialoga com ninguém.

8 Trabalhemos no sentido de desmistificar o ensino de filosofia, evitando tratá-lo como assunto de iniciados, hermeticamente dirigido a gênios ou às mentes especiais, mas, privilegiando a comunicação, lançar mão de informações introdutórias, históricas e especializadas no trabalho de conduzir o processo de ensino e aprendizagem em filosofia. A motivação para filosofar está nos mais variados lugares e, privilegiadamente, nas próprias pessoas.

9 Valorizemos o entendimento de que todo autor escreve para ser compreendido e que explicações e “leituras” sobre originais (a leitura nietzscheana sobre Sócrates, por exemplo) podem, muitas vezes, produzir a confusão em vez de compreensão, pois, baseados na igualdade das inteligências, filósofos clássicos não precisam de atravessadores que se interponham entre eles e os estudantes de hoje.

10 Visemos à superação de métodos de produção filosófica assentada em formas de fazer filosofia herdadas do tomismo, do estruturalismo e do positivismo, por exemplo, promovendo novas concepções metodológicas que privilegiem, não a mera reflexão ou a linearidade na produção, mas o novo e a criação filosófico-conceitual.

A cada homem e a cada mulher cabe o desafio do tempo vivido no presente. Que o passado possa ser visto como aquele mestre que nos dá as lições e nos instiga a vivê-las por nossa própria conta. Viver enterrado no passado ou apenas no sonho da vida futura são apenas modos de deixar de viver, pois é o presente o que pede a nossa pertença.

Então, que ao aprender, ensinar e fazer filosofia, não nos esqueçamos dessas ideias.