A história dos quilombos

De acordo com a antropóloga Daniela Carolina Perutti, da Universidade de São Paulo, “os quilombos eram organizações de resistência e luta contra uma sociedade escravocrata. Por isto, traziam em sua proposta uma organização social mais justa.”

Se atualmente existem mais de mil comunidades quilombolas, no tempo da escravidão (1500 a 1888), devem ter existido muito mais do que 2 mil quilombos, calcula Daniela. A Fundação Palmares, órgão ligado ao Ministério da Cultura, para promover e valorizar a cultura afro-brasileira tem uma estimativa bem superior, de cerca de 3 mil áreas de remanescentes de quilombo no Brasil, das quais 500 já são reconhecidas pelo governo. Existiam os quilombos em áreas rurais e também, aqueles em áreas urbanas, que ficavam nas periferias de grandes cidades da época, como Salvador, Pernambuco e Rio de Janeiro.

Os “mocambos", "quilombos", "comunidades negras rurais" e "terras de preto", os vários nomes dessas áreas de resistências, tiveram origens diversas. Uns foram criados em fazendas falidas. Outros pelas doações de terras para ex-escravos. Algumas terras foram compradas pelos escravos alforriados. Outros ganharam áreas como reconhecimento da prestação de serviços de escravos em guerras (Balaiada, Paraguai). Houve ainda algumas que eram terras de ordens religiosas deixadas a ex-escravos no início da segunda metade do século 18.

As histórias das cerca de mil comunidades quilombolas do país é conservada, em grande parte, pela comunicação oral. Por isso, a história dessas comunidades vai se perdendo com o tempo.

As festas populares, a culinária, a devoção a determinados santos e algumas lendas e mitos são mantidas. Mas a sua explicação e significado perdem-se na linha do tempo, quando os moradores mais velhos dos quilombolas morrem.

A maioria dos quilombolas não conhece realmente sua identidade afro-brasileira. Muitos não sabem que existem outras comunidades com as mesmas origens, vivendo situações semelhantes.

Palmares - símbolo de luta pela liberdade

Existiram os quilombos que surgiram como centros de resistência negra à escravidão. Dentre eles, o mais famoso foi Palmares, em Alagoas, que entrou para a História como o maior símbolo da luta negra pela liberdade.

Este é o quilombo mais famoso da história brasileira. Em 20 de novembro, comemora-se o dia da Consciência Negra. Esta data é a mesma em que Zumbi foi assassinado, em 1695, em uma emboscada armada por bandeirantes que queriam destruir o Quilombo dos Palmares. Zumbi virou mártir da luta pelo fim da escravidão.

As primeiras referências à Palmares foram registradas em 1580, na região da Serra da Barriga, onde hoje fica a divisa entre os estados de Alagoas e Pernambuco. No final do século 16, este quilombo ocupava uma grande área coberta de palmeiras entre o Cabo de Santo Agostinho e o Rio São Francisco. Escravos que fugiam de Pernambuco e da Bahia se refugiavam lá. Palmares durou mais de um século.

Alguns historiadores arriscam uma estimativa de que, em 1670, o Quilombo dos Palmares contava com uma população de 20 mil habitantes, distribuídos em quatro grandes núcleos ou mocambos chamados: Macaco, Subupira, Zumbi e Tabocas. O quilombo era próspero e representava uma ameaça aos fazendeiros, já que servia de inspiração para que seus escravos fugissem e se refugiassem lá.

O líder do Quilombo dos Palmares naquela época era Ganga Zumba, tio de Zumbi. Em 1678, o governador da Capitania de Pernambuco ofereceu um acordo de paz a Ganga Zumba, que era desfavorável à população dos Palmares. Ele aceitou o acordo e teve início uma rebelião, liderada por Zumbi.

Os quilombolas voltaram a Palmares e se restabeleceram lá, sob a liderança de Zumbi, que o governou por 15 anos. Foram necessárias 18 expedições do governo português para erradicar Palmares. Zumbi adotou uma estratégia de defesa baseada em táticas de guerrilha. Os portugueses contrataram os bandeirantes Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos Palmares.

Foi uma guerra onde se usou táticas de inteligência. Os bandeirantes capturaram um quilombola que sabia o esconderijo de Zumbi e acabou delatando-o. Em 20 de novembro de 1695, os bandeirantes mataram Zumbi em uma emboscada. Mesmo sem outra liderança, Palmares sobreviveu até 1710, quando se desfez.

Daniela Carolina Perutti
Enviado por Maria José Araujo Rosa em 15/11/2011
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