Por que as cotas excluem os excluídos VII

Wilson Correia

“Senti que na discussão até aqui encaminhada, ao menos no início, pelo Prof. Glênon, com quem já conversei sobre o assunto, e pelo Prof. Wilson, gira em torno de dois problemas: 1) A cota racial pode excluir um pobre branco; 2) O conceito de raça é impróprio para uma política de cotas. Claro que as questões já discutidas foram muitas, mas eu procurei me dedicar a pensar em torno desses dois problemas, porque os considerei para mim mais simples de tratar, ainda que não os considere fáceis de resolver” (Prof. Gilfranco).

Creio que uma das atitudes caras a quem se lança em um debate como o que temos travado até aqui –e salutar, visto que nos encontramos em uma academia, cuja função é a de ser um semeadouro de ideias– é a que realiza a honestidade intelectual. Um “iluminado”, do alto de sua “sapiência”, a dizer o sentido do que eu digo, não!

Nesse aspecto, no que respeita a mim, em nenhum lugar dos últimos textos que veiculei nesta lista, bem como alhures, encontra-se a afirmação, assinada por mim, de que “A cota racial pode excluir um pobre branco”.

Não opero com o conceito de raças, e, portanto, tal afirmativa soaria descabida no contexto do raciocínio que me esforço por desenvolver.

A honestidade intelectual reza que devemos ser fiéis ao que o outro diz, condição de possibilidade para que tenhamos um debate limpo, baseado no “fair play”.

Distorcer a palavra do outro ou atribuir à lavra alheia algo que ele não disse resulta em desonestidade intelectual e, com isso, não posso transigir.

O meu argumento nos leva ao questionamento sobre as estruturas econômicas, políticas e culturais que sustentam a sociedade capitalista, essa que explora, não importando a “cor” da pele, desde que seus dogmas estejam a salvo.

Por que as últimas manifestações se dão o direito a esse tipo de distorção –pois ninguém aceita discutir estrutura, mas, apenas, conjuntura- vejo prejudicado o restante da intervenção.

Se se referirem ao meu pensamento, peço a fineza de se aterem ao que eu escrevi e assinei. Assim, teremos um debate mais digno de nossa dignidade.

Não creio que o desfile de autores e textos seja o melhor a fazer nessa altura do campeonato. Isso satisfaz a senha “erudicista” que campeia a academia, mas não acrescenta em nada ao nosso debate.

Volto a perguntar: por que discutir estruturas se tornou algo incômodo?

Ademais, em nenhum momento dos meus textos, afirmei que “O conceito de raça é impróprio para uma política de cotas”. O que eu tenho afirmado é que esse conceito é “trôpego”, “claudicante”, “inexistente”. Como tal deveria ser tratado por quem deseja comentar minhas afirmações.

O que está claro para mim é que a política de “cotas” não passa de um mecanismo político do sistema capitalista (também usado pelo socialismo), visando a aplacar as tensões sociais e a alcançar hegemonia no âmbito do poder. Se isso também for levado em consideração, agradeço.

Creio que nenhum projeto educacional está a salvo de manter, subjacente às suas finalidades, uma concepção societária, aliada a uma concepção antropológica. Interessa-me a finalidade dos projetos de educação, incluindo as políticas de inclusão.

Somos contra ou a favor do modelo societário e do estilo existencial que está proposto para ser trabalhado pela educação?

Se, com a honestidade que a expressão do pensamento exige, expressássemos nossas posições sobre isso, creio, nossas intervenções seriam mais úteis.

Elas revelariam o lugar econômico, político, cultural, epistêmico e pedagógico do qual partimos para dizermos “isso” e “aquilo”.

Espero, sinceramente, que o debate seja limpo, respeitador dos compromissos éticos alheios e reverentes à verdade que, de mais a mais, não se concentra em uma única mão.

Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no CFP da UFRB.