2014: UMA SELEÇÃO E 8 MILHÕES DE TÉCNICOS

Copa 2014 aquece o mercado de trabalho em São Paulo, mas falta de mão-de-obra qualificada ainda é um problema a ser solucionado

Em 1950 as consequências da Segunda Guerra Mundial ainda refletiam na Europa, e pela primeira vez na história a Copa do Mundo atravessou o oceano e aportou no Brasil. Contudo, para a decepção dos torcedores, no dia 16 de julho daquele ano, a Seleção Brasileira amargou a derrota na final para os uruguaios em pleno Maracanã, construído especialmente para a competição. Ainda sem televisão, os que não conseguiram espaço nas arquibancadas procuraram se reunir na casa de amigos e conhecidos mais afortunados, onde o rádio ocupava lugar de destaque na sala de estar. Para a grande maioria da população, no entanto, o resultado não seria conhecido instantaneamente, como acontece nos dias de hoje. Depois disso, lá se foram mais de seis décadas para que o País recebesse novamente a incumbência de sediar o principal evento do futebol mundial.

Se São Paulo, em 1950, desempenhou papel de coadjuvante em comparação ao Rio de Janeiro – o velho “Pacaembu”, com sua concha acústica, foi palco de apenas um jogo do Brasil enquanto que a capital federal, na época, recebeu todos os outros –, dessa vez a principal cidade da América Latina terá uma participação compatível à sua grandeza socioeconômica, tanto que lhe caberá a honra de realizar a abertura do torneio. Com previsão de término para dezembro de 2013 pela Odebrecht, as obras da Arena Corinthians seguem a todo vapor no bairro de Itaquera, zona leste da capital paulista. “A construção do estádio e a abertura da Copa do Mundo são da maior importância para a cidade e, em especial, para sua região mais populosa. A Prefeitura deverá arrecadar R$ 1 bilhão em impostos nesse período”, prevê Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque, secretário de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho.

Para o presidente do SINTEC-SP – Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado de São Paulo, Wilson Wanderlei Vieira, todo o País tem se mobilizado para a realização de uma grande festa. “Os investimentos estão sendo feitos de Norte a Sul: construção de novos estádios, modernização dos aeroportos, trem-bala, aumento da capacidade hoteleira. Em São Paulo, as obras do estádio de abertura já empregam mais de mil funcionários e devem chegar a 2 mil no auge da construção – desses, dezenas, centenas de profissionais técnicos”, salienta.

O otimismo de ambos é justificável, não somente pelo andamento das obras como pelos números prévios apontados nos primeiros relatórios realizados depois que o Brasil foi oficializado pela FIFA como país-sede. Na ocasião, um estudo da FGV Projetos a pedido da CBF – Confederação Brasileira de Futebol, revelou que o evento tende a gerar, desde o período de preparação até a competição propriamente dita, cerca de 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos, tendo a construção civil como setor mais beneficiado.

Mobilidade dentro e fora de campo – Diferente do que acontecia no passado, competições da magnitude de uma Copa do Mundo já não mobilizam somente a questão esportiva, mas principalmente os aspectos humanos e a infraestrutura urbana das cidades-sedes. Uma das exigências dos organizadores é que o legado deixado pelos eventos possa resultar em benefícios sociais, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade de vida da população.

As obras viárias no entorno do estádio, em Itaquera, serão custeadas pelo Estado e pela Prefeitura de São Paulo, entre as quais está incluída a abertura de novas avenidas e alças de acesso que tendem a amenizar o caótico trânsito da Radial Leste, principal avenida de acesso a partir do centro. Também estão previstas melhorias na malha ferroviária, e nas linhas de metrô, cuja extensão deve chegar a 102 km em 2014. Pode parecer pouco se comparado, por exemplo, à cidade chinesa de Xangai, que tem mais de 420 km de trilhos; mas, mesmo que os números ainda não sejam suficientes para suprir toda a demanda populacional, as obras que estão sendo realizadas tendem a diminuir o problema do transporte público. É o que afirma Telmo Giolito Porto, professor de ferrovias da Escola Politécnica da USP – Universidade de São Paulo: “Certamente que não teremos a situação ideal até a Copa, mas haverá trechos para atender alguma coisa a mais”. Quanto ao quadro funcional, o número de empregados também deve aumentar consideravelmente em relação ao apontado pelo último Relatório da Administração, divulgado em 2010. Na ocasião, o METRÔ-SP – Companhia do Metropolitano de São Paulo empregava 8740 funcionários, quase 80% em setores de operação e manutenção, onde se enquadram os profissionais técnicos.

Problema mesmo, e que tem tirado o sono de muita gente, ainda é a falta de mão-de-obra qualificada que afeta o País. De acordo com pesquisa divulgada em outubro pela CNI – Confederação Nacional da Indústria, 71% das empresas do setor colocam essa carência como um dos principais problemas a serem solucionados. “O agravante maior é que estamos trazendo mais tecnologia e os trabalhadores que não evoluíram não conseguem trabalhar, o que pode atrasar algumas obras”, afirmou, na ocasião, o gerente-executivo de pesquisas Renato Fonseca.

Na contramão da crise, o governo federal tem procurado fazer a parte que lhe cabe, e recentemente implantou o PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico, com previsão de formar 8 milhões de técnicos até 2014. Se esses números se confirmarem, não faltarão técnicos para trabalhar nas obras da Copa e, assim, o Brasil poderá fazer bonito tanto dentro como fora das praças esportivas.

Fonte: SINTEC-SP em Revista - Edição 152

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José Donizetti Morbidelli
Enviado por José Donizetti Morbidelli em 16/05/2012
Reeditado em 16/05/2012
Código do texto: T3671232
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