A Educação na era da tecnologia.

A pergunta que ainda não foi respondida até hoje é: Como lidar com o processo ensino-aprendizagem numa sociedade com tecnologias cada vez mais crescentes e complexas? E o que contraria esta inaptidão, é o fato de sempre acharmos que a tecnologia resolverá todos os nossos problemas, no entanto, para muitos, ela traz mais problemas ainda, sem resolver os anteriores. Isto se dá, em parte, pela agilidade com que os processos tecnológicos nos chegam, pegando-nos de surpresa, ou pouco interessados em conhecer o novo, em se dispor às mudanças. E também, pelo fato de que, sem uma devida reflexão que filtre este bombardeio de informações, muito dificilmente chegaremos à conclusão de como a tecnologia poderá se tornar nossa aliada.

A confusão que se faz, talvez tenha sua base na não separação dos termos em questão, e seus valores intrínsecos: Pensa-se em ensino de qualidade, e não em Educação de qualidade. E esta última tem, necessariamente, uma dimensão particular, que não pode ser confundida com avanços tecnológicos, para que traga resultados substanciais. A Educação de qualidade requer uma didática que combine a integração do saber com a vida, reflexão com ação, e que gere mudanças no mundo.

Talvez a preocupação de que a criança, ao chegar à escola, já tenha passado por várias etapas educativas dentro de casa, na sociedade, na tecnologia crescente e na mídia bem elaborada, cause este afobamento entre os professores, que muitas vezes acreditam que uma Educação de qualidade só vai existir com a união extrema destes dois pólos. E como unir dois pólos tão distintos?

Penso que cada coisa no seu lugar, até que possam ou tenham condições de conviver juntas. A explicação é simples: O professor deve, antes de tudo, ser um agente reflexivo das transformações sociais, deve ter o domínio do conteúdo que trará a aprendizagem necessária ao seu campo de atuação, dosado, é claro, com o encaminhamento para o exercício da cidadania, da ética, dos valores e dos costumes para o bem comum. Paralelamente, deve estar aberto às inovações tecnológicas, com o exercício da resiliência que permitirá sua inserção e cooperação nos processos evolutivos.

Porque não basta ao aluno, ser mais “antenado” às mudanças tecnológicas, e apenas acompanhar esta aceleração. Em dado momento, fatalmente, ele vai se deparar com as perguntas: Para que me serve isto mesmo? Qual o propósito do domínio desta tecnologia em minha vida? Aí entra o papel do professor reflexivo, integrador e pluralista: Auxiliá-lo na filtragem dos conteúdos que são realmente importantes para o seu crescimento pessoal e profissional, e para que possa contribuir positivamente com o meio em ele vive, tornando-se parte integrante dele.

Sendo a Educação fragmentada, e havendo a possibilidade de alguns homens absorverem mais e outros menos, numa determinada área de conhecimento, o processo pedagógico acontece em ambos os sentidos: Professores e alunos aprendendo juntos, construindo juntos, e dividindo experiências e saberes.

Desta forma, a Educação será entendida como um processo em constante evolução positiva, onde não haja distorção entre valores e modernidade tecnológica: O gosto pela pesquisa e pela descoberta vão sempre prevalecer; o marketing agressivo, mercadológico e, algumas vezes imoral, não ditará as regras de convivência; o lucro buscado pelas empresas e detentores do poder capitalista deverá surgir apenas se o produto oferecido realmente valer o que pesa; e a consciência regulamentadora da tecnologia e dos conteúdos esteja intrínseca em cada ser, para que ele possa ser o seu próprio filtro das novidades que lhe vêm abruptamente.

A partir destas ponderações, podemos começar a criar um ambiente de convivência pacífica entre o advento exacerbado das novas tecnologias com o processo de ensino-aprendizagem.

E quando se fala em convivência pacífica, todos devem fazer a sua parte: O poder público com o compromisso com uma educação de qualidade aliada às novas tecnologias; a sociedade de pais, alunos e professores unidos pela construção alicerçada de seus propósitos em adquirir e difundir o conhecimento; e as potências capitalistas reformularem seus conceitos sobre a aquisição de lucro, sob pena de serem punidas pela apropriação indevida dos direitos de todo cidadão, que estão descritos na lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, em seu artigo 2º, sobre os Princípios e fins da Educação Nacional: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Enfim, com esta visão, espera-se construir uma sociedade plural, democrática, solidária e atuante para o bem comum. E esta visão se tornará o carro chefe das aspirações humanas, e a memória RAM deixará de ditar e armazenar os conteúdos que mais lhe aprouver apenas, pois estará sujeita a passar pelo crivo das perguntas e dos anseios dos homens.

Antonio Marques de O Santos
Enviado por Antonio Marques de O Santos em 16/06/2011
Reeditado em 16/06/2011
Código do texto: T3037558
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