A poluição sonora como antifruição musical

Wilson Correia

Em meio à revolução científica, durante a qual o centro descentrou-se, deus desdivinizou-se, o finito infinitizou-se e o homem caminhava para antropocentrificar-se, Pascal se espantava: “O silêncio desses espaços infinitos me apavora”.

Apavorou Pascal e nos chega como uma dorzinha fina de agulha existencial em pura crueza, embebida de crueldade. O humano encontra-se completamente só, totalmente em si. Deus jogou a toalha. O céu está silente. Cala-se para a razão reinventar o ser.

O humano terá de enfrentar esse desafio a sós no infinito imponderável. Não há vozes que possam significá-lo, exceto as dele próprio. É abandono cru. Desamparo nu. Alguém haverá de criar novos is para os pingos que estão por aí. Lançados à própria sorte.

Solidão cósmica. Pavor. Espanto. Admiração? Idiotia ôntica. Obtusidade epistêmica. À deriva se torna o destino comum das gentes que outrora acreditaram no dado da criação. Não, não há “um projeto divino, predeterminado, para sua vida. Faça-se!”. Essa era a máxima!

Nessa esteira, os iconoclastas continuaram, conforme nos lembra Eduardo Prado Coelho: “Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do universo; com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal; com Marx, o homem deixou de ser o centro da história (que, aliás, não possui um centro); Com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo”.

Descentrado, estilhaçado, restam-lhe os próprios cacos. A tarefa maior: fazer-se mediante o emprego de seus fragmentos: um pouco de razão aqui, outro de instinto ali; um tanto de sentimento cá, outro tanto de racionalidade acolá. Fazer-se: eis a tarefa que, desde então, dela nenhum humano pode fugir.

Não é algo pouco. Aliás, é um empreendimento por demais grandioso. Teimosos, tentamos fugir dele a todo custo. E uma das maneiras de fugir desse “Faça-te a ti mesmo” é fazendo barulho. Muito barulho, a ponto de estourar nossos tímpanos. Um inferno sonoro a nos dizer: “Não ouça aquele silêncio com o qual Pascal ficou atordoado!”.

Sair às ruas aqui por essas terras é deparar com esse grito desesperado e exasperado. Minha dor no ouvido, o abalo da minha percepção acústico-sonora e minha sensibilidade estética também jogam a toalha: o embrutecimento causado pela poluição sonora me atinge por tabela e eu me rebelo. Até quando?

Até o dia em que, talvez, surja o entendimento do ato estético de ouvir: entrega à harmonia, ao ritmo e à melodia. Dessa tríade, a um palmo do ouvido, qual carícia em nossa sensibilidade, enlevando-nos no belo por meio do ato de sentir, é que resulta a fruição estético-musical. O contrário disso é barbárie auditiva. Uma violência. Um escândalo. Outra forma de pavor.

Bem dizia o “maldito” Artur Schopenhauer: “O barulho é a tortura do homem de pensamento". Pois creiam, amigos e amigas, aqui assina um sujeito torturado!