Como trabalhar as marcas da notícia em sala de aula?

A questão não é como trabalhar as marcas formais da notícia, mas como demonstrar ao aluno como funciona uma notícia, a que público ela se destina e para quantos milhões fora concebida para dialogar. A notícia, diferentemente da narração, do relatar, e de outros tipos de textos, tem de ser sóbria, atingir o leitor mais frio e a ele informar de um problema que esteja em pauta, com uma imparcialidade poucas vezes retratada em outros gêneros.
A criança que estuda a notícia deve, ao primeiro passo, compreender o que é uma informação, como ela é montada em uma redação, quais os alicerces que a mantém, observando que qualquer reportagem, por mais singela que seja, deva responder as perguntas básicas do tipo “o quê aconteceu?”, “com quem aconteceu?”, “quando aconteceu?”, “onde aconteceu?” e “por que aconteceu”? Esse questionário básico, conhecido no jargão jornalístico como 3QOPC, é o alicerce que dá e mantém a veracidade presente nas muitas informações publicadas pelos diversos órgãos midiáticos.

E não é só, o aluno deve compreender que a reportagem, por mais sentimentos de indignação social que possa despertar (vide morte da menor Isabella Nardoni1, em 2008), deve ser escrita respeitando os dois lados de uma suposta verdade, porque, como apregoa o princípio da presunção da inocência, previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, “ninguém será culpado até prova em contrário”. Aqui mora a imparcialidade do fato, o trunfo desse gênero; caso a notícia opte por um viés tendencioso, estará conduzindo seus leitores a um posicionamento que obedecerá a interesses próprios, muitas vezes escusos, em que o interesse não estará no informar, mas no desinformar. A esta imprensa tendenciosa dá-se o adjetivo de marrom, sensacionalista, amoral.

Conhecedora desse gênero, a criança deve compreender o funcionamento da notícia, reconhecer seus atributos e saber discernir aquela que trata um assunto com seriedade daquela que opera em função de interesses políticos ou mesmo comerciais.

Ainda, para compreender o gênero notícia, não basta conhecer seu molde, é preciso também perceber que numa mídia conduzida pelo mercado, até mesmo a disposição das reportagens em uma capa de jornal, de sites e/ ou chamadas em programas de tevê são elencadas de modo que possibilite a comercialização ágil do produto ofertado à massa, seguindo, para isso, um esquema de plasticidade ancorada na teoria dos quadrantes, outro jargão dessa área. Esmiuçando o tema, percebe-se que o olhar do leitor/ criança sempre parte da esquerda para a direita, do alto para baixo. A capa, assim, se divide em quatro partes, sendo a primeira, a do lado esquerdo, chamada de zona primária (onde fica parte da manchete), seguida da zona secundária, na parte inferior, à direita, onde se afixam as financiadoras da imprensa jornalística; acima, do lado direito, encontra-se a zona morta 1, assim chamada porque é lá que termina a manchete iniciada na zona primária; abaixo, do lado esquerdo, a zona morta 2, local em que figuram notícias de pouca valia como o valor do dólar, a previsão da temperatura e a tiragem do tabloide. O esquema também se aplica à tevê. Veja, do lado direito, na parte de baixo, encontram-se os símbolos das emissoras estrategicamente posicionadas, para que os leitores/ alunos identifiquem facilmente a rede sintonizada.

Com base nas informações apregoadas, ensinadas a partir do 7º ano do Ensino Fundamental II, o aluno terá o senso crítico para ler uma reportagem, identificar seus pontos positivos e suas lacunas propositais e saber se ela é produzida para informar os leitores de temas relevantes ou se foi ao ar por motivação comercial. E quando enquadradas nas múltiplas plataformas de divulgação, todos esses esquemas ganham corpo e interagem, num emaranhado de semioses, para cumprir com maestria o que almeja o seu produtor – seria apenas informar?

É óbvio que a imprensa brasileira atual é livre, crítica, ácida e severa quando algum direito constitucional corre o risco do cerceamento, mas como afirma Silmara Dela Silva, a plataforma onde a reportagem/ notícia será estampada definirá qual papel a notícia adquirirá no imaginário coletivo. Assim, se exposta num jornal de grande influência, a informação pode, a depender do conteúdo, causar estragos, por instigar outros veículos a investigarem o cerne do problema identificado com profunda voracidade. Se relatada no rádio, ganhará viés imediatista, com pitadas de comentários quase sempre maledicentes; na Internet, o texto publicado poderá sofrer alterações constantes durante o dia, dando a impressão de mobilidade, podendo, inclusive, corrigir um erro, se ele for grosseiro e capaz de comprometer a credibilidade do material veiculado. Já na tevê, linguagem verbal e não verbal se encontram e o que se vê é um show… A notícia ganha status na voz pontuada de âncoras como Bonner, do Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, e atinge públicos distintos, de todas as classes sociais, o que é quase inviável para as outras mídias, cujo público é segmentado.

Seja como for, o aluno terá de compreender que uma notícia deve ser composta de elementos fundamentais que permitam ao leitor, o principal interessado – e aí ele se inclui, tomar conhecimento de um fato que poderá ou não mudar sua vida, mas que lhe servirá de norte em qualquer momento de sua vida, a depender do que estiver sendo reportado. E que cada notícia, quando exposta nas variadas plataformas, serve para atender a diversos públicos, que ávidos pela notícia, correm de veículo em veículo atrás de algo que lhe acrescentem conhecimento sobre o meio em que vivem.

REFERÊNCIA 1
Fonte: PIZA, Paulo Toledo. Justiça de SP rejeita recurso, e defesa do casal Nardoni avalia recorrer ao STJ, NET, São Paulo. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u539639.shtml>. Acesso em: 28 març. 2012.