Falta de cidadania, educação, respeito e o escambau

Minha mãe casou-se muito cedo. Aos 13 anos de idade. Obrigada a trocar os estudos pelos afazeres domésticos, não se acomodou. Ávida por informações, devorava todo material de leitura que pusessem à sua frente, e, assim, tornou-se uma mulher culta. Domínio total sobre as letras. Hoje, com 86 anos, apesar do pouco tempo dedicado à escola, ela escreve melhor (forma e conteúdo) do que muitos professores universitários. Sua sede por jornais, livros e revistas é a mesma de tempos atrás.

Dona Neuza pariu 12 vezes. Só oito filhos vingaram. Meus pais, a despeito de pouco estudo, transmitiram-nos boa educação e conceitos de respeito ao próximo e às coisas alheias.

Um dia, há muito tempo, em visita a nosso colégio, uma frase escrita na parede estimulou minha mãe a nos oferecer mais uma lição de cidadania: “Que coisa ridícula! O autor da pichação demonstra o seu desprezo pela coisa pública e o tipo de educação que ele recebe em casa”.

Há algum tempo, ao cruzar os corredores do Bloco I da Universidade Federal de Roraima, senti nojo, repulsa, vergonha e imensa vontade de convidar dona Neuza para dar aulas de cidadania e respeito aos meus colegas acadêmicos. As paredes emporcalhadas com desenhos e frases perdidas recebiam os visitantes. Alguns alunos e professores mostraram-se indignados com a pichação. Quem teve a brilhante idéia de demonstrar descaso com o bem comum e o tipo de educação recebida em casa?

Indignado, procurei saber e descobri que aquela sujeira nasceu de um “Primeiro Seminário de Práticas Docentes”. Segundo seu idealizador, trata-se de um mini-curso, e toda aquela bagunça foi autorizada “pelos departamentos responsáveis”.

Enquanto na cidadezinha de Buhl, Idaho, nos EUA, pais e alunos se reúnem durante as férias de verão e, em mutirão, fazem reparos na escola estadual deixando-a em condições ideais para o próximo ano letivo, em Boa Vista, Brasil, os acadêmicos da Universidade Federal de Roraima emporcalham deliberadamente seus prédios, deixando que a limpeza e os reparos sejam feitos à custa do erário.

Será que “os departamentos responsáveis” sabem em que roubada estavam entrando? Com a palavra, o magnífico reitor!

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 06/03/2011
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