Mini Radiografia Social

Das situações que interferem com a vida do homem talvez seja a educação a que mais faria jus à conhecida idéia de que somos um produto do meio. Educação entendida aqui sob o ponto de vista da adquirida nos chamados bancos escolares.

Podendo esses bancos escolares serem confundidos com os bancos das praças, das ruas ou até mesmos os dos nossos lares. A educação começaria então em casa.

Partindo do princípio de que estará intrinsecamente ligada à formação moral de uma pessoa, a educação final do adulto (ainda que em transformação) dependerá dos hábitos adquiridos nas fases da infância e da adolescência.

São conhecidos a rebeldia, o atrevimento e até mesmo as agressões, por parte dos alunos, de que são vítimas hoje os professores em salas de aula. O que tanto pode ocorrer em colégios públicos quanto em particulares. No primeiro caso o alunado provem de camadas de baixo ou baixíssimo poder aquisitivo, moradores de populosos conjuntos habitacionais ou favelas, quase sempre submetidos à influência do poder do tráfico de entorpecentes. No segundo caso os alunos são oriundos de diferentes setores da classe média, com níveis de vida diferentes dos alunos focalizados no primeiro grupo (o dos colégios públicos), mas muitas vezes com as mesmas marcas ou sintomas de hábitos cuja aquisição se tornou abrangente. Dentre esses a violência.

Não podemos responsabilizar os jogos eletrônicos ou as academias de artes marciais pelas atitudes tomadas por nossos filhos em muitas circunstâncias. Mas é inegável que pode haver alguma ou muita influência quando não há uma adequada orientação em casa ou por parte dos professores nessas academias de arte milenares.

Uma pessoa que tenha sido criada jogando bola de gude, brincando de pique-bandeira, soltando pipa ou balões nas inofensivas festas juninas de há quatro ou cinco décadas dificilmente teria a mesma formação que uma outra criada na frente do computador, sob a influência de jogos eletrônicos que muitas vezes nada têm de inofensivos.

A atividade de soltar balões, motivo de inspiração para muitas canções juninas, hoje é considerada crime. Claro, porque não há mais tantas áreas baldias como havia, fruto de uma especulação imobiliária que determina a construção de imóveis em qualquer espaço que não tenha ainda sido aproveitado. Então os balões caem hoje sobre casas ou prédios, sendo iminente o risco de incêndio.

As motocicletas atuais (ou simplesmente motos) trazem um dispositivo que previne o condutor contra um acidente fatal que possa ser provocado por uma linha de pipa com cerol (elemento cortante). Antes a linha cortava quando muito o dedo, e não o pescoço de ninguém.

O mundo mudou. A população cresceu. No nosso caso, de noventa milhões (“em ação”) em 1970 pulamos para mais de duzentos milhões agora. Tudo isso sendo acompanhado por transformações sociais nem sempre bem entendidas, dissecadas ou explicadas. É como se fossemos vivendo a nova ordem sem termos bem uma noção mais clara de como chegamos a ela.

Apesar de toda a revolução sexual, das camisinhas de Vênus (os preservativos), do acesso fácil a cenas de sexo na internet, mulheres continuam sendo estupradas, sexo com menores em tenra idade ainda acontece e a pedofilia é praticada até dentro dos muros eclesiásticos.

Uma tentativa de radiografia social como esta, na qual necessariamente se inclui a educação, nos mostra que nossos problemas continuam mais ou menos os mesmos, apesar das aparentes alterações verificadas. Que se tornaram exacerbadas pelo aumento populacional.

A miséria não conseguiu ser erradicada, na medida em que a distribuição de renda ainda não é para todos. Sendo maior o contingente, maior será a miséria. E todos os problemas a ela inerentes ganharão maior dimensão.

Contudo, ainda que um poder aquisitivo maior estivesse ao alcance da maioria da população, isso não garantiria melhores níveis de educação. A melhor educação, latu sensu, dependerá de uma orientação calcada na reflexão que pudermos fazer a respeito de quem ou do que somos na vida ou do que conhecemos de nós mesmos, levando-se em conta a nossa transitoriedade no planeta.

Vamos à escola, aprendemos a ler e a escrever, estudamos muito, diversas ciências, tipos de linguagem, modelos matemáticos, diferentes modalidades artísticas, etc., mas pouco sabemos sobre a vida. Essa deveria ser, ao longo de todo o processo de aprendizagem, incluindo o acadêmico ou os mais sofisticados, a matéria de maior relevância nas escolas e universidades. Estaria certamente incluída ou talvez pudesse ter o pomposo nome de Ciências Humanas, que aliás já existe. Mas não sei se nas Ciências Humanas que existe ocorre a preocupação em detectar as influências que os inúmeros aspectos da vida provocam no ser humano.

Não se trataria de ensinar a vida. Continuo, a propósito, acreditando que ninguém ensina nada a alguém. No máximo leva-se alguém a aprender alguma coisa. A matéria VIDA levaria o aluno a experenciar, identificar, refletir, reagir e se posicionar diante das diferentes situações com que poderia interagir durante o seu período de existência. Tudo com o objetivo maior de entender a si próprio e o mundo em sua volta.

Rio, 28/09/2010

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 28/09/2010
Código do texto: T2524955
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