O valor da relação pedagógica

Wilson Correia*

Ao longo da minha vida estudantil, experienciei variadas relações pedagógicas.

Convivi com um professor, por exemplo, que se recusava a indicar livro de leitura para seus alunos. Ele tinha medo de, com isso, estar interferindo e tolhendo o poder de escolha e a liberdade do estudante.

Uma outra professora, ao contrário, não permitia que nenhum de seus aprendentes se permitissem a experiência de escolher um livro de leitura por conta própria. Para essa ensinante, valia, apenas, a bibliografia indicada por ela, da qual o escolar não podia nem pensar em arredar pé.

Não precisa ser especialista em educação para perceber, de pronto, o equívoco que desqualifica essas duas atitudes docentes, ambas, humana, didática e pedagogicamente ingênuas, lastreada no senso comum educacional.

O primeiro professor, ao abrir mão da oportunidade de dar notícia sobre a existência de uma obra que poderia ser importante para a formação do sujeito com o qual se relacionava, jogava fora a ocasião de reforçar e significar o vínculo humano que a convivência pedagógica oferece. Empobrecia essa relação por rejeitar a partilha, a troca de experiência, exatamente o que a interpessoalidade pedagógica requer. Com isso, o processo ensino-aprendizagem é que saía perdendo.

A segunda professora, ao impor as leituras que eram solitariamente decididas como as únicas possíveis à formação dos novatos das salas de aula em que aquela mestra atuava, perdia a ocasião de, também ela, estabelecer relações de troca sobre aprendizagens importantes com os alunos. Essa professora pauperizava a vinculação pedagógica, não formando para o exercício do poder de escolha, para a autonomia e liberdade. De modo diferente, a situação real de ensino e aprendizagem é que era apequenada.

Esses docentes esqueciam que os modos de elaborar, subjetiva e objetivamente, as informações, transformando-as em conhecimentos e saberes, é algo pessoal e intransferível: cada sujeito humano tem o seu estilo ao estudar e aprender. Assim, parece ser ilusória a crença de que se eu ensino “A”, o estudante captará e manterá o sentido de “A”, com uma linearidade e automaticidade sem mais, nem menos. Porém, a coisa não é bem assim.

O que vale, então, é a relação, a vinculação e as trocas pedagógicas e epistêmicas que professores e alunos podem vivenciar nesse relacionamento. Não faz sentido nem a atitude de abandonar o estudante à própria sorte nem a decisão de controlar de maneira asfixiante o que o estudante deve ou não executar a título de atividades de aprendizagem.

O saudável ensino se vale de proposições, nunca de imposições. Ele se faz, ainda, de mutualidade, envolvimento, liberdade e responsabilidade compartilhada. Isso exige saudável relação pedagógica, base para todo ensino conseqüente e para a aprendizagem significativa que podemos experimentar.