Educação e Contemporaneidade

EDUCAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Vivemos em um estado atual de sociedade onde a globalização, apoiada pelas inovações tecnológicas, está a todo vapor. Vale salientar que este fenômeno liga-se a certo estágio da modernidade chamado de contemporaneidade: momento em que as mudanças sociais estão muito rápidas. Zygmunt Bauman chama este momento atual da sociedade de modernidade líquida. Essa “liquidez” dissolve tudo aquilo que é sólido e estruturado na sociedade. Este sociólogo mostra uma sociedade que está tendo as suas bases abaladas pela globalização. Com essas mudanças, encontram-se os sujeitos que não ficam imunes a este contexto histórico. O cidadão tem a sua vida afetada nos mais variados aspectos. Stuart Hall fala de um sujeito que está se tornando fragmentado, composto não só de uma única, mas de várias identidades, algumas, às vezes, contraditórias, outras, não - resolvidas. Dentro deste contexto de transformação social, modelos de instituição que outrora controlavam a sociedade, dando a esta uma estabilidade e ordem social, são também afetados pelas viradas tecnológicas. Dentre estes modelos destacamos a escola. Pergunta-se: Qual o papel da escola neste mundo contemporâneo? Será que essas instituições estão revendo as suas concepções de ensino, levando em conta o atual estágio de transformação social? A história humana nunca experienciou algo similar. O mundo se encolheu. Hoje podemos ter acesso a todas as notícias do planeta em um piscar de olhos. O mundo experimenta o neoliberalismo onde os países concorrem abertamente entre si. A cultura do individualismo e da competição é muito forte hoje em dia. Está havendo uma inversão de valores. O "homem" não está sendo mais visto como um ser humano. O seu pensar, a sua cultura e o seu linguajar não estão sendo respeitados. O mundo atual está deixando de lado valores éticos, morais e políticos em favor de uma política de descomprometimento com o social. É sabido que cada povo tem seu modo de conceber a realidade, de pensar e de agir. Vivemos em um recorte de tempo da sociedade onde a cultura local se confronta com a cultura mundial e vice-versa: a chamada glocalização, de acordo com Rampton, sociólogo inglês. Neste gládio, quem serão os vencedores e quem serão os vencidos? Qual a tarefa da educação atual? Educar quem? Educar para quê? Quais os conteúdos que podemos incluir em nossos planos de curso que objetivarão a proposta educativa da escola inserida neste contexto de transformação social? De onde parte a nossa prática educativa, da nossa concepção de realidade ou da concepção de realidade dos nossos alunos: estes são questionamentos que devem ser levados em consideração por qualquer educador que se preocupa com o seu ensino (Almeida Filho, 2003). Edgar Morin elenca alguns saberes importantíssimos para se fazer uma educação bem sucedida. Ele apóia o fato de se levar em conta o ensino da condição humana para as nossas salas de aula. Temos de conceber o ser humano como uma pessoa em processo de desenvolvimento que carece de saberes essenciais sobre humanização: saberes que servirão de base para sua formação como cidadão competente. Paulo Freire afirma que educar não é transferir conhecimentos. Na visão deste pedagogo, educar é ensinar aos alunos valores éticos, expondo-os às idéias contrárias às suas, fazendo com que estes enxerguem aqueles como seres, às vezes, concordantes, às vezes, discordantes. Ensinar, na visão de Freire, é levar o aluno a reconhecer que a sua visão de mundo não é inferior, mas também não é superior a nenhuma outra. Educar nestes moldes significa ajudar o discente a desenvolver ética e respeito ao próximo. O aluno terá consciência de que são as diferenças culturais, sociais, ideológicas que nos fazem amadurecer e é através destas diferenças que o conhecimento humano é produzido. A educação atual está tendo as suas bases abaladas. É preciso uma reformulação no projeto político e pedagógico partindo da concepção de linguagem, língua e identidade. Não devemos apenas ensinar este ou aquele conteúdo. Nós, como educadores críticos e reflexivos (Almeida Filho, 2007), não podemos mais reproduzir o “status quo” que sempre tem regido este mundo. Rajagopalan, Barcelos, Fiorin, Scheyerl, Mota abordam um ensino que leve a libertação social do ser humano, fazendo-o desvencilhar de sua condição subalterna. Esses autores defendem uma educação contemporânea onde as vozes dos oprimidos devam ser ouvidas. É uma educação que resgate a cultura do pobre, do negro, do índio, do homossexual; que dê ouvido ao seu linguajar, a suas crenças, valores, ao seu modo de ver a sociedade. Para tanto, este ensino deve partir da realidade dessas pessoas. Deve ser levado em consideração o conhecimento de mundo e a bagagem cultural que eles já possuem, e, a partir daí, levá-los a uma reflexão crítica e filosófica da atual situação social e econômica. Este tipo de ensino não deve levar em conta a segregação entre as disciplinas, mas conceber a interdisciplinaridade, tendo em vista a (in) completude do conhecimento para formar um cidadão autônomo, crítico, respeitador das diferenças culturais transformadoras da sociedade contemporânea.