Sobre a greve nas IFES em 2012

Wilson Correia

Tenho sido abordado nas salas de aula, nos corredores, à entrada do CFP, na rua, à saída de agência bancária, em todos os lugares, por colegas, alunos e cidadãos a respeito da minha posição sobre a greve dos professores de agora, 2012.

A greve é um direito constitucional de todo trabalhador e de toda trabalhadora brasileira. No nosso caso, já passou de hora de termos um verdadeiro movimento nesse sentido. Porém, sou cético com relação ao que podemos fazer e conseguir no presente momento, considerando o jogo de forças que está em ação no cenário da educação superior brasileira – a menos que a cidadania independente tome as rédeas desse embate.

De onde brota esse meu ceticismo?

Sou fruto de um restinho de luta contra os momentos finais da ditadura militar. Uma luta que foi travada em meio à militância no movimento estudantil, pois, durante três anos e meio, fui presidente do Centro Acadêmico de Filosofia da Católica de Goiás e, por dois anos, Diretor de Comunicação do DCE da mesma instituição, a qual, à época, contava doze mil e quinhentos alunos.

Minha colação de grau se deu porque a Justiça Federal assegurou meu direito de estudar, desde o segundo semestre letivo do meu curso, dando liminar a cada seis meses para eu me matricular, impedindo que a Católica me cobrasse aquilo que o Crédito Educativo de então cobria para quem necessitasse de auxílio estudantil. Depois, como professor da mesma Católica, por conta de ação do Sindicato dos Professores de Goiás, ganhei um sétimo processo contra a Católica, dessa vez por causa do não cumprimento de deveres patronais para com os docentes, entre os quais meu nome estava incluído. Anos mais tarde, aquele mesmo sindicato, em outras mãos, traiu a mim e à minha categoria, e de uma forma desrespeitosa, acintosa e cínica.

Aprendi, nessa luta renhida, como é fácil ver lobos se passando por cordeiros entre nós. Como é corriqueiro sindicatos pelegos se arvorarem em tutores de nossos direitos docentes e dos direitos à plena educação por parte da cidadania.

E agora essa tendência parece mais evidente. Vivemos um momento refratário para os movimentos sociais e para o sindicalismo brasileiro, uma vez que essas forças estão meio que atordoadas por não saberem contra quem lutar, a favor de quem atuar, em nome de que direitos empreender seus movimentos. O governo, sob a capa do ideário da esquerda, tem a manha e a artimanha para bem administrar tensões entre capital e trabalho, levando de roldão as verdadeiras bandeiras de luta dos trabalhadores em geral e dos trabalhadores da educação, em particular.

Além disso, não me filiar a sindicatos pelegos é um direito meu. Não estar do lado de quem encena uma luta de faz-de-conta, também. Sei que minha voz é parca e meio que solitária, mas é com ela que sou, ajo e me faço em minha lida diária. Mereço respeito, e não por meu nome, mas em nome daquilo em que acredito: na educação como direito social, a qual deve ser de qualidade, em sua mais radical expressão.

Enquanto um novo sindicalismo não surge e cresce a ação sindical chapa branca, prefiro me filar àqueles e àquelas que creem nas lutas auto-organizadas, independentes, capilares e que transcorrem em nosso cotidiano de vida e ação.

Hoje, uma verdadeira luta sindical deveria colocar em questão o atual modelo capitalista de produção material de vida; deveria, ainda, rechaçar o mercado como o verdadeiro reitor de nossas universidades, o qual não titubeia em rifar nossa autonomia em nome de seus imperativos; deveria, além disso, encampar a defesa da educação de qualidade em todos os níveis; lutar por 10% do PIB para a educação; batalhar por salário e carreiras dignas para todos os membros do magistério brasileiro, entre outras bandeiras.

Porém, enquanto lutas dessa natureza não estiverem pautando a ação sindical, estarei crítico, ao lado de quem prefere honestidade intelectual em lugar do emparelhamento; sinceridade nas proposições atinentes à classe; e vigor combativo contra uma sociedade cuja economia fagocita tudo em nome de seus objetivos, relegando ao segundo plano nossas verdadeiras necessidades educacionais, de formação humana, cidadã e profissional.

Enquanto essa radicalidade não vem, o meu é um apoio crítico à greve de agora. Penso com aqueles que, na busca de lucidez, não aceitam ser massa de manobra, essa que, no meio sindical hodierno, serve apenas para emplacar o simulacro – triste história que está sendo feita, quando tudo o que se empreende é um espernear para salvar o próprio umbigo.

Oxalá uma verdadeira greve fosse decretada! Quanto à atual, eu sei, e pela cicatriz na própria pele, o que vocês querem, quanto querem e onde querem chegar. Porém, se desejarem uma educação republicana, aqui estarei eu, o primeiro a dar a cara a tapa, como sempre faço – às vezes, à palma das mãos de vocês que me interpelam e que tentam me colocar em uma sinuca que só existe na docilidade da mente entreguista de vocês.