Humor "custe o que custar"!

Wilson Correia

“Toda mulher que reclama que foi estuprada é feia. O homem que cometeu o ato merecia um abraço”. Essa tem sido uma das “piadas” mais comentadas nos últimos dias. Ela indica bem o tipo de sociedade na qual vivemos: de pão e circo. A sociedade do espetáculo.

“Uma lei geral do funcionamento do espetacular integrado, pelo menos para aqueles que lhe gerem a conduta é que, neste quadro, tudo aquilo que pode fazer-se deve ser feito. Quer dizer que todo o novo instrumento deve ser utilizado, custe o que custar” (DECORD, G. A sociedade do espetáculo, p. XXIX).

Estão aí os resultados disso.

Nessa leva, pode custar tudo: o bom senso, o dito ácido de Voltaire "ridendo castigat mores" (com o riso se castiga o costume), o respeito e a graciosidade natural dos acontecimentos da vida. No lugar deles entram a chatice, o riso estridente, a piadinha infantil, preconceituosa, bobinha, aberrante e bizarra.

Cômicos bobinhos intrusos, agressivos, “filhinhos birrentos”, pueris, querendo que tudo se curve ao seu reles espetáculo, custe o que custar.

Espezinham pessoas, estilhaçam dignidades, aniquilam qualquer reconhecimento do humano porque "humano sou". Trata-se de pequenos monstrengos do sistema, falando em nome não se sabe lá do que, a título de fazer humor, quando não passam da comicidade ("O cómico é riso; o humor, sorriso", diz Carlo Dossi).

Humor que nada!

Que humor é esse que para provocar o riso precisa se valer da miséria humana em “reto tom”, diuturnamente?

Segundo Nicolas Boileau, “Uma boa piada só tem graça se disser um coisa em que todos pensam, mas de uma maneira elegante, viva e nova".

Elegância?

Nada a ver... encontramo-nos em tempos de “custe o que custar”.