GETÚLIO VARGAS E CARLOS DE CAMPOS - UM SÉCULO DE EDUCAÇÃO TÉCNICA

Referências no ensino técnico em São Paulo, ETECs Getúlio Vargas e Carlos de Campos comemoram cem anos de fundação

“Contribuir para a formação do indivíduo por meio do desenvolvimento de habilidades, competências e atitudes, com o objetivo de atender com eficiência as demandas do mercado de trabalho, impactando na melhoria da qualidade de vida, na economia sustentável e na preservação do meio ambiente.” Essa é a missão da Escola Técnica Getúlio Vargas que, em setembro, completou cem anos de existência. Ao longo de sua trajetória centenária, diversos foram os nomes por ela adotados. Primeiramente foi chamada de Escola Profissional Masculina, por ocasião da inauguração em 28 de setembro de 1911, durante o governo estadual de Albuquerque Lins e a presidência do “salvacionista” Hermes da Fonseca, isso quando as primeiras escolas de aprendizes artífices do republicano Nilo Peçanha ainda engatinhavam rumo ao reconhecimento da importância, e consequente aceitação do novo modelo de ensino por parte da sociedade. Depois passou a se chamar Instituto Profissional Masculino, e Escola Técnica de São Paulo. Somente na década de 1940, no entanto, que a instituição adotou o nome pela qual se tornou conhecida – Escola Técnica Getúlio Vargas –, homenagem ao presidente Getúlio Vargas, que a visitou por duas oportunidades. Salvo algumas sutis variações normativas, ainda é assim que muitos ex-alunos a chamam. “Os trabalhos e a qualidade dos cursos da GV contribuíram muito para a sociedade paulistana, injetando no mercado profissionais altamente qualificados”, assegura a pedagoga e orientadora educacional Nilza Maria Nicolini. Especialista em planejamento e gestão, ela está mais do que familiarizada com a rotina administrativa e educacional da instituição; afinal, são mais de 26 anos dedicados ao ensino.

Durante a semana do aniversário, mais precisamente de 27 a 29 de setembro, a escola praticamente virou palco para a realização de diversas atividades socioculturais, com os alunos se transformando em artistas para resgatar um pouco de sua história. Desde os famosos bailes de máscara da década de 1940 até o estilo despojado – no bom sentido – e contemporâneo do hip hop, a música ditou o ritmo das comemorações. No roteiro, referências a importantes acontecimentos que marcaram o século, como a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a clonagem da ovelha Dolly, que se tornou um marco da ciência genética na virada do milênio.

Nova administração – Na década de 1970, as escolas técnicas passaram a integrar a Rede de Ensino Básico da Secretaria de Educação. Com isso a GV mudou novamente de nome, passando a se chamar Centro Estadual Interescolar Getúlio Vargas. Anos mais tarde, sua administração ficou a cargo do CPS – Centro Paula Souza, autarquia do governo paulista vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia que, atualmente, responde por dezenas de ETECs – Escolas Técnicas e FATECs – Faculdades de Tecnologia, abreviaturas definidas por meio de um decreto baixado pelo governador José Serra, em abril de 2007, como medida de expansão da educação técnica em todo o Estado. “Em 2012 será implantado o curso técnico integrado ao ensino médio, com duração de três anos”, adianta a professora Nilza. Atualmente, além do médio a escola oferece cursos modulares de 18 meses, formando aproximadamente 1200 alunos por período em 12 especializações.

Entre as maiores dificuldades enfrentadas no passado e no presente, a orientadora aponta as mesmas por que passam muitas das instituições de ensino do País. “Antes, pela falta de profissionais qualificados, havia muitos professores estrangeiros, e isso foi superado com a formação de brasileiros aptos para o ensino; agora, a maior dificuldade é manter o quadro funcional devido ao salário pouco atrativo”, reclama.

Problemas à parte, diversas personalidades do mundo corporativo e artístico chegaram a frequentar as salas de aula da GV ao longo das décadas, contribuindo significativamente para que a escola mantivesse o status de referência em se tratando da qualidade do ensino; entre eles, o economista austríaco Paul Israel Singer, naturalizado brasileiro; o empresário Luigi Bauducco; o ex-jogador de futebol e pintor Francisco Rebolo Gonsales (ver box); o também pintor italiano Alfredo Volpi (1896-1988); João Fernando Sobral, fundador da Invicta – uma das principais empresas de produtos térmicos e isotérmicos –, e o engenheiro aposentado João Perez Martinez, autor do livro autobiográfico O Engraxate.

Tão importante para a educação técnica e igualmente centenária como a GV é a Escola Técnica Carlos de Campos, primeira Escola Profissional Feminina do Estado de São Paulo, outra administrada pelo CPS. Localizada no Brás, portal da zona leste na capital paulista, a instituição também realizou uma série de atividades socioculturais para comemorar os cem anos de fundação, como exposição de antigos equipamentos utilizados nos cursos – balanças, máquinas de escrever, calculadoras, vitrolas –, e uma oficina de desenho com o cartunista João Spacca de Oliveira, o Spacca, um de seus ex-alunos. Apesar da Carlos de Campos ter se tornado mista somente nas últimas quatro décadas, até hoje é grande a predominância feminina entre os matriculados – cerca de 80%.

Na qualidade, também, de agente de resgate dos valores históricos e culturais, o SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo parabeniza as ETECs Getúlio Vargas e Carlos de Campos por esse momento ímpar em suas histórias, e conclama a todos os técnicos que por lá passaram para que se manifestem por meio dos canais de comunicação do próprio sindicato (www.sintecsp.org.br). Afinal, tão marcante quanto viver o presente e construir um futuro cada vez melhor, é recordar os momentos ilustres do passado antes mesmo que esses passem a figurar somente nos livros e na memória daqueles que tiveram a oportunidade de ajudar a construir essa história.

Rebolo: trocando as chuteiras pelos pincéis

Foi das pranchetas da Escola Técnica Getúlio Vargas que se criou o distintivo definitivo de um dos principais times de futebol do País, o Sport Club Corinthians Paulista. A ideia partiu do ex-aluno Francisco Rebolo Gonsales (1902-1980), que trocou as chuteiras pelos pincéis assim que se aposentou dos gramados, na década de 1930. Ao emblema, antes composto pela bandeira do Estado de São Paulo dentro de um círculo, foi adicionada uma âncora em referência aos esportes aquáticos praticados na época. Surgia, assim, a marca registrada do clube: Timão.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 151

http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/3422217

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 04/01/2012
Reeditado em 16/05/2012
Código do texto: T3422232
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