BOAS NOTÍCIAS

Quando escrevi o artigo intitulado “Ser professor”, lembro-me haver comentado que nossos alunos, apesar do grande número de vagas, não demonstram nenhum interesse pela carreira docente. O desejo de ser professor é demonstrado por apenas 2% dos estudantes do ensino médio, os quais, ironicamente, possuem as piores notas em seus boletins. Lembro-me, também de haver comentado que em países como a Coréia do Sul e a Finlândia, os melhores alunos são estimulados a cursarem a faculdade de pedagogia e ainda que o Brasil precisa estimular os estudantes a abraçarem a carreira docente através da valorização da profissão, tanto financeiramente quanto pelo reconhecimento do talento e da capacidade intelectual de cada um.

A revista Veja do dia 4 de agosto de 2010 publicou, na página 136, sob o título “Uma lição de futuro”, matéria sobre projeto a ser desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro que pretende selecionar alunos vindos das melhores universidades para ministrarem aulas de reforço em escolas públicas municipais. A previsão do projeto, denominado “Projeto Ensina!”, e que foi inspirado em modelo dos Estados Unidos, é de enviar quarenta jovens, a quinze escolas, a partir de 2011.

O Brasil é o 13º país a fazer uma adaptação do programa americano, mas ao contrário do original, que recruta os universitários para ministrarem aulas, o “Programa Ensina!” pretende atrair os melhores alunos das melhores universidades para as salas de aula para ministrarem aulas de reforço e também para disseminar uma nova mentalidade entre alunos e professores da rede pública de ensino.

O modelo americano atingiu um sucesso tão grande que, no ano passado, recebeu mais de 46.000 inscrições e tornou-se mais difícil passar no seu processo de seleção do que ser admitido na maioria das faculdades americanas. Os universitários aprovados e que completam o período de dois anos são automaticamente admitidos por empresas de renome internacional, parceiras do programa.

A iniciativa do município do Rio de Janeiro pode parecer um pequeno passo e pode até ser vista sem muito entusiasmo, mas é preciso entender que quando você assume uma atitude diante de um problema, está adotando as primeiras providências para sua solução; quando você dá o primeiro passo, está iniciando uma caminhada que poderá ser muito longa.

Na mesma época da matéria publicada, o ex-ministro da educação Cristovam Buarque, ao tecer comentários sobre as notas do IDEB, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, declarou que o caminho para a solução da educação no Brasil é fazer uma revolução, que essa revolução deveria ter o professor ganhando muito bem, dedicado e bem preparado; as escolas bonitas, bem equipadas e de horário integral; as cidades buscando dar o salto previsto para 20 anos em apenas 2 anos, através da adoção de medidas locais. Cristovam Buarque conhece a fundo a problemática da educação no Brasil e é um entusiasta em transformar o país através da educação.

O programa americano tem mais de vinte anos e já se consolidou como um projeto de sucesso. Pode ser que no início também tenha sido olhado com desdém e considerado mais uma forma de algum político querer se promover, mas já foi adotado por muitos países que também obtiveram sucesso.

No Brasil, enquanto o governo federal não adota um programa nacional para revolucionar a educação, é importante que as outras esferas de governo enxerguem a necessidade de recorrer a medidas chamadas caseiras, desde que encaradas com seriedade, responsabilidade e comprometimento, para fazer a diferença e justificar aos eleitores a validade do seu voto.

Raul Seixas, na sua composição denominada Prelúdio, canta que “sonho que se sonha só é apenas um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é realidade”. Enquanto Cristovam Buarque estiver sonhando sozinho o Brasil que ele sonha continuará sendo um Brasil de sonhos.