Bullying: Um fenômeno social que precisa ser erradicado

BULLYING: UM FENÔMENO SOCIAL QUE PRECISA SER ERRADICADO

Guiovane Araujo Alves

Resumo: O “bullying”, uma expressão inglesa “bully” (valentão, brigão), utilizada para descrever atos de violência por um individuo ou grupo, com o objetivo de intimidar, humilhar ou agredir outro(s) individuo(s) incapaz(es) de defender-se. É um problema social, encontrado atualmente em toda e qualquer escola, sendo assim um dos temas polêmicos da atualidade, pois seus efeitos são devastadores tanto para a vítima quanto para o agressor. No sentido de contribuir para a erradicação deste problema, este trabalho apresenta relatos, reflexões e informações a respeito do assunto, a partir de pesquisa bibliográfica. Devido o objetivo do estudo em questão, inicialmente fazendo um breve relato do bullying no mundo e no Brasil, bem como suas causas, conseqüências e formas de evitar e conter a proliferação deste mal e assim contribuir na formação humana, de cidadãos plenos, éticos e críticos de justiça igualitária, mesmo em uma sociedade tão diversa, complexa e carente de afetividade.

Palavras-chave: Bullying, escola, agressão e afeto.

1 - INTRODUÇÃO

A escola é um lugar privilegiado para refletir sobre as questões que envolvem crianças e jovens, pais e filhos, educadores e educandos, bem como as relações que se dão na sociedade. É também nesse universo onde a socialização, a promoção da cidadania, a formação de atitudes, opiniões e o desenvolvimento pessoal podem ser incrementados ou prejudicados.

Entre os tantos desafios já existentes na rotina escolar, está posto mais um, o bullying. Bullying é uma expressão inglesa, derivada de “bully” (valentão, brigão), utilizada para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar, humilhar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões, porém, também são vítimas de bullying pela turma.

Geralmente, os ataques são produzidos por um grupo de agressores, reduzindo as possibilidades de defesa das vítimas. As estratégias de ataques, normalmente, são ardilosas e sutis, expondo as vítimas ao medo, à humilhação e ao constrangimento público. Os agressores se valem de sua força física ou psicológica, além da sua popularidade para dominar, subjugar e colocar sob pressão, o "bode expiatório". Entretanto, torna-se evidente entre eles a insegurança, a necessidade de chamar a atenção para si, de pertencer a um grupo, de dominar, associado à inabilidade de expressar seus sentimentos e emoções. Por isso, a escolha das vítimas, privilegia aquelas que não dispõem de habilidades de defesa.

Fante (2005, p. 28-29), sintetizando o consenso internacional sobre o conceito de Bullying, assinala:

Por definição universal, “bullying” é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos morais, físicos e materiais, são algumas das manifestações do comportamento “bullying”.

Considerando-se que as relações entre agressores e vítimas são bastante extensas no tempo e no espaço, as conseqüências pessoais, institucionais e sociais de tal violência são incalculáveis (Olmedilla, 1995).

Ainda neste contexto, como uma forma mais agressiva de “bullying”, que ganha cada vez mais espaços sem fronteiras é o ciberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas, internet e seus recursos (emails, sites de relacionamentos, vídeos). Além de a propagação das difamações ser praticamente instantânea o efeito multiplicador do sofrimento das vítimas é imensurável. O ciberbullying extrapola, em muito, os muros da escola e expõe a vítima ao escárnio público. Os praticantes desse modo de perversidade também se valem do anonimato e, sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível. Traumas e conseqüências advindos do bullying virtual são dramáticos .

2 - A INCIDÊNCIA DO FENÔMENO “BULLYING”: UM BREVE RELATO

O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo especifico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de bullying entre seus alunos desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo.

Tragédias como o Massacre de Virgínia, assassinato em massa que ocorreu na Universidade de Tecnologia da Virginia, Estados Unidos, em abril de 2007, são exemplos de conseqüências extremas a que a prática do bullying pode levar. Na ocasião, o estudante sul-coreano Cho Seung-Hiu, 23 anos, assassinou 32 pessoas, deixou 21 feridas e, em seguida, se suicidou. O estudante era ridicularizado durante o ensino médio pelo excesso de timidez e pelo jeito de falar. Ele sofria rejeição e depressão.

Outro caso que foi destaque na imprensa mundial foi o assassinato em Columbine, no Colorado, em abril de 1999. No episódio, os estudantes Eric Harris, 18, e Dylan Klebold, 17, alunos da Columbine High School, mataram doze colegas e um professor antes de se suicidarem. Os estudantes não eram populares na escola e eram ridicularizados pelos atletas.

Em 19 de novembro de 2004, em Atlanta, Estados Unidos, duas meninas de 13 anos foram presas por terem feito um bolo com remédio vencido, água sanitária, barro e molho de pimenta que, depois, serviram aos colegas da escola. Doze adolescentes foram parar no hospital por causa da maldade das garotas.

2.1 - A INCIDÊNCIA DO FENÔMENO “BULLYING” NO BRASIL

No Brasil, também há registros de casos de violência extrema relacionada ao bullying. Em 2004, um aluno de 18 anos de uma escola em Taiúva, no interior de São Paulo, feriu oito pessoas e se suicidou em seguida. Segundo a policia apurou com familiares, o motivo da revolta seria as constantes humilhações que o aluno sofria por ser acima do peso.

Em fevereiro de 2004, na Bahia, um jovem de 17 anos matou duas pessoas e feriu três. Ele sempre sofria humilhações na escola. Revelou que matou outro garoto de 13 anos, porque este vivia humilhando-o e, no dia do crime, teria estragado sua mochila, jogando um balde de lama sobre ela .

Um levantamento realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), em 2002, envolvendo 5.875 estudantes de 5ª a 8ª séries de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.

Estudos revelam que entre o ano de 2000 e 2003, 49% dos alunos do 6º ao 9º ano no Brasil estavam diretamente envolvidos com o bullying, dos quais 22% eram vítimas, 15% eram agressores e 12% eram vitimas agressoras. A pesquisa foi realizada pelo Centro Multiprofissional de Estudos e Orientações sobre o Bullying Escolar (CEMEOBES), com dois mil alunos.

Nessa perspectiva, observa-se, em linhas gerais, que o bullying, é um fenômeno universal e democrático, e vem ocorrendo em todos os estratos sociais, assumindo proporções na contemporaneidade e expressando-se nas refrações e agudização da questão social. Portanto, faz-se necessário buscar compreender este momento, marcado pelas repercussões para a vida de todos e, buscar auxiliar e conduzir os jovens na construção de uma sociedade mais justa e menos violenta.

3 - CARACTERÍSTICAS DO BULLYING

Os estudos disponíveis sobre as características mais freqüentes entre autores e vítimas de “bullying” sugerem a existência de importantes traços distintivos entre estes dois grupos, quando comparados ao conjunto dos demais estudantes não envolvidos diretamente com o fenômeno.

Os autores de “bullying”, os bullies, são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Podem ser fisicamente mais fortes que seus colegas; costumam, também, ter envolvimento com práticas violentas e delituosas; sentem necessidade de dominar e subjulgar; têm personalidades autoritárias e podem se enraivecer muito rapidamente e usar a força; são impulsivos e toleram mal as frustrações; apresentam uma opinião positiva de si mesmos. Admite-se que os que praticam o bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes ou criminosas.

As vítimas, por sua vez, são pessoas ou grupos de pessoas, que são prejudicados ou que sofrem as conseqüências do comportamento de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. Possuem baixa auto-estima; são menos confiantes; mais introvertidas; possuem menores habilidades de relacionamento; demonstram dificuldades de impor-se ao grupo, sendo habitualmente não agressivas nem provocadoras. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com freqüência ou abandonam os estudos. Há jovens que, com extrema depressão, acabam tentando ou cometendo o suicídio.

Segundo Geane Silva (2006), de acordo com pesquisadores, a vítima pode ser classificada em três tipos:

 Vitima típica: é pouco sociável, sofre repetidamente as conseqüências dos comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, algumas dificuldades de aprendizagem, ansiedade e aspectos depressivos, sentindo dificuldades de impor-se ao grupo, tanto de forma física quanto verbal.

 Vítima provocadora: refere-se àquela que atrai e provoca reações agressivas contra as quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas não obtém bons resultados. Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, tola, imatura, de costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente em que se encontra.

 Vítima agressora: reproduz os maus tratos sofridos. Como forma de compensação procura outra vitima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas na escola, em casa ou na rua, transformando o bullying em um ciclo vicioso.

4 - CONSEQUÊNCIAS DO BULLYING

As conseqüências do bullying afetam a todos, mas a vítima sempre é a mais prejudicada, pois além da agressão física e psicológica poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua vida, desenvolvendo ou reforçando atitudes de insegurança e dificuldades de relacionamento, tornando-se uma pessoa apática, retraída, indefesa e com sede de vingança aos ataques externos, que muitas vezes são seguidos na vida adulta, onde a vítima passa a ser o centro de gozações entre colegas de trabalho e familiares e apresentando assim, um autoconceito de menosvalia, considerando-se inútil e descartável, e diante deste diagnóstico, pode desencadear um quadro de neuroses, como fobia social ou até casos mais graves de psicoses que dependendo dos maus tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao homicídio seguido ou não de suicídio.

O agressor pode ser de ambos os sexos, oriundo de família desestruturada (com parcial ou total falta de afetividade), reproduz em suas futuras relações o modelo que sempre lhe trouxe resultados: “o do mando-obediência pela força e agressão”. O bullies tem caráter violento e perverso, com poder de liderança que é obtido por meio da força e da agressividade. É fechado a afetividade e tende à delinqüência e a criminalidade, agindo sozinho ou em grupo, nunca aceita as normas impostas, não aceita ser contrariado e geralmente está envolvido em atos de pequenos delitos, e por conseqüência de seu comportamento, geralmente apresenta desempenho escolar deficitário.

Além da vítima e do agressor, também existe os espectadores que geralmente são alunos que adotam a “lei do silêncio”, onde testemunham tudo, mas não denunciam ou tomam defesa do agredido, por medo de serem a próxima vítima. Alguns não participam dos ataques, porém dão apoio ao agressor.

De qualquer maneira, o bullying afeta toda uma sociedade, seja como agressor, vítima ou espectador, pois tais ações deixam cicatrizes perceptíveis ou imperceptíveis, tanto a curto, médio e até a longo prazo, pois dependendo da intensidade das agressões, causam frustrações e comportamentos desajustados, até atitudes sociopatas.

Diante do exposto, pode-se considerar que a agressividade pode estar condicionada a fatores como: distúrbio de personalidade, transtorno de relacionamento, influência de amigos e família; estrutura escolar e seus métodos pedagógicos; fatores políticos, econômicos e sociais, ou seja, a violência na escola está ligada ao contexto social, familiar e escolar.

5 – COMO ERRADICAR O BULLYING?

Segundo Geane Silva (2006), para erradicar o bullying é necessário identificar os envolvidos (vítima, agressor e espectador), para isso, pais, professores e responsáveis precisam estar atentos ao comportamento das crianças ou adolescentes, tanto no ambiente escolar, quanto no convívio familiar e social.

O bullying combate-se com mais educação, mais afeto, mais atenção, mais saber e mais cultura. Todos somos responsáveis. Costuma dizer-se que é melhor convencer do que vencer. Isto é, se tivermos a eloqüência suficiente, se soubermos mostrar que é mais útil, que se ganha mais em ser bem educado, em respeitar as diferenças dos outros, em estudar com afinco, e não apenas repassar saberes,etc. Sabe-se que a educação não é o único caminho para o combate ao bullying, mas é, sem dúvida, o mais importante, tanto pelo seu papel formador como pelo poder multiplicador que possui.

Geane Silva (2006), comenta: “Não há receita pronta ou certa de como educar, mais educar pela e para a afetividade já é um bom começo, considerando que cada família é um mundo com características peculiares, então não se deve cruzar os braços e esperar os fatos acontecerem, é preciso colocar em prática o exercício do afeto e respeito entre os membros de uma família, que se bem estruturada , tem no diálogo, na verdade e na confiança o sustentáculo da relação interpessoal entre pais e filhos. É preciso evitar atitudes de autoproteção ou descaso, porém, amor e atenção em dose certa é fundamental na formação do ser humano”.

Neste contexto, sendo a escola também responsável pela formação humana, esta precisa desenvolver um olhar mais observador, tanto do ponto de vista dos professores, quanto aos demais componentes da comunidade escolar, tomando medidas preventivas e de ações atitudinais rotineiras e não apenas conceituais. Faz-se necessário identificar e neutralizar a violência e os agressores, bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em parceiros incondicionais. Vale ressaltar que a escola (funcionários de modo geral), precisa ser o exemplo de educação, desmistificando o velho ditado de “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”.

6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Considerando os fatos abordados, conclui-se que o “Bullying” é um mal social, que vem tomando proporções alarmantes diante da desestruturação familiar e educacional que o mundo enfrenta, onde os valores como respeito, afetividade, atenção, amor ao próximo e educação, são desconsiderados diante da necessidade de mostrar “poder” e assim parecer mais forte. No atual mundo globalizado, onde se cultua o “Darwinismo social - a lei do mais forte”, onde a educação é sucumbida, favorecendo assim o poder econômico, a ganância e conseqüentemente a agressividade, os jovens estão crescendo com concepções erradas de família e educação. Nessa perspectiva, espera-se que este trabalho venha a contribuir no despertar sobre a responsabilidade dos pais e educadores na formação humana e assim poder evitar males como o bullying.

7 - BIBLIOGRAFIA

ABRAPIA – Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência. Programa de Redução de Comportamento Agressivo entre Estudantes. Disponivel no site: WWW.observatoriodainfancia.com.br, acessado em 23/03/2011.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Bullying, Cartilha 2010, Projeto Justiça nas Escolas. 1.ª Ediçao. Brasília DF: 2010. Disponível no site WWW.cemeobes.com.br, acessado em 23/03/2011.

FANTE, C.A.Z.. Fenômeno bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas SP: Ed. Verus. 2005.

LOPES, N.; ARAMIS, A.; SAAVEDRA, L.H. Diga não para o Bullying: programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro, 2003.

OLMEDILLA, J.M.M. Comportamento antisocial em los centros escolares: uma vision desde Europa. Revista Iberoamericana de Educacion, 18. 2000.

SILVA, Geane de Jesus. Bullying: quando a escola não é um paraíso. Artigo publicado no Jornal Mundo Jovem – Março/2006, pag. 02 e 03.

Guiovane Alves
Enviado por Guiovane Alves em 28/10/2011
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