História da Biblioteca Católica: a segunda maior do Brasil

HISTÓRIA DA BIBLIOTECA CATÓLICA:a segunda maior do Brasil [1]

Marcio dos Santos Rabelo [2]

“A Linguagem é a casa do ser. Nessa habitação do ser mora o homem. Os pensadores e os poetas são os guardas dessa habitação”.

Heidegger

RESUMO

Relação entre Filosofia e História. Proporciona uma leitura historial da antiga biblioteca católica a partir das duas óticas mencionadas. Focaliza assim sua contribuição para o pensamento maranhense no decorrer dos séculos XVIII e XIX, bem como enfatiza sua decadência vista como um suposto niilismo em meados do século XX. Aborda a perspectiva hermenêutica do filósofo contemporâneo Martin Heidegger para estabelecer tal reflexão. Prima por não esquecer que para suposta relação deve-se buscar a historiografia de Mário Meireles, César Marques e Condurú Pacheco, além de recorrer ao filósofo brasileiro Benedito Nunes devido a sua contribuição hermenêutica. Conclui mostrando a importância do entrelaçamento entre Filosofia e História e as travessias do niilismo de uma antiga biblioteca.

Palavras-chaves: História. Filosofia. Hermenêutica. Niilismo. Biblioteca. Maranhão.

1 HERMENÊUTICA DO MOMENTO

O presente artigo pretende resgatar dos escombros de nossa história, a memória da Bibliotheca Catholica fazendo uma possível leitura historial [3] com a intenção de reconstruir seu sentido a partir de um olhar filosófico.

Com o desenvolvimento dos meios de comunicação e a origem da Microsoft o homem viu florecer uma cultura do antilivro. Apesar de vivermos em uma sociedade informacional as pessoas de hoje lêem menos que aquelas de tempos antigos. Não queremos ser céticos frente ao Projeto da Ilustração. Sabemos bem que a mesma facilitou os meios de comunicação, mas por outro lado formou uma grande massa presa a um subanalfabetismo - que na maioria das vezes, é incapaz de interpretar o que lê. A questão hermenêutica é significativa na filosofia contemporânea. Tal perspectiva foi aprofundada sobretudo com o filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976). A reviravolta heiderggeriana acredita que na história filosófica houve um esquecimento do ser. Em sua famosa obra Ser e Tempo (1927) Heidegger anuncia o declínio da ontologia clássica que estava voltada para as interpretações da tradição de Platão e Aristóteles. Essa perspectiva levou a interpretação técnica do pensar, no qual o ser é abandonado como o elemento do pensar. A lógica é a sanção dessa interpretação que começou com a Sofista e Platão. Contra essa ótica, Heidegger formulou, a partir do ser do ente, uma nova Ontologia Fundamental. Nesse sentido, ele tenta desconstruir [4] as categorias ônticas propondo a analítica do Dasein (ser-aí).

A filosofia heiderggeriana teve efeito qualitativo nos principais meios acadêmicos do mundo. A sua maneira de pensar a filosofia influenciou a todos, passando por teólogos como Rudolf Butmann (protestante), Karl Rahner (católico) e principalmente filósofos como George Gademer, Lyotard, Derrida, Foucault, Deleuze, Merleau-Ponty, Hans Jonas, Hannah Arendt, Levinás e aqui no Brasil Manuel Carneiro Leão e mais precisamente Benedito Nunes. É nesse sentido que Marlene Zarader afirma que podemos pensar com ele ou contra ele, mas jamais sem ele. Todo esse encantamento ficou conhecido como efeito Heidegger

[5]. É animados por esse efeito que gostaríamos de fazer uma leitura Historial da biblioteca católica, primando pela questão hermenêutica, usando como base alguns daqueles que acompanharam a evolução do pensamento de Heidegger, visto que essa interpretação desenvolvida ainda custará ser percebida no contexto em que nos encontramos no presente momento, pois tal leitura está para além do moderno. Também, usaremos perspectivas historiográficas como a de Mário Meireles, Condurú Pachêco e César Marques visando saber o chão que deu origem a tal biblioteca.

2 UMA POSSIVEL LEITURA HISTORIAL

A possibilidade de uma leitura historial ainda se encontra distante de nossa realidade, haja vista que nossa educação foi voltada para uma leitura da historiografia clássica. Eis a dificuldade de inserir uma nova matriz de leitura que permita ver a história com outros olhos. Por isso, nosso objetivo é buscar nas entrelinhas da história aquilo que muitas vezes é considerado marginal. Com o intuito de recuperar o que foi perdido é que queremos ter a opotunidade de encontrar e devolver o sentido do que foi outrora esquecido.

2.1 Origem da Bibliotheca Catholica

De início recordamos os antigos romanos quando diziam Historia magistra vitae est. Essa máxima é o substrato de toda historiografia inserida dentro de um contexto clássico de perceber a História e sua divisão dada por etapas. Essa perspectiva histórica tem seu “ponto quente” na filosofia de Hegel.

A partir do século XVIII percebeu-se as novidades proclamadas pela Europa ocidental, onde os resultados dos pensamentos dos filósofos passaram a dar resultados devido às novas formas de percepção do mundo. É assim que, enquanto o ocidente caminhava para mais uma etapa de sua evolução, no Maranhão, quintal ou mesmo periferia desse processo de ocidentalização, se encontra uma novidade trazida pelos jesuítas: a fundação do primeiro acervo de uma biblioteca em 1729. Sendo assim, o catolicismo trazia consigo o Ocidente para a desconhecida cultura, chamada de mundus novus.

A chegada ao Maranhão do padre Gabriel Malagrida em 1721 que ficou conhecido como Apóstolo do Maranhão, incentivou a formação desse acervo com aproximadamente cinco mil livros [6]. Não devemos esquecer que a Escolástica Tomasiana era à base desses célebres jesuítas [7]. O próprio Malagrida passou a ensinar Filosofia e Português no Colégio Máximo [8] aos futuros jesuítas como também a toda classe intelectual maranhense. A terra dos fracos, onde existiam variadas tribos indígenas, passou a fermentar o crivo da racionalidade proclamada pela religião que trauxe uma nova forma de entendimento do humano. Formar-se-á assim uma nova hermenêutica na concepção de todos aqueles que faziam parte da antiga Província do Maranhão, que era constituída entre os atuais Estados do Ceará, Piauí, Pará, Amazonas e Maranhão, do qual São Luis era capital. Essa educação era consubstanciada no ratio studiorum [9], cujo ideal era a formação do homem universal, humanista e cristão. Nesse sentido, é que os denominados índios como também os que vinham nos tumbeiros tinham maior elevação com o transcendente que aqueles que chegavam de caravelas para o forte lugarejo São Luis. É nessa inteligível formação intelectual, que tentou misturar água ao óleo, que estará a gênese daquilo que mais tarde em meados do século XIX será proclamado de “Atenas Brasileira”. Em meio a tudo isso, não faltaram conflitos que mexessem na base da colônia maranhense levando assim à terceira expulsão [10] dos jesuítas daquela província, em 1759, sendo todos os seus bens confiscados, e em especial os seus livros entregues por Carta Régia, aos cuidados do Bispo diocesano Dom Antônio de São José em 11 de junho de 1761 (MARQUES, 1970, p.152). É nessa época houve todo um marasmo cultural presente em detrimento da “falta de mestres” para a educação do cidadão ludovicense, é assim que no final do século XVIII o bispo da Diocese de São Luis, Dom Joaquim Ferreira de Carvalho, expressava: “tenho o desgosto de não achar neste bispado nem letras, nem religião, nem costumes e não havendo a primeira, falta da segunda e da terceira em conseqüência” (apud RODRIGUEZ,1982, p.23-24).

3 EXALTAÇÃO, DECADÊNCIA E TRAGÉDIA

Uma leitura vista segundo Peter Pál Pelbart (2006, p.205) afirma que: “o niilismo é sintoma de decadência e aversão pela existência, por outro, e ao mesmo tempo, ele é expressão de um aumento de força, condição para um novo começo, até mesmo uma promessa”. Esse espírito decadente acompanhou a formação e decadencia da biblioteca, os altos e baixos da historia da mesma podem expressar as travessia do niilismo.

É sabido que com a criação do Seminário Santo Antônio em abril de 1838 desabrochou no contexto maranhense uma nova forma de continuidade daquela cultura voltada para as letras para com intuito de lutar contra as formas modernas que propagavam em todo o país, em especial o positivismo. O Seminário era o novo lugar onde supostamente se guardavam os resquícios daqueles velhos livros deixados pelos jesuítas. Nessa perspectiva o insigne poeta maranhense Gonçalves Dias, com o trabalho de inspecionar as repartições públicas do Maranhão, chegou a visitar o seminário e lamentou a decadência do restante da melhor Biblioteca vista por ele até então em terras maranheses. Pois, nela havia obras que não existiam em outros cantos do Brasil. Desta feita, o poeta fez um relatório apresentando ao Ministro do Império em 10 de junho de 1851.

Em detrimento da visita do poeta àquela biblioteca, doze anos depois, o novo Bispo da Diocese de São Luis, Dom Luis da Conceição Saraiva procurou recuperar os restos mortais daqueles livros vistos por Gonçalves Dias e procurou “oficializar” a biblioteca em 25 de maio de 1863 com intuito de dar continuidade à atividade intelectual maranhense. Segundo Pachêco (1968, p.295) o bispo Saraiva chegou a expressar que: “convém que haja nesta Diocese uma Biblioteca Católica, na qual os fiés, especialmente o clero, possam receber os santos princípios e a Doutrina isenta de erros”. Apesar da visão reducionista de Dom Saraiva, ele contribuiu para a preservação de uma relíquia escondida nos salões de seu próprio seminário. É bom lembrar que todas as casas projetadas nesse período tinham seus porões onde eram marcados por certos segredos: de riquezas ou de escravidão.

Em cinco de junho o noticiario do Jornal “O Paiz” fez um louvor a Bibliotheca Catholica do Maranhão, pois até então não havia uma biblioteca oficial (com exceção da biblioteca pública criada em 1829). A “Diocese ficara devedora ao clero de tão relevante serviço, guardando um núcleo de obras científicas, históricas e literárias, que todos poderão utilizar mediante qualquer contribuição” (PACHÊCO, 1968, p.296). Essa contribuição está no sentido de valoração daquilo que a tradição chama de escritos. Esses escritos guardam Verdades diante de uma sociedade a qual até “a Luz do sol engana” (VIEIRA, A).

Já em dezenove de julho do mesmo ano, uma comissão se reuniu no Seminário Santo Antônio com a presença de diversas autoridades. Entre elas se destacaram “o próprio Dom Saraiva o vigário geral Dom Antônio Lobato de Araújo, o Reitor Chanceler Manuel Pedro Soares, o Reitor e Cônego do Seminário Episcopal Santo Antônio Magistral Manuel da Silva, o Desembargador Graça como também o professor Sotero dos Reis e muitos outros” (PACHÊCO, 1968, p. 296). Todos se empenharam na elaboração dos “Estatutos” e participaram da sessão na qual se deu por implantada a Biblioteca nos salões do mesmo Seminário. Não devemos esquecer que é nessa época se concretizou a caracteristica de nossa ilustre cidade como “Atenas Brasileira”. Esse nome representou uma realidade voltada para o sublime. Percebe-se que há toda preocupação com a questão intelectual, o nome “Atenas” se torna sugestivo, pois a cidade de Atenas foi a raiz da cultura ocidental, a preservação dessa cultura passou pela maior e mais elevada biblioteca já existente na história da humanidade, a “Biblioteca de Alexandria” que se evaporou pelo fogo, que consumiu todos os escritos originais, só restando as lembranças. Do mesmo modo a cultura maranhense viveu seu apogeu sendo chamada de “Atenas” no final do século XIX, porque não tinha se contaminado com aquilo que em uma otica Lyotardiana se chamará no final do século XX de mínima realidade. Assim sendo, nessa época se primou por uma abertura para a elevação do espírito humano, já que o mesmo não estava encaixotada em verdades técnicas. Nesse sentido, a biblioteca católica foi o substrato para a elevação do homem enquanto tal. Foi assim que a terra dos mais ilustres intelectuais, formados nas melhores universidades da Europa, tinham a hora de no próprio Maranhao estudarem em uma mais sublime biblioteca. Nas margens da historiografia, podemos fazer uma leitura arqueológica dessa história levando essa perspectiva para outra ótica não muito distante do nosso olhar, percebendo que naquela época se desenvolveu uma inteligibilidade voltada para a leitura, para a música e para a estética. Isso é relatado pelo escritor, médico e padre, João Mohana, em seu livro “A grande música do Maranhão”. Nesta obra o autor reconstrói a época a partir da música.

A Igreja sempre preservou uma cultura intelectual. Não porque queria ser exaltada em si, mas foi ela quem guardou todos os manuscritos que serviram de célula mater para o surgimento da modernidade. No Maranhão não foi diferente. Adotou-se o espírito grego em si. Aqui se falou o melhor português, alem de produzir a melhor música e ter uma incrível biblioteca, essa chegou ter 14 artigos que mostrava seu ordenamento jurídico, entre os quais um afirmava que “é mister ser Católico Apostólico Romano para fazer parte da Biblioteca Eclesiástica”. Isso não era proselitismo da Igreja. Mas sua preocupação era manter aquilo que é sublime no próprio homem, uma espiritualide voltada para a leitura, um sentido em preservar aquilo que a cultura maranhense já começava perder com a chegada de novas idéias ou luzes que na verdade ficavam mais escuras na medida em que se apresentavam com maior claridade, sobretudo a chegada do positivismo que levou, a sociedade a ter uma hermenêutica mecanicista de sua realidade.

Nos dias de hoje fala-se muito nos meios acadêmicos de Estudo, Pesquisa e Extensão. Naquela época não era diferente segundo Condurú Pachêco (1968, p. 296), a biblioteca foi projetada “para ter seu próprio jornal além de distribuir livretos gratuitos e facilitar a impresão de obras, promovendo conferências”. A cultura de hoje sucumbiu esse jeito de ser. Tornou-se pesado viver, escrever, ler, debater e escultar.

Segundo César Marques a preocupação de Dom Saraiva com seu pastoreio foi fortemente significativa. Isso pode ser verificavel em sua viagem à Europa em agosto de 1867 (inclusive chegou a visitar Pio IX — autor do Concilio Vaticano I) no qual percebeu a crise do catolicismo frente ao advento do racionalismo ocidental. Em sua volta ao Maranhão, presenteou o Seminário Santo Antônio com um piano-harmonium (estética e arte) e especialmente a Biblioteca Católica (leitura) com livros preciosos de Teologia e Filosofia (grandes clássicos do pensamento) que até então só estiveram presentes apenas nas bibliotecas do Vaticano, de Lisboa e de Coimbra. Aqui se notam coisas que andam juntas para que o homem não se perda de si mesmo: leitura, estética e arte. A Biblioteca Católica tornou-se a segunda maior do Brasil com uma coleção de livros raríssimos. Chegou diversas vezes a ser comparada com as melhores bibliotecas da Europa. O cuidado com o livro na época era tanto que podemos compará-la hoje à cultura de Tóquio quando “o respeito pelos livros é tanto que as crianças antes de pegá-los na biblioteca, são instruídas a lavar bem as mãos e tratá-los com carinho” (NISKIER, 2007). Lamentavelmente no decorrer do tempo nossa Cultura maranhense “caiu de moda” aparecendo rastros de uma nova cultura que não se define [11], essa ótica nos levaria para a grande característica da modernidade.

Quase um século depois, aquela Cultura entrou em decadência, o desenvolvimento da modernidade tomou conta dos escombros daquela cultura que tinha o livro como “arte de guardar memórias que nos aproximam de tempos distantes”.

Dois comentários básicos servem para ilustrar a decadência que o “espírito do tempo” fez engendrar no seio da cultura maranhense, não só nos seus aspectos sociais e culturais, mas também religiosos. O primeiro testemunho é do próprio Mohana quando lamenta o fechamento da Escola de Música do Maranhão em 1947; adeus ao piano-harmonium (estética e arte) do Saraiva. Mohana (1995. p.12) relata o assombramento dizendo que:

[...] nenhuma medida afrouxou a corda, aliviou a corda, aliviou a asfixia, barrou o fim. A morte vinha a galope, amazona malvada, montada no tempo, seu cavalo fogoso [...]

Não se passaram quize anos para que o famoso Seminário pudesse fechar por falta de candidatos ao presbitério. Seria a culpa da situação histórica ou seria algo maior, uma hermenêutica da decadência cultural? Como poderia o Seminário Santo Antônio, grande berço de vocações, fracassar em detrimento de uma avassaladora realidade? Os chamados Padres Lazaristas, que muito contribuíram para o desenvolvimento do mesmo desde o começo do século XX, tiveram que deixar o Seminário. O padre Jocy Rodrigues (2000, p.18) lembrava isso de forma lamentável o último dia em que ficaram reunidos nos salões do Seminário:

[..] Estavam todos sentados, eu a esquerda, aqui... e os outros ao meu lado, chamava-se o nome do aluno, ele se levantava e liam-se todas as notas do ano, português, latim, música..., quando terminamos, fecharam-se os livros e aqui está terminada a responsabilidade dos lazaristas no Maranhão (...) todos ficaram tristes e alguns choravam [..] [12]

Se Heidegger pudesse ler essa narrativa diria que ela fala por si mesma. Além do mais, é impressionante o modo como o padre Jocy relata esse esvaziamento em relação ao fechamento do Seminário. Ele lembra até os mínimos detalhes. Deve-se fazer uma leitura fenomenológica desse fechar os livros (...) Imagine a biblioteca fechada.

O coração de tribos quilombolas ou indígenas é a memória dos antepassados. Qualquer chefe de tribo, que seja patriarca ou matriarca, quando morre é uma biblioteca queimada. Nós que fomos educados na cultura ocidental guardamos nossa memória nos escritos. O coração do Seminário era o escrito, imagine o fechamento do mesmo. Isso fez com que mais tarde acontecesse a tragédia da incineração de toda essa memória.

O Aggiornamento do Concílio Vaticano II criou novidades em toda Igreja no Mundo. A mesma se abriu para dialogar com a modernidade. Benedito Nunes já expressava que “toda interpretação requer uma outra interpretação”. É assim que a interpretação Latina-Americana resultou em um novo modo de pensar revolucionário-dialético. Porém, alguns padres e freiras aqui no Maranhão não souberam interpretá-lo, o que os levou a incinerar os velhos livros daquela frágil biblioteca, gozando da ingênua idéia de que tais livros não seriam mais úteis. O padre Bráulio lembra esse episódio de forma lamentável:

[...] Eu, junto com Cleones Cunha, incentivados pelo pe. François Drouins conseguimos recuperar algumas obras que seriam levadas ao fogo. Me lembro como hoje, que tivemos que tirar do lixo aquelas raras obras e levar de carroça para o Seminário que funcionava na época na Rua Treze de Maio perto hoje do Museu Artístico e Histórico do Maranhão [...] [13]

Pessoas assim segundo Heidegger tem um papel de nomear sempre o sagrado e dizer sempre o ser, pois nas margens de uma grande interpretação esta sempre uma menor interpretação que consegue salvar aquilo que a “má consciência” pensa não mais ter sentido. Nessa perspectiva, na História da Igreja do Maranhão, a Inquisição não deveria ser apenas contra as formigas [14], mas contra todas as “traças” que levaram a deterioração daquelas maravilhosas obras literárias. Infelizmente não há em nossa sociedade uma abertura para essa nova forma de entendimento humano. Os resquícios daquela antiga Biblioteca se encontram hoje junto à nossa Biblioteca Frei Alberto Mersmann no IESMA como também na Biblioteca central da UFMA (nos anos 70 tinha o nome de biblioteca “Dom Delgado”). O outro restante se encontra no Seminário Santo Antônio na chamada Biblioteca Pe. Jocy Rodrigues, em homenagem a esse homem que muito contribuiu com a cultura maranhense. Assim Sendo, a biblioteca católica se evaporou no espaco e no tempo levando a confirmação do filósofo [15] que já dizia que tudo que é sólido se desmancha no ar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a história é sempre dever do filósofo, em especial a Historia do Maranhão que nos levar a perceber o quanto somos ricos culturalmente. É assim que dentro de uma visão historial na qual o homem é resultado da linguagem, isto é, daquilo que produzimos e interpretamos para nossa vida, resignificar o passado da biblioteca é perceber o quão grande importante é a leitura para aquele que se dizem amantes da sabedoria, que antes deveriam ser sobretudo amantes das letras ou quem sabe poetas.

O chão em que nasceu a biblioteca foi decadente. Em uma esperança que resultou em na frustração da escola jesuítica, as oscilações de um suposto niilismo da biblioteca católica nos fazem pensar no fim da noite que não passa, a qual angustia a todos que são chamados a ver o horizonte do dia vindouro. Os pensadores e os poetas guardam a novidade desta aurora que não chega. Assim que recuperando a história da bibliotheca catholica queremos nos aproxima de uma nova forma de pensar o ser, pois o ser é aquilo que nos dizemos dele.Talvez pensar o ser de outra maneira seria a único forma de nos libertamos do modo de pensar ocidental. E tal perspectiva passaria pela linguagem e poesia.

REFERÊNCIAS

NUNES, Benedito. Passagem para o poético. 2.ed. São Paulo: Ática, 1992.¬¬-____________.No tempo do niilismo: e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1995.

____________.Crivo de papel. 2. ed. São Paulo. Ática, 1998.

MEIRELES, Mario Martins. Historia da Arquidiocese de São Luis do Maranhão. São Luis: SIOGE, 1977.

RODRIGUEZ, Angel Vega. Crítica ao positivismo na imprensa católica maranhense. São Luis: SECMA, 1982.

PACHÊCO, Felipe Condurú. Historia Eclesiástica do Maranhão. São Luis. 1968 FEITOSA, Chalés. Et al. Nietzsche e os gregos. Rio de Janeiro: Capes 2006.

VATTIMO, Gianni. O Fim da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes 2002

______________.As Aventuras da Diferença. Lisboa – Portugal: edições 70, 1980

DERRIDA, Jaques. Margens da filosofia. São Paulo: Papirus,1991.

LIMA, Carlos de. Historia do Maranhão. São Luis. 1981.

MARQUES, César Augusto. Dicionário Historico-geografico da Província do Maranhão. Rio de Janeiro. 1970

MOHANA, João. A Grande Musica do Maranhão. São Luis: SECMA.1995

NISKIER, Arnaldo. Primavera em Tóquio. Opinião A3. Folha de S.Paulo, 2007.

--------------------------------------------------------------------------------

[1] Artigo apresentado durante a I feira Cultural do IESMA e do VII Encontro Humanítisco da UFMA.

[2] Acadêmico do curso de teologia do IESMA e do curso de Direito da Faculdade São Luis.

[3] Heidegger. 18 de agosto. 2006 Essa leitura foi desenvolvida a partir da fenomenologia na Escola de Lovain na qual a história aparece como resultado da linguagem. É nesse sentido que historial acontece quando o mundo é o destino da língua. Aula proferida pelo professor Marcelo Antunes na disciplina Hermenêutica do Instituto de Estudos Superiores do Maranhão.

[4] Essa palavra se transformou em paradigma dos filósofos chamados de pós-modernos, quem desenvolveu tal temática foi o filosofo francês Jaques Derrida.

[5] Assim afirmava a cientista política Hannah Arendt.

[6] Segundo Vega Rodriguez cinco mil volumes foi uma quantidade bem expressiva para a época. Tal acervo ficava no Colégio Nossa Senhora da Luz. Nesse sentido, podemos dizer que havia um projeto para uma futura academia de grande porte. O nome do colégio me parece um pouco sugestivo na medida em que a palavra “luz” não aparece só no sentido divino, mas também no sentido de trazer a verdadeira luz do conhecimento ocidental.

[7] Luis Figueira, Antônio Vieira, Gabriel Malagrida, Felipe Bettendorff e muitos outros.

[8] O Colégio Nossa Senhora da Luz foi elevado à categoria de Colégio Máximo em 1709. Tinha o mesmo peso de um instituto de ensino superior. Segundo Serafim Leite (1943, p. 269) o Colégio Máximo do Maranhão poderia conceder graus de bacharel, licenciatura, mestre e doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XII.

[9] Publicada em 1559 pelo padre Cláudio Aquaviva, decodificava as regras pedagógicas de Santo Inácio de Loyola para uma educação humanística cristã. [10] Aqui aparece a queda de todo aquele projeto educacional dado pelos jesuítas. Nesse sentido, a semente do ocidente já tinha germinado. Entra o tempo de uma inteligibilidade decadente.

[11] A não definição da modernidade é uma das suas principais características, o espírito alienado de si mesmo.

[12] Entrevista do padre Jocy Rodrigues para seminarista Roney Carvalho em uma de suas ultimas visitas ao Seminário em 1999.

[13] Aula ministrada pelo professor Bráulio Ayres na disciplina Antropologia Teológica do Instituto de Estudos Superiores do Maranhão em mar de 2007.

[14] A historia relata que em 1713 houve um extraordinário pleito em que os padres do Convento Santo Antonio processaram as saúvas que ameaçava a dispensa e as paredes de seu Convento.

[15] Ou seja, Karl Marx

Marcio dos Santos Rabelo
Enviado por Marcio dos Santos Rabelo em 09/02/2011
Código do texto: T2780504
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.