João Batista, o Homem Ideal

1. Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia.

2. Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus.

3. Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas (Is 40,3).

4. João usava uma vestimenta de pêlos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.

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Quero tomar a figura de João em sentido em sentido existencial:

1º Seu nome (João) é insigne entre os demais, isto denota que o Homem Ideal desnivela-se em relação a seus pares. A via média das sociedades tende a rotular todos os homens em torno da utopia da igualdade, como se a existência fosse mero cumprimento de agendas e roteiros previsíveis e determinados para todos. Isto é até verdade para uma gama considerável de gente, mas não para o Homem Ideal. Ser ideal é ser mais, é ser único, é desnivelar;

2º Seu adjetivo (Batista) é demilitador, isto denota posicionamento ante a sociedade em questão. Ele mergulha seus contemporâneos no estilo de vida que defende para si. Se contesta com seus discursos o desvario existencial da prostituição, da ganância, da hipocrisia e demais vícios, também oferece a sublimação existencial por meio do mergulho na vida casta, generosa, autêntica e demais virtudes.

3º Seu discurso (pregação) é altissonante. Isto denota que o homem ideal não vende idéias – defende causas. A venialidade não faz parte de sua biografia e qualquer que procurá-lo nos palácios, sentado á mesa do rei, se decepcionará. O preço que paga por seu ideal é a inospitalidade do deserto e somente os buscam a alteridade saem a ele para apreender o Ideal.

4º Sua dialética é imperativa (arrependei-vos). Não há divagações sobre probabilidades ou possibilidades, pois o que diz é normativo e legisla de forma determinante. Ninguém se faz um com ele manquitolando entre doutrinas várias, por que o Homem Ideal não propõe a dúvida, mas a confiança.

5º Sua finalidade é altaneira (reino dos céus). O Homem Ideal não aspira somente o que se enxerga na horizontal, ao alcance dos olhos. É alguém voltado para a excelência, a sublimação, a superação das montanhas mortas. Quer emancipar a colônia à monarquia, o mortal ao eterno, o terreno ao etéreo, o finito ao imensurável, o cotidiano ao imprevisível. Se é para ser algo, que seja perfeito! Fora com a pilhéria, a decadência, a banalidade, o não-ser; não-saber, não-querer, não-dizer, não-viver...

6º Seu surgimento é antológico (anunciado). O Homem Ideal é uma aspiração dos Grandes da Humanidade. Nele se realizam as utopias dos poetas e dos profetas, dos reis e dos imperadores, dos legisladores e dos juristas, dos filósofos e dos Filósofos. Ele é a superação das idiossincrasias e das paranóias; é a realização dos sonhos e das fábulas; sua tábua genealógica é marcada pelo torvelinho dos tempos áureos.

7º Ele é sempre Voz, nunca eco. O Homem Ideal está longe de re-citar autores e autoridades, pois fala em nome de si, responde por si e autografa por si. Ainda que preste jus a quem de direito, não faz emanar de fonte alheia o crédito de suas palavras. Quem ouve ao Homem Ideal está vendo a Origem, e se dá crédito ao que escuta assume a responsabilidade pelo discurso auditado.

8º É voz altissonante (clama). O que pensa o Homem Ideal torna-se matéria de capa. Longe dele está a covardia dos esconderijos. Se autografa o que redige é para que todos saibam o que defende. Se ataca o que reprova o faz em campo aberto (deserto), com o dedo em riste e o peito insuflado. Grita a plenos pulmões a quem tiver tímpanos sadios e deixa ao sabor do vento o caminhar de sua vociferação.

9º É assenhoreado pelo Ideal. Este homem impagável, dialético, altaneiro, antológico, original e altissonante é também escravo de si. Não cede espaço para a indolência, a apatia, o ócio ou demais vícios pragmáticos. Ele se gasta e se deixa gastar pela Causa. Sofre por ela, acredita nela, é sua esperança e por ela, tudo suporta.

10º É dono de seus apetites. O Homem Ideal está no controle de seus desejos e paixões. É regrado em suas necessidades e comedido em seu consumo. Se possuir pode abrir mão do uso. Quando usa não ambiciona a posse. Se receber pode repartir. Se perder não contabiliza a falta. Simplesmente, é sujeito no mundo, não objeto

Rogério de Sousa
Enviado por Rogério de Sousa em 07/03/2011
Reeditado em 07/01/2016
Código do texto: T2834280
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