SER PROFESSOR

Num passado bastante recente, perguntar a uma criança o que ela seria quando crescesse, era, com certeza, ouvir a resposta: ser professora ou ser professor. O tempo passou, novas profissões foram surgindo, outras áreas de atuação foram sendo valorizadas e, todos os anos, quando são divulgadas as vagas mais disputadas nas universidades, é fácil perceber que nossos estudantes não se sentem atraídos pela carreira docente.

Recentemente foram divulgadas pesquisas sobre a necessidade de professores para atuarem nos ensinos fundamental e médio em todo o país: 710 mil professores. Verdadeiro espanto! O Brasil precisa de 710 mil professores para atender as necessidades básicas de educação.

Embora a carência seja tão grande, mais da metade das vagas oferecidas pelas faculdades para os cursos de Pedagogia e de Formação de Professores não são preenchidas. Pior que isso é saber que cerca de um terço dos alunos que iniciam esses cursos desistem antes de sua conclusão. Isso, convertido em números, nos dá a dimensão do problema: de cada 100 vagas oferecidas, são preenchidas apenas 45 e dos 45 estudantes que iniciam o curso, menos de 30 vão até o final.

Será que existe uma razão para que isso aconteça? As respostas são dadas pelos próprios entrevistados: meus pais não querem; minha família não aceitaria minha escolha, pois investiu muito em mim; é uma profissão que não dá futuro; é uma profissão desvalorizada socialmente; professor é muito mal remunerado; existe desinteresse e desrespeito por parte dos alunos.

Agora, se você perguntar aos pais o que eles buscam na escolha das escolas para seus filhos, vai ouvir, entre outros motivos, que uma das condições é que a escola tenha bons professores. É exatamente isso o que enxerga uma aluna de escola pública no interior da Bahia. Quando entrevistada, ela respondeu: "Hoje em dia, quase ninguém sonha em ser professor. Nossos pais não querem que sejamos professores, mas querem que existam bons professores. Assim, fica difícil". É preciso lembrar que o médico, o engenheiro, o advogado e todos os outros profissionais passaram pelas mãos dos professores.

Preocupa, também, outro dado da pesquisa: dos alunos que responderam que gostariam de seguir a carreira docente, que almejam ser professores, número que representa apenas 2% dos entrevistados, todos eles estão entre os alunos com as piores notas em seus boletins. Que disparate! Os piores são aqueles que se dispõem a preparar os melhores.

Em países como a Coréia do Sul e a Finlândia, onde a educação é considerada prioridade pelo governo, os melhores alunos são estimulados a cursarem as faculdades de Pedagogia. Isso influi no índice de analfabetismo e contribui para a pontuação do país no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano. O Brasil precisa estimular seus estudantes a abraçarem a carreira docente através da valorização da profissão, tanto financeiramente quanto pelo reconhecimento do talento e da capacidade intelectual de cada um.

Essa é a única forma de o Brasil conseguir deixar as últimas colocações nos rankings de educação. E cabe a cada brasileiro contribuir para que isso se torne realidade. É preciso indicar como legítimos representantes no governo, pessoas comprometidas com o crescimento do Brasil. Infelizmente, como se pode observar nas últimas eleições, não é bem isso que está acontecendo...