A EDUCAÇÃO ENTENDIDA COMO AÇÃO PRODUZIDA PELO HOMEM...

A escola tem se mantido através dos tempos como fator importante da evolução da humanidade, enfrentando toda sorte de reformas de ensino, sem alterar a sua natureza básica, que é transmitir conhecimento. Hoje, a escola enfrenta graves problemas em função da crise que passam o ensino e a educação. Não há dúvida de que a educação é o grande problema que desafia os educadores e cientistas sociais. Preocupa a todos e cada um procura, focalizando o problema segundo a área de conhecimento de sua especialidade, medir as conseqüências e alguns se permitem, até mesmo, formular soluções. No que diz respeito à Língua Portuguesa, vale a pena considerar a crise do ensino escolar, sob o enfoque que lhe dão muitos professores de hoje. Segundo eles, a escola se utiliza principalmente do canal gráfico que, em relação aos demais canais de comunicação, está consideravelmente ultrapassado. Se, no passado, o canal gráfico era a única via de acesso à informação, se, da leitura dependia o ingresso do indivíduo no universo informativo, hoje, sem saber ler, a criança dispõe de um acervo tão grande de informação, que a escola se afigura como instituição ultrapassada. É que os canais visual e sonoro contam com um aparato tecnológico tão perfeito, que assegura uma rápida e eficaz transmissão de mensagens, numa economia máxima de tempo, enquanto a leitura continua sendo um ato individual. Daí que o hábito de ler venha sendo substituído pelo hábito de ver e ouvir. O lugar destinado à biblioteca, agora é ocupado pela aparelhagem de som, e as horas de lazer, antes destinadas à leitura, são gastas diante da televisão.

Os métodos utilizados pela escola para cumprir sua finalidade específica são bastante variados; incluem desde métodos que se baseiam na transmissão pura e simples da matéria pelo professor, até métodos em que a aprendizagem se faz a partir das próprias experiências dos alunos, em que estes, elaboram seu próprio conhecimento da realidade. De acordo com Alves (1994, p.3) “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais.”

Entendemos que a ação do professor na sala de aula está diretamente ligada à formação de pessoas, ou seja, à educação de indivíduos, à sociedade como um todo.

Dando seqüência a esse nosso pensamento, refletimos, pois, no significado da palavra Educação.

A princípio seu conceito tem origem no latim. E – ducare, que significa ato ou efeito de educar, criar, cultivar, levar de um lugar para o outro, conduzir com o intuito de pensar na necessidade de tais atos ou efeitos, faz-se necessário dizer que entendemos a educação nestes dois sentidos: o sentido lato e sentido estrito.

Reportando-nos ao sentido lato, compreendemos que a educação seria toda ação produzida pelo homem, que se torna ao mesmo tempo, também, produtora do próprio homem, que se faz por via de um processo dinâmico iniciando-se desde o nascimento. Neste sentido, pensamos sobre a educação como um processo vital, o que afirmamos, em razão do fato de compreendermos que o homem, no seu processo de desenvolvimento, necessita de uma adaptação geral ao meio em que está inserido, adaptação esta que envolve todos os aspectos que o compõem. Desta forma, concordamos com Saviani, quando este afirma o que se segue:

A educação, enquanto fenômeno, se apresenta como uma comunicação entre pessoas livres em graus diferentes de maturação humana, numa situação histórica determinada; e o sentido dessa comunicação, a sua finalidade é o próprio homem, quer dizer a sua promoção. A educação assim considerada, é encontrada em todas sociedades: de maneira simples e homogênea, nas comunidades primitivas; de modo complexo e diversificado, nas sociedades atuais. Aparece de forma difusa e indiferenciada em todos setores da sociedade: as pessoas se comunicam tendo em vista objetivos que não o de educar e, no entanto, educam e se educam trata-se aí da educação assistemática; ocorre uma atividade educacional, mas ao nível da consciência irrefletida, ou seja, concomitantemente a uma outra atividade, esta sim, desenvolvida de modo intencional. (SAVIANI, 1996. p.83)

Nesta direção, afirmamos que este envolvimento concretiza-se por meio das relações estabelecidas no meio, proporcionando, assim, a construção de conhecimentos informais.

No sentido estrito, a educação ocorre mediante a construção formal dos conhecimentos sistematizados e ministrados por professores em instituições apropriadas, ou seja, nas escolas, as quais, por sua vez, exercem o papel de inculcadoras, visão de mundo, ou modos de vida do interesse de um determinado grupo. A este respeito, Saviani posiciona-se da seguinte forma:

Educar passa a ser um ato explícito da atenção, desenvolvendo-se uma ação educativa intencional, então têm-se a educação sistematizada. O que determina a passagem da primeira para a segunda forma, é o fato de a educação aparecer ao homem como problemática, ou seja: quando educar se apresenta ao homem como algo que ele precisa fazer e ele não sabe como fazê-lo. É isto o que faz com que a educação ocupe o primeiro plano na sua consciência se preocupe com ela e reflita sobre ela. Assim a educação sistematizada passa a ser tal, deverá apontar os requisitos apontados em relação à atividade sistematizadora em geral. (SAVIANI, 1996, p.84)

O enfoque que prevalece na visão dos alunos sobre a concepção de educação é de um entendimento sustentado na concepção tradicional de educação, na qual se entende o aluno como um ser passivo, receptor e acumulador de conhecimentos. Uma conotação de educação quase sempre relegada ao sentido estrito, ou seja, institucionalizada e também como um processo de aquisição, ou de transmissão, demonstrando o predomínio desta tendência que historicamente falando, encontrava-se enraizada no Brasil desde a época dos jesuítas, com fins de proselitismo e missionarização.

No ponto de vista dos docentes destacam-se aspectos ligados a uma visão de processo, continuidade, interação, crítica, desenvolvimento, sociedade, produção, construção formação, expressando a definição dos mesmos, no que toca à educação. Raramente observamos em ambos os casos o conceito de educação como transmissão de conteúdos, o que não aconteceu nas respostas dos alunos, que os enquadrou num contexto estrito e tradicional.

Dessa forma, entendemos que os professores definem a educação como um processo realizado em um sentido lato, proclamando uma visão de homem em movimento, por um processo não restrito a formalidades, ou seja, um homem crítico, interativo, construtivo, superando o pensamento tradicional.

Este fato nos intriga, pelo simples motivo de estar sendo incoerente, partindo do pressuposto de que estes mesmo professores exercem a função que lhes competem diante aos alunos, convivendo, conversando, discutindo questões referentes a esta categoria, com os mesmos no decorrer do exercício de suas relações em sala de aula. Alguns depoimentos deixam bastante evidentes essas nossas afirmações:

“A educação deve ser como um processo, algo que tem um início e nunca termina, e que envolve o ser humano como um todo: físico, intelectual, emotivo, psicológico, social, religioso.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio);

“... a educação deve estar a serviço da coesão social e da participação democrática, preocupada com o desenvolvimento humano e com cidadania.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio);

“Processo pelo qual nos tornamos capazes de agir, interagir, interferir conscientemente e criticamente no meio que nos cerca. É o meio capaz de fornecer a instrumentalização necessária na luta por nossos direitos e espaços na sociedade.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio);

“... Educação é a construção do sujeito cidadão.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio);

“... é um processo dinâmico que todos os seres humanos necessitam para se desenvolverem e atuarem no mundo como sujeitos críticos e criativos.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio);

“... um meio pelo qual o homem irá se formar e transmitir conteúdos culturais, analisando-os e refletindo sobre o seu significado.” (Prof. de L. Port. – Ens. Médio).

É mister salientar que consideramos que estes professores não têm uma visão negativa da educação, pois ao mesmo tempo que a colocam como um processo de desenvolvimento do homem, proclamam a possibilidade de fazer da educação uma necessidade de transformá-la em um meio de luta para um mundo mais justo, mais fraterno, pela construção do sujeito cidadão, preparação indispensável à luta por nossos direitos e espaços na sociedade.

Márcia Maria Mares Figueiredo

Márcia Mares
Enviado por Márcia Mares em 22/07/2011
Código do texto: T3112099