O meu rechaço

Wilson Correia

O verbo “rechaçar” nos diz que essa ação implica os atos de “repelir”, “desbaratar” e “fazer retroceder” ou “recuar”, opondo resistência. Isso tudo significa “rebater”. Em termos mais afins ao brasileirês de nossa trivialidade cotidiana, isso pode ser resumido em uma única expressão: mandar à “pqp”!

O que, hoje, quero mandar à “pqp”?

Então, tenho ouvido os vazamentos, a conta-gotas, das conversas cúmplices de um senador da república com um contraventor goiano. Não deixo de prestar atenção nos “sujeitos” que, intervenientemente, saltam diante de nossos ouvidos. Todos, aparentemente, portadores de retidão, caráter e conduta ilibada. Vestais da ética, da moralidade, da lisura e da honradez.

Santos, uma ova! São desalmados que desconhecem o suor alheio a gerar receitas para o Estado. Receitas que eles, os “ilibados”, prestidigitam como se próprias fossem. Um acinte! Um escárnio! Uma pornografia do individualismo possessivo! Como pode?

Mas o meu “pqp” de hoje, além de ir para todo esse esgoto, destina-se, também, aos usos dos termos que esses “paradigmas do decoro” usam desbragadamente, à revelia da semântica sã neles subjacente.

Um se dirige ao outro e o chama de “PROFESSOR”. Esse segundo co-responde ao primeiro como “DOUTOR”.

Que novilíngua é essa? O “professor” em tela, como dizem os “operadores do direito”, professa o que mesmo? As manhas e artimanhas sobre como extorquir o alheio até o osso?

E porque “doutor”? Teria o “insigne” senador feito o percurso formativo para o doutoramento e defendido tese publicamente, perante a sociedade e o Estado para merecer tal alcunha? Ou será ele doutor em servilismo ao que se presta a achincalhar a mais comezinha ética republicana e o mais elementar senso de dignidade, ao ponto de provocar a vergonha alheia, incabível no brio de quem preza o senso de respeito e justiça como elementar ao seu estilo existencial?

À “pqp” toda essa lama. Ao érebo “doutor senador” (Já que o nome dele vem lá dos gregos, talvez ele saiba o que érebo significa). Aos infernos o “professor contraventor”!

Que comecemos restabelecendo as coisas e os lugares das coisas. Professor não é termo que nomeie quem ensina a roubar. Doutor não é título que nomeia servo-servil-carneiriço da ânsia nojenta de quem só quer acumular, mesmo que isso exija que se rife o bem comum, a coisa pública, o sangue e o suor de cada um de nós.

Por falar nisso, quando será que a cidadania brasileira tomará consciência de seus direitos e agirá para que eles sejam efetiva e factivamente respeitados?