PAULO FREIRE - Alfabetização

O que muita gente confunde ou ignora, Paulo Freire fazia distinção entre leitura e escrita. Embora ambas tenham importância, ele priorizava a leitura porque, para ele, todas as pessoas, indepen-dente de idade, inclusive analfabetas, sabem fazer a “leitura do mundo”.condicionadas pelo ambiente onde vivem.

A leitura se torna pois, o principal objetivo da alfabetização. Por isso, é essencial o conhecimento do contexto sócio econômico onde os futuros alunos convivem. Por isso, a escrita e o texto, tão apreciado pelos adeptos das idéias de E. Ferrero, constituem uma simples sequência lógica da aprendizagem da leitura

Como resultado do conhecimento do contexto sócio- econô-mico, no qual vivem os alunos, e pela pesquisa de vocabulário, realizada nesse contexto, surgem as “palavras geradoras” que serão aproveitadas para o inicio da aprendizagem da leitura.

Basicamente, há três fazes principais do método: 1- o levan-tamento vocabular do grupo; 2- a decomposição das famílias foné-ticas; 3- a formação de palavras novas.

Em uma situação na qual os alunos, em sua maioria, traba-lham em construção civil, por exemplo, usam-se palavras relacio-nadas a essa situação. Assim, surgiu a palavra TIJOLO, cujas sila-bas (ta-te-ti-to-tu-ja-je-ji-jo-ju-la-le-li-lo-lu) reorganizadas, origi-naram outras tantas palavras. Conta-se que um dos alunos, após o conhecimento das silabas, anunciou, jubilosamente, sua descoberta: “Ó gente, tu já lê”!

E interessante notar que Paulo Freire, com toda certeza, se inspirou nas cartilhas de seu tempo, inclusive naquela em que se alfabetizou, para criar e construir seu projeto de alfabetização, nascido em 1962...

Quando se diz que o método Paulo Freire não usava cartilhas é porque, obviamente, não havia cartilhas com suas propostas. Podem-se reprovar as orações sugeridas pelas cartilhas ou a forma como se fazia a escolha das palavras geradoras, porém a semelhan-ça é evidente, pois as cartilhas objetivavam crianças, não adultos.

Entre alunos de 6 e 7 anos de idade, por motivos óbvios, não havia possibilidade de discutir escolhas de vocabulário. Por isso, as palavras geradoras das cartilhas eram eleitas e selecionadas pelos seus autores, conforme as dificuldades surgidas, na sequên-cia do ensino da leitura. Na realidade, no método Paulo Freire de alfabetização, as palavras escolhidas, em discussão com os alunos, também eram classificadas e selecionadas pelo professor, de acor-do com as dificuldades silábicas, na sequência do ensino da leitura. Nas cartilhas, nascidas a séculos, autores e autoras se utilizavam de processo semelhante, pois realizavam pesquisa de vocabulário, no contexto da convivência infantil, isto é, no lar (papai, vovó); em brinquedos (boneca, bola); com animais (cachorro, gato); no folclore (saci pererê) etc. cujas silabas, uma vez reordenadas, mo-tivavam o aparecimento de outras palavras.

carlosmorais
Enviado por carlosmorais em 03/09/2011
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