Pedagogias ou uma Pedagogia da Amorosidade? Reflexões e subsídios ao nosso sentipensar
Prof. João Beauclair[1]
 
"O amor nos permite sentir as estrelas na respiração do Universo".
BEAUCLAIR, João. Pedagogia da Amorosidade, (no prelo).
 
            Pedagogias ou uma Pedagogia da Amorosidade? Hoje somos convocados a buscar novas elaborações vivenciais que dignifiquem nossas ações e intervenções psicossocioeducativas. Todas as Pedagogias já elaboradas, criadas em tempos e espaços diferenciados merecem nosso revisitar permanente e o desafio maior é elaborarmos sínteses conceituais que motivem o nosso talento de seguirmos acreditando em Educação.
Na proposição da autoria de pensamento, cabe-nos ampliar pensamentos e sentimentos novos, elaborando e reelaborando nossas próprias histórias pessoais, recriando estratégias e percebendo nossas importâncias com o ensinantes do tempo presente.
            Mesmo que em muitos momentos estejamos impossibilitados de acolher nossas biografias com a inteireza que desejamos, é vital percebermos com clareza as diferentes dimensões do nosso percurso de vida, validando nossos modos pessoais de ser e estar no mundo, atuando em educação e exercendo nossas múltiplas funções dentro do universo educativo. Com isso, não importa que sejamos professores de cursos de pós-graduação, de educação infantil, na educação básica ou no ensino médio.
Onde quer que estejamos atuando serão nossos modos de interagir com os outros que poderão fazer diferença, pois com cada pessoa que encontramos, é possível ver a magia da vida vivenciada na sinergia do encontro entre quem aprende e quem ensina, pois todo tempo e o tempo todo, podemos aprender e ensinar, ensinar e aprender numa perspectiva dialética e dialógica.
Minha proposição, neste sentido, reside no resgate de pedagogias que movimentem cognições e afetos, num processo que venho denominado de Pedagogia da Amorosidade, qualidade maior do amoroso em nossas vidas.
Cabe-nos, então, voltar nossos olhares, nossos sentipensamentos às praticas educativas que se configurem na amplitude do ato amoroso, num permanente movimento de trabalho que esteja no sistematizar de reflexões e contribuições sobre a necessária formação humanística em nosso tempo, onde a presença de temas complexos tais como interconectividade, teia da vida, amorosidade, valores e direitos humanos, práxis educativa, ecologia humana, aprendizagem e relações interpessoais nos desafiam ao pensar, ao sentir e ao buscar reflexões com o intuito de contribuir para o debate acerca da inserção da Amorosidade - compreendida como uma potencialidade humana de sermos, cotidianamente, solidários uns com os outros. 
Destarte, uma Pedagogia da Amorosidade é necessária, pois o resgate da amoroso é tarefa essencial, cada vez mais vital no nosso tempo presente: tempo de reconstrução de caminhos que nos leve ao autoconhecimento, a auto-aceitação e a autoconsciência.
Nossa tarefa maior, em processos de formação pessoal, é o aprimoramento de todos, perpassando pelo conjunto de valores, pela visão de mundo e nos conscientizando das múltiplas influências presentes nas relações sociais. Aqui se justifica os múltiplos motivos de pensarmos no tema, a partir dos desafios presentes na contemporaneidade, no intuito de criar condições para que possamos esperançar, no estabelecimento do diálogo competente e amoroso capaz de estabelecer condições para a construção de novos caminhos, que nos traga num outro tempo humano, mais fraterno, solidário e justo.
Se a palavra Amorosidade possui o significado de qualidade do que é amoroso, com ela podemos encontrar inúmeras possibilidades de interlocução com outras tantas palavras, tais como liberdade, continuidade, individualidade, mocidade, identidade, visibilidade, possibilidade, particularidade, profundidade, validade, universidade, maturidade, substancialidade, subjetividade.
Entretanto, em termos de proposição de uma Pedagogia da Amorosidade, no contexto da pós-modernidade é inevitável nossas buscas por uma concepção de conhecimento global, onde o que se propõe é algo vivo e exercido em nossas cotidianidades, em nossas buscas pela unidade do saber, que se perdeu ao longo dos tempos da modernidade.
A Pedagogia da Amorosidade exige “a ousadia da busca, da pesquisa: é a transformação da insegurança num exercício do pensar, num construir” (FAZENDA, Ivani C. Arantes. Práticas interdisciplinares na escola. Cortez Editora, 10 ed. São Paulo, 2005, página 18.). Tal exigência emerge, em cada um de nós, de modo distinto e será em nossos projetos pessoais que poderemos ser capazes de novas percepções, inserindo-nos em movimentos de sistematização do vivido e, com isso, desejosos de ampliarmos nossas relações com o mundo, a partir de maneiras novas de percebermos as relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas.
A busca por uma Pedagogia da Amorosidade nos remete a pensar que somente com o amor poderemos vislumbrar possibilidades concretas de mudança, de ruptura com o quadro e o sistema atual, onde os paradigmas de vida e comportamento que necessitam de transformação, de libertação.
Em Paulo Freire encontramos interessante reflexão que vem de encontro a este raciocínio:
“(...) o ato de amor está em comprometer-se com sua causa. A causa da libertação. Mas este compromisso, porque amoroso, é dialógico (...). Como ato de valentia, não pode ser piegas, como ato de liberdade não pode ser pretexto de manipulação, senão gerador de outros atos de liberdade. A não ser assim, não é amor. Somente com a supressão da situação opressora é possível restaurar o amor que nela estava proibido. Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me possível o diálogo.” (FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra, 32 edição. São Paulo, 2002, p.80, grifo meu.)
Por fim, é possível afirmar que o desafio da Pedagogia da Amorosidade é essencial para o resgate da Vida e da Educação no novo milênio: Vida e Educação compreendidas em suas dimensões plurais, complexas, interdependentes, multifacetadas, multidimensionalizadas.
Façamos este movimento e sigamos em condutas amorosas, acreditando no poder da Educação e nas nossas possibilidades de novas intervenções psicossocioeducativas.
Saúde e paz para todas e todos.
 


[1] Prof. João Beauclair possui o DEA Diploma de Estudos Avançados em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo, Ourense, Galícia, Espanha, onde desenvolve pesquisas sobre Pedagogia da Amorosidade para o doutoramento europeu em Intervenção Psicossocioeducativa. Docente de Pós-Graduação, Assessor Educacional, Palestrante e Conferencista Internacional sobre temas motivacionais, organizacionais, educacionais e psicopedagógicos. Autor de diversos artigos e livros, entre eles:Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros” e Dinâmica de grupos: MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas”, ambos pela WAK Editora e “Me vejo no que vejo: o olhar na práxis educativa psicopedagógica”, Exclusiva Publicações, São Paulo, 2008. Homepage: www.profjoaobeauclair.net e-mail joaobeauclair@yahoo.com.br

Artigo orignalmente publicado na Revista BIS SINEP MG:

http://www.sinepe-mg.org.br/ Página 10

Joao Beauclair
Enviado por Joao Beauclair em 03/04/2011
Reeditado em 03/04/2011
Código do texto: T2886611