Crer é ter a verdade?

Wilson Correia

Nietzsche disse em “Humano, demasiado humano” que “Uma crença forte demonstra apenas a sua força, não a verdade daquilo em que se acredita”. Não é pouco o número daqueles que se filiam entre os aferrados a crenças fortes; nem por isso, portanto, verdadeiras e seguras.

Fundamentalismos religiosos, políticos, étnicos, entre outros, balizam o comportamento de gente que se reveste de seus pretensos dogmas perfeitos. Em nome deles, excluem, espezinham e aniquilam tudo o que não pode ser perfilado como harmônico aos princípios que, julgam, expressam evidência, certeza e correção.

A crença assim configurada merece ser levada ao tribunal da razão e julgada sob o crivo da dúvida, da pergunta, da problematização. A verdade que precisa de entender tudo como errado ao seu redor não passa de uma doença e a verdade que precisa provar que o mundo inteiro está na mentira já é, em si, a pior das inverdades possíveis.

Por que? Porque, entendida dessa maneira, essa verdade, como se vê, quer-se como absoluta, aquela da qual Raul Seixas disse ter aprendido a desconfiar já aos doze anos de idade. Fez bem o maluco beleza. Melhor é acreditar na verdade como expressão da relação entre seres e entes que se igualam, fora de vínculos de servidão.

Isso é possível? Penso que sim. Se é demasiadamente humano querer-se portador de uma verdade para jogar todo o resto do mundo na mentira, também é bastante humano querer que nossas verdades plurais resultem de nossas interações. Ou algum humano entre nós pode se ver legitimado para tomar o lugar de um verdadeiro deus, acima dos humanos e pobres mortais?