A CASA COMEÇA PELA BASE

A CASA COMEÇA PELA BASE

Muito tem se feito pela educação. Educação escolar, científica. Muitos programas implantados pelo governo abordam e intencionam a melhoria do conhecimento adquirido nas escolas. Daqui a décadas, nossas futuras crianças terão todo o aparato tecnológico em sala de aula para auxiliá-las na apreensão do conhecimento humano. Porém algo me incomoda: cada vez mais cedo a criança é apresentada à professora, ao professor. E aos pais, e à família?

Queiramos ou não, uma sociedade só se consolida a partir da família, começando com a junção do homem com a mulher, do casal com os filhos, destes com a parentela, desta com os amigos, vizinhos, moradores do bairro, da cidade, do estado, etc.. É na família que aprendemos os primeiros “acordes” desta sinfonia chamada vida; é na família que aprendemos a nos relacionar uns com os outros, aprendemos o senso de responsabilidade, de autoridade, de companheirismo, de amizade. É na família que buscamos segurança, compreensão, apoio moral e emocional. Tudo isso é preciso que tenhamos em casa, que haja pais dispostos a fornecer tal bagagem aos filhos! Aqueles devem, ou deveriam, passar a estes toda a sorte de valores de caráter a fim de que seus filhos cheguem à escola com uma bagagem emocional, intelectual, social e moral suficientemente forte e adequada para que eles possam “começar” a sair de casa.

Todavia o que vemos é o oposto. Pais querem que a escola faça o trabalho que a eles lhes cabe. E o pior: cobram da escola quando assim elas não o fazem. Imaginemos construir uma casa a partir do teto... imaginou? Eu não consegui. Sem a devida estrutura básica, nenhuma construção poderá ter sucesso. “Construir” um ser humano requer paciência, perseverança, coragem, sapiência. Um ser humano não é depósito de conhecimento científico, mas construtor desse mesmo conhecimento. Sua relação com o outro não se dá meramente no campo do “eu sei mais do que você”, muito pelo contrário, porém no campo do “quanto mais soubermos juntos, melhor”. Todavia, para isso a relação humana requer alguns quesitos relatados no parágrafo anterior. Disciplina, asseio, organização, respeito, misericórdia, empatia, são fatores primordiais na vida de um cidadão, e nem tudo isso se adquire em uma sala com mais de quarenta alunos, todos com suas eficiências e deficiências, com suas necessidades e ansiedades, com seus medos e suas dúvidas. O professor não é uma máquina, mas outro ser humano.

Enfim, o discurso parece fácil, parece fácil resolver o problema da falta de educação(e não do ensino) do povo, o problema da violência(doméstica, social), o problema da desigualdade social. Mas, na verdade, nada é fácil quando se quer realmente mudar para melhor aquilo que parece imutável diante da comodidade alheia, ou da perplexidade daqueles que “cristalizam” diante das situações adversas. Por que, simplesmente, não fazemos o óbvio? Assumirmos os nossos erros e as nossas responsabilidades?

Jarbas J. Silva