Professor, professores

Wilson Correia

Ser professor é um tipo de aprendizagem que não termina nunca, até que a aposentadoria definitiva e total seja alcançada. Até a formação inicial, o professor já se apropriou do saber da vida, esse que envolve a vivência na família, na comunidade de rua, de bar e de bairro; já se apropriou, também, dos saberes das atividades profissionais não ligadas à docência.

Entre muitos outros saberes, é com essa gama de bem simbólico que o docente entra em um curso de formação inicial, voltada para a aquisição do domínio específico. Terminada essa etapa, ele entra no processo de formação continuada, aquela cuja terminalidade é encontrada com a aposentadoria como professor.

Logo, é visível que o professor só se faz professor se mergulha nessa rede de saberes. Ninguém se educa sozinho. Ninguém educa sozinho. Sem contar que, enquanto desenvolve o ato educativo, o próprio professor se educa.

O problema reside na confusão entre presencialidade e ato de educar. Se a presencialidade fosse um requisito “sine qua non” para haver o ato educativo, o que seria da academia? Ela que coloca a comunidade “acadêmica dos mortos” para continuar a ensinar por meio de suas obras?

Os saberes humanos, imateriais que são, também não estão a depender de maneira irrestrita da materialidade da presença do ensinante. Compreender o ato educativo dessa maneira seria um reducionismo crasso sobre o ato de ensinar.

Dois professores podem estar presentes em sala de aula, sem que compartilhem nenhum conhecimento. O estar ao lado não garante, por si só, essa socialização do saber. E, diferentemente disso, dois professores podem entrar em momentos diferentes em sala de aula, podendo, aí, haver produção comum de novos saberes diante de uma turma. Desse modo, penso eu, a questão reside no “como” se faz.

Não raro, um professor que preparou o plano de ensino juntamente com o colega, que selecionou os “pré-textos” de leitura (pois o conteúdo da aula mesma está no professor e nos alunos), de repente, vê o outro suspender, unilateralmente, o contrato pedagógico inicial feito entre ambos e os estudantes. Isso tem acontecido demais, ocorrência que impede o compartilhamento enriquecido e significativo de componentes curriculares.

Em minha experiência, por conta da ética profissional, sempre digo aos alunos que o nome de outro professor só seja mencionado em sala quando se trata de uma contribuição efetiva e de relevo para nossos trabalhos. Também não aceito críticas veladas, pois apenas os envolvidos em uma relação pedagógica podem resolver as questões que surgem nessa interação “sui generis”, que muda em cada turma à medida que também mudam as relações entre docentes e discentes.

Porém, é o próprio sujeito com quem se compartilha um componente curricular aquele que toma o trilho de desmerecer aquilo que ele mesmo ajudou a planejar. E os alunos ficam entre dois direcionamentos distintos e não salutares à formação que buscam na academia.

Quando isso acontece, aquele intento inicial de compartilhar um componente curricular visando ao enriquecimento da prática educativa perde completamente o sentido. Pode, além disso, acarretar problemas de ordem da ética profissional, que aniquilam qualquer possibilidade de aprendizados novos serem incorporados ao trabalho em conjunto.

Por isso, entendo que, em tese, o professor não se forma sem participar da socialização dos saberes, isso que ele faz na vida e na academia, o tempo todo. Porém, entendo que a escolha por compartilhar um componente deve ficar a cargo dos professores, os quais, mesmo assim, vez ou outra, acabam errando em suas escolhas, em suas generosidades, em seu desejo de algo em comum.

A experiência mostra que expedientes administrativos e meramente formais motivando esse tal compartilhamento promovem o contrário do que se esperava inicialmente. Por isso a escolha do “quê”, “como”, “quando”, “onde”, “por quem” e “para quem” fazer o que se faz em uma sala de aula deve se dar sob a autoridade soberana dos professores.