Pelo ensino de filosofia

Wilson Correia

A educação laica, pública, de qualidade social e livre de mensalidades nunca foi uma prioridade em nosso país, pois a elite brasileira sempre pode comprá-la, enquanto que ao povo sempre se reservou uma educação qualitativamente frouxa, inimiga do protagonismo sócio-republicano.

Questões de saber-poder. Quem nasceu para mandar continua no privilégio de ser educado para mandar. Quem nasceu para obedecer vê a negação do direito ao conhecimento necessário ao exercício do poder como mais uma espoliação que lhe é perpetrada.

Parece ser esse o contexto no qual se trava a luta pela consolidação do ensino de Filosofia na Educação Básica brasileira, esse caminho para a cultura de que não podemos abrir mão, mas que forças contrárias imensas querem manter atravancado. Um trecho da revista Veja, edição 2.236, de 28.09.2011, página 93, dá a dimensão desse desafio. Diz a revista: "Ensino obrigatório de Filosofia e Sociologia nas escolas públicas: Em vez de empreender um esforço para melhorar o quadro lastimável da educação brasileira, o governo se empenha em tornar obrigatórias disciplinas que, na prática, só vão servir de vetor para aumentar a pregação ideológica de esquerda, que já beira a calamidade nas escolas."

Essa ignomínia, que reduz a Filosofia à ideologia, não teria crédito se não fosse isto: a manifestação cabal do nível compreensivo deplorável que sustenta a mundividência de nossas elites, arcaicas até não mais poder. Aí eu me pergunto: poderemos chegar à melhoria da educação que fazemos e sofremos passando ao largo do saber filosófico?

No livro “Serenidade”, traduzido para o português por Andrade & Santos, publicado em Lisboa pelo Instituto Piaget, página 15, Heidegger cita Peter Hebel, que afirma: “Nós somos plantas que –quer nos agrade confessar que não-, apoiados nas raízes, têm de romper o solo, a fim de poder florescer no Éter e dar frutos”. Linhas contínuas, Heidegger comenta: “Éter significa aqui o ar livre das culturas do céu, a esfera do espírito”.

Ora, não aceder à cultura elaborada pelo ser humano é uma forma de se enredar em um estilo de vida rasteiro, fundado em um materialismo prosaico que não trabalha para saber de si, de seu porquê ou para quê.

E é por esse motivo, entre tantos outros, que precisamos de Filosofia na Educação Básica brasileira. Essa pode contribuir para o nosso projeto de nação. Ademais, se a filosofia não pode muito, pouquíssima coisa poderá o sistema educacional que não ensina filosofia, esse campo do pensar buscando na cultura a produção do significado da vida e do mundo.