As massas, a política e a educação

Wilson Correia

Ortega y Gasset defendeu a ideia da “hiperdemocracia”, na qual o poder estaria sendo diretamente exercido pelas massas. Nas palavras dele:

“Hoje assistimos ao triunfo de uma hiperdemocracia em que a massa atua diretamente... Eu duvido que tenha havido outras épocas da história em que a multidão chegasse a governar tão diretamente como em nosso tempo. Por isso falo de hiperdemocracia” (ORTEGA Y GASSET, J. (1926). ‘A rebelião das massas’. Trad. Herrera Filho. Disponível em: <http://www.jahr.org>. Acesso: 5.1.12.

Nos anos 1980, no entanto, Jean Baudrillard argumentou que as massas não seriam mais um referente, posto que não teriam pensamento, discurso ou representatividade político-social. Elas seriam “massa de manobra” para os meios de comunicação, também massificados e dados ao espetáculo da dimensão privada da vida. Isso, segundo Baudrillard, estaria colocando fim ao social e, por consequência, ao político.

“As massas não são mais um referente porque não têm mais natureza representativa. Elas não se expressam, são sondadas... Enquanto o político há muito tempo é considerado só como espetáculo no interior da vida privada, digerido como divertimento semi-esportivo, semilúdico... Os mídia, todos os mídia, e a informação, qualquer informação, funcionam nos dois sentidos: aparentemente produzem mais social e neutralizam profundamente as relações sociais e o próprio social” (BAUDRILLARD, J. ‘À sombra das maiorias silenciosas: o fim do social e o surgimento das massas’. Trad. S. Bastos. São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 22, 34 e 56).

Pois bem! Consideradas as relações entre Estado e sociedade, não sei em que medida poderíamos dar razão à defesa do “império das massas” feita por Ortega y Gasset. As análises de Baudrillard parecem mais sintonizadas com a contemporaneidade de nossas vidas sociais.

Modeláveis, presas fáceis do reino da necessidade (Marx) e premidas pelo espartilho da negação da liberdade, as massas seguem instrumentalizadas pelos fins político-partidários de plantão.

Cunhar a educação aí nessa relação instrumental entre Estado e sociedade significaria alargar os espaços da representatividade fática no âmbito da política.

Isso, porém, a prática política a que assistimos nos dias atuais não objetiva. Para ela, é mais prático “comprar votos” do que formar posições políticas autônomas, com respeito ao protagonismo da cidadania.