MINHAS FILHAS.

Que nossos filhos sejam como plantas viçosas e nossas filhas como pedras angulares lavradas como colunas de palácio.

Salmo 144:12

Quisera ser sábio (em que pese o fato de Salomão alertar: “Ouve a teu pai, que te gerou.”) para lhes aconselhar sem erros e com sabor. Nada sou! Nesta arrancada ao envelhecimento, carrego uma verdade: Thauane, Natacha e Melissa são meu oxigênio. Os tesouros deste pluriverso nada são se comparados a vocês. Cada uma é como um sol a me trajar de novas esperanças, de brasas azuis queimando os ácidos do dia-a-dia, de fragrância inefável revigorando caminhos desbotados. Minhas filhas (“Herança de Deus”) são luzes que me sorriem na Iluminação do Senhor.

Urge o tempo, engendra evoluções. Bebês, crianças, pré-adolescentes, adolescentes e, logo, a vida adulta. Haverá, destarte, uma espécie de aio, de paradigma existencial? Eu e sua mãe não hesitamos: o Legado Cristão. A contracultura do Mestre de Nazaré, seus princípios, seus valores, sua ética, suas interpretações. Nele, filhas, estão os lídimos tesouros da sabedoria. Diz o apóstolo: “Dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas”. De modo que a genuína liberdade está na vida com Deus; qualquer ação que tente nos arredar deste caminho há de ser, impiedosamente, descartada como imprestável, como devaneio, como loucura, enfim, como lixo.

Nossa caminhada, filhas, de jericó (mundo) a Jerusalém (celestial) passa por samarias (tentações). Há perigos nos rondando, há trapaças, tramóias, violências, arapucas, seduções, jogos de aparências, mentirarias para todo lado. Somente uma Inteligência Espiritual, aliada à razão e à emoção, poderá atingir as essências, as profundidades, os silêncios, as manipulações, as incompletudes dos fenômenos. Ninguém, filhas, segura uma mente sadia, crítica e prudente, ninguém encara uma consciência abalizada, dialética, cujas raízes estão em Deus, nos estudos, na ciência e no amor firme.

Em nossa memória, filhas, o mais importante é a não lembrança. Sim, esquecer os golpes e, sobretudo, nossos gestos generosos. Nosso próprio desejo de reconhecimento precisa ser deletado. Nela (memória), filhas, hão de ficar, unicamente, as Verdades Libertadoras. Isto, sem dúvida, nos impõe constantes viagens ao nosso âmago varrendo filosofices, “vãs sutilezas, tradição dos homens e rudimentos do mundo”. Mantenham-se, amiúde, vigilantes (“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé”). Memória sadia desfabrica essa culpatibilidade, às avessas, tão decantada em eslógãos como “é proibido proibir”. Nos passos do Mestre, filhas, está a marginalidade que incomoda, que dá significações profundas aos silêncios, que enche de vida e perfume os lázaros deste mundão.

Nada, filhas, é tão cruel e dissimulador do que essa ditadura do produzir/consumir. Aliás, é o grande fetiche da contemporaneidade. Não passamos de mercadorias nessa engrenagem ensandecida, é o espetáculo da “nadificação”. Perverte-se do lúdico à arte. Um mero divertimento é vendido como Felicidade. Em nome desta (Arte) se apela aos mais baixos instintos, degrada-se, apequena-se e os iconoclastas de plantão trovejam sua insensatez: “tirem daqui a elevação, a valorização e o alargamento das vivências”. Não, filhas, testem os discursos, as teses, os arrazoados. Ora, não são poucos “os que se tornaram nulos em seus próprios raciocínios. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos, pois mudaram a verdade de Deus em mentira”.

Minhas filhas, sejam sóbrias. Reencontrem – mesmo aos cem anos de idade – a mentalidade infantil, ela acolhe o reino de Deus. Fujam das paixões rasteiras, dos falatórios vazios, dos arrogantes, dos blasfemadores, dos preguiçosos, dos violentos, dos corruptos, dos falsos piedosos, dos bajuladores, dos fanáticos, dos frívolos, dos enganadores, dos difamadores, dos escravos da malícia, da inveja e do ódio, dos fúteis e de todo e qualquer vício. Pensem, queridas filhas, nas coisas lá do alto. Verdade, respeito, pureza e justiça são as grandes marcas desta escolha. Lembrem-se: “Onde estiver o seu tesouro, aí estará também o seu coração” (Lc.12:34).