A inclusão como estrátégia para a hegemonia

Wilson Correia

Já que a poesia foi chamada ao debate, vamos lá, para um outro embate.

Brasileiros, temos uma experiência recente de exclusão pela ditadura. Na “democracia”, experimentamos a exclusão por outras vias.

Paralelamente à ditadura, certa esquerda almejou o poder. Enquanto almejava o poder, alimentou o discurso dos intelectuais autorizados a fazerem a crítica do sistema.

Uma vez no poder, essa tal esquerda extinguiu a fonte da crítica e copulou com o monstro. Setores que olham para além da “bolha” não logram a menor visibilidade. Estão excluídos, expurgados.

Os excluídos informacionais podem ser contados aos milhões. Vi muito pobre excluído lutar para ser incluído, lutando, apenas, pelo bem do próprio umbigo.

Negar isso seria negar o que vi e vivi, o que passo e ainda vivo. Por isso, meu primeiro compromisso é para com a minha história, a qual, se renegada, não me educará para a compreensão da exclusão alheia.

Por mais desconfortante e perturbador que seja, uma coisa temos que admitir: políticas de inclusão praticadas nos últimos anos no Brasil não são mais que uma estratégia de conquista de hegemonia por aquela esquerda que, incestuosamente metida com o capital, serve-se das mesmas estratégias do capitalismo para lograr hegemonia (partidária), e nada mais.

Não sejamos ingênuos. A história jogará na cara de nossos filhos e netos o que, hoje, tentamos escamotear: esquerda desse matiz, quando vira situação, nada faz além de esvoaçar migalhas do próprio pão.

Não estão a fim de mudar nada. Que tudo continue como dantes, mas privilegiando alguns enquanto a milhões é negado o direito aos direitos individuais, sociais e políticos que cabem a todos nós.

Ser conivente com essa estratégia é um crime, um acinte, uma aberração. Se não pensássemos, talvez aceitássemos essa perversão.

Mas pensamos, e, aí, reside o “x” de toda essa questão.