A Filosofia na América Latina: como seu desenvolvimento se evolui.

1- Introdução

Um dos expoentes da Filosofia no Peru é Francisco Miro Quesada, nascido em Lima em 1918, se notabilizou por ter iniciado no país a lógica e as correntes epistemológicas contemporâneas. Seus trabalhos mais notáveis tem sido a Filosofia e o Jornalismo, tendo enriquecido na criação da Sociedade Peruana de Filosofia, cuja presidência exerceu. Algumas de suas obras são Despertar e projeto do filosofar latino-americano (1974) e Projeto e realização do filosofar latino americano (1981). Na primeira, sustenta que no filosofar latino-americano há quatro gerações: a primeira, dos “patriarcas” ou “fundadores”; a segunda, dos “forjadores”; e a terceira conhecida como “geração Técnica”; e a quarta, provisoriamente, a última. Vale destacar que Miro Quesada fala de filosofar e não de Filosofia latino-americana: “O projeto latino-americano de filosofar pode precisamente definir-se como a decisão de transformar um mero filosofar em um filosofar que dê por resultado uma Filosofia autêntica” (1974, p.25). Esse estudo esclarece como a terceira geração da Filosofia latino-americana se dividiu em dois grupos: um regionalista e outro universalista.

Outro ícone da Filosofia latino-americana é Francisco Romero (1891-1962), nascido na Espanha, ainda novo mudou para a Argentina, onde passou toda sua vida. Foi escritor e professor desenvolvendo pesquisa destinada a introduzir grandes figuras da Filosofia européia contemporânea, como Dilthey, Bérgson, Hussert, Sheler, Hartmann e Heidegger. Além de divulgar estes autores em suas aulas, Romero criou na revista Nosotros uma seção de informação filosófica na qual comentava autores e doutrinas desconhecidas na América Latina até então, como Dilthey e a Filosofia da vida e o historicismo; Husserl e a fenomelogia: Bérgson e o intuicionismo, etc. Algumas dessas notas foram elogiadas por importantes personalidades do mundo filosófico europeu.

SOCIEDADE

Diversos pensadores latino-americanos arriscaram, no decorrer do século XX, criar uma identificação local para o forjamento de pensamento e reflexões sobre as crises de sua localidade.

Apesar de estarmos próximos a vários países latino-americano, no tocante a atividades filosóficas desenvolvidas por esses países é quase absoluto nosso desconhecimento. Prosseguimos a criar Filosofia inspirada pela Europa sem dar importância ao nosso continente. Constatamos que quase não existem livros que tem por objeto mostrar o trabalho filosófico da região na medida em que analisamos os artigos filosóficos que temos. Semelhantemente quando damos uma visada sobre os muitos cursos de Filosofia no Brasil: poucos são os que contêm em seus currículos disciplinas filosóficas destinadas ao pensamento filosófico na América Latina. Observa-se que em alguma ao menos matéria que trate da Filosofia no Brasil são achadas.

Ao buscar descobrir em nossas instituições às que são voltadas para o pensamento filosófico encontramos corrente de pesquisa destinadas a filosofia norte-americana, alemã, francesa etc., contudo marca que mostre desassossego com o que se compreende No Brasil e vizinhanças. Isso não quer dizer que no Brasil não tenha filósofos empenhados na Filosofia no continente Americano. De maneira alguma, poderíamos falar entre eles Giuseppe Tosi, Gabriel Lomba Santiago, José Luiz Ames, Roque Zimmermann, José Sotero Caio, Ricardo Timm de Souza, Luigi Bordin, Antônio Rufino, Antônio Sidekum, Jesus E. Miranda Regina, Sírio Lopes Velasco.

O desafio que se mostra desafiador é: o que validaria tão negligência? Embora distinguimos o fardo e a relevância da tradição européia nessa área do saber, não seria correto ter a Filosofia como ponto de partida da própria vida? Ficaríamos sujeitados a criar Filosofia da Filosofia? Com certeza não há um meio de criar Filosofia sem olhar para a tradição, mas isso não legaliza negligenciar o que é nosso, o mundo que nos cerca.

Os patriarcas foram os mestres iniciantes do pensamento no nosso continente. Buscavam, depois da segunda metade do século XVIII, de maneira rude, e com poucos recursos, passar o contexto do pensamento europeu ao que diz respeito ao campo filosófico. Não possuíam conhecimentos intensos do objeto e de fundamentos tradicionais em que estes pensamentos tinham sido elaborados, e menos ainda eram preparados para perceber os mecanismos nessa trama mais ampla em que a definição filosófica se desenvolveu. No mais, nem sempre tinham conhecimento dos dialetos original dos textos que liam, encostavam-se a traduções ruins, desconheciam o sistema filosófico que davam sustentáculo aos filósofos que analisavam. Dessa maneira, faziam falta o meio racional e técnico que permitem uma investigação correta do legado filosófico.

Desde esse ponto de vista, instruíam, mas não entendiam bem o que ensinavam: não por falha de seu potencial intelectual, mas pelos limites culturais que não lhes permitiam prosseguir, e não tinham como evoluir a uma compreensão formal daquilo que era lido e ensinado. Entre os patriarcas, segundo Quesada, pode-se constatar, entre outros: Farias Brito (Brasil), Deustua (Peru), Molina (Chile), Korn (Argentina), Vaz Ferreira (Uruguaio), José Vasconcelos e Antonio Caso (México).

Neste cenário, todo o trabalho de pensamento se sintetizava a educação, com o propósito de engajar os discentes as novidades filosóficas. Eles não tinham a ambição de ser filósofos, não ambicionavam se comparar aos famosos mestres europeus da razão, tinha apenas como objetivo um simples programa pedagógico, ou seja, “(...) preparar os estudantes para que possam, alguma vez, sempre que trabalhassem os esforços necessários, ler os grandes mestres da Filosofia ocidental, e, sobretudo, os mestres da época que estão criando Filosofia, os que estão levando a Europa e o mundo inteiro para os novos e audazes rumos. Este ensino e esta aprendizagem constituíam a primeira atividade filosofante de nossa América. A matéria de que se nutre: Europa. Seu modelo: Europa. Sua tradição: Europa”.

A maneira rude de se chegar á Filosofia do velho continente gerou um mal-estar e ocasionaram aquilo que Quesada denominou de “experiência do desenfoque”, significando a aproximação como os termos de um modelo de se tomar posse daquele sistema de filosofia, e que criará uma aliança com a seriedade, como um mergulho mais profundo na restauração da história da Filosofia perdida. Com isso, se espera ir de um entendimento normativo da literatura do pensamento, procurando os alicerces de maneira cautelosa. A partir disso, não basta apenas à pesquisa da modernidade do pensamento, más é necessário localiza-la em momento histórico maior no qual ela se encontre na questão do seu sentido e razão de ser. A este movimento o autor chamou de “recuperação anabásica”, um tipo de entendimento da Filosofia em sua totalidade e dos sistemas em seus movimentos vital. Com esta restauração e o empenho a ela destinado “instala-se o pensamento latino-americano na história do pensamento ocidental” (p42). Este foi o que se mostrou investigativo e que se mostra para uma segunda geração de filósofos da região que ambiciona ir mais do que seus professores e mestres.

Estes lapidadores pretendiam fazer da Filosofia, semelhante a qual é feita no velho continente, com as inflexíveis e exigentes solicitações dos que promove um ambiente inovador para o trabalho racional. Com isso, achamos entre outros pensadores de todos os paises da América Latina.

Desenvolvimento Dinâmico

Para estes pesquisadores, a Racionalidade não é algo terminado, findado, mas está se concluindo, e passam a buscar um meio de realização peculiar. E o que é fazer esse tipo de Filosofia autêntica? É fazê-la como os europeus sempre fizeram. Para Francisco Quesada, a primeira criação filosófica latino-americana autêntica foi estática. Segundo ele, “ao sair da ingenuidade patriarcal, vivendo a experiência do desenfoque, os primeiros discípulos só têm uma ambição: atingir uma compreensão cabal da Filosofia européia. Esta se ergue como uma montanha gigantesca que se contempla distante e cujos cumes tem de conquistar. Compreender a fundo os grandes sistemas filosóficos que produziu o ocidente é labor difícil, porque exige não só uma especial habilidade, mas uma rigorosa preparação. Fazer Filosofia autêntica tem por isso, em um primeiro momento, um primeiro sentido que poderia chamar-se estático, porque não pretende ir além da mera assimilação”.

Mas para avançar no pensamento estático e compreensivo, desenvolveremos o dinâmico. Ao refletir os maiores temas e as problemáticas do pensamento, estamos criando os meios de transcendê-la, de ir um pouco mais além. Nesse sentido, “todo compreender é assim um repensar e todo repensar é um pensar por si mesmo”, de acordo com o filósofo peruano.

Uma percepção surge neste processo restaurativo que englobou os pensadores latino-americanos, o complexo de inferioridade, e este se lança com a segunda geração de filósofos, sentimento que não era visto na época dos patriarcas. Miro Quesada diz que o citado sentimento nasce quando iniciamos a comparação, a procurar ser como o outro, a notar a superioridade daquele que acatamos como modelo. Esta inquietação não acontecia na época dos patriarcas porque não estavam ligados a ambições e pretensões da segunda geração, os forjadores.

Demais Gerações

Contudo para a essa próxima geração, este entendimento será mostrador de uma procura, de um projeto, e ele que movimentará o dinamismo do pensamento na América e em sua busca de asseguração, de sobrepujo da insignificância e inferioridade daquele que se mostra pequeno, concebendo um momento ilusório, pois não aceita seu peculiar alcance. Assim, projeta-se um mundo fantasioso e irreal onde se quer existir uma preponderância e supremacia que de fato não existe. Trata-se de uma evasão do real.

No caso seguinte, na prática da entrega, ocorre uma distinção da superioridade do outro, e a revelação de uma impossibilidade concreta de se assemelhar a ele. Adotando a sua pequenez, limita-se a ela, e busca existir envolvido desse movimento. Portanto, não há crise. Por final, temos a emulação, em que se condicionam os termos, a inferioridade, mas se crê que não está julgado a existir nela e postula em um momento vindouro viável que poderá ser semelhante ou superar as circunstancia existencial.

Da terceira geração, em tendência afirmativa, faz parte uma coligação pequena, mas muito compacta e unida. Eles criam que o meio acadêmico voltado ao pensamento se componha de um filosofar que leva o individuo em seu momento vivenciado. Ou seja, não se deve refletir filosoficamente fazendo Filosofia da Filosofia, mas da própria vida, da realidade, ainda que recorra à história tradicional para se tomar os termos a serem rejuvenescido, sem se negligenciar da realidade ou das peculariedades passadas.

Para Quesada, apesar de poderemos frisar filósofos relacionados com esta visão na Argentina, Colômbia, Chile, Brasil, Bolívia e Uruguai, é no México que vai dar uma contribuição importante ao movimento com José Gaos, Leopoldo Zea, Samuel Ramos, Emilio Uranga e Luís Villoro.

REFERÊNCIAS

BONDY, Augusto Salazar. Existe una Filosofia de nuestra América? México:

Siglo Veintiuno, 1982

CALDERA, Alejandro Serrano. Filosofia e crise. Pela Filosofia latino-americana.

Petrópolis: Vozes, 1984

QUESADA, Francisco Miró. Despertar y proyeto del filosofar latinoamericano. México: Fondo de Cultura Econômica, 1974.

ROIG, Arturo. El pensamiento latinoamericano y su aventura. Buenos Aires: Edições Andariego, 2008.

ZEA, Leopoldo. Discurso desde a marginalização e barbárie. A Filosofia latino-americana como Filosofia pura e simplesmente. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/33artigo130277-2.asp

http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/33/artigo130277-3.asp