A compreensão que nos falta

Wilson Correia

Estar em uma universidade é ver-se entre pessoas educadas? Depende. Como existem várias concepções de educação, também existem vários comportamentos que resistiriam ao enquadramento no conjunto do que se considera mal educado.

Falta-nos, nesse campo, e entre aqueles que compõem uma comunidade acadêmica considerada educadora, aquela compreensão de que existe um mínimo comportamental comum, aceitável e nutritivo, para nossos processos acadêmicos.

Falta-nos, compreender, por exemplo, que a dimensão da micropolítica não pode ser sobreposta às atividades de natureza acadêmica, entendimento que evitaria a que assistíssemos às excrescências diárias que são as indicações para cargos e funções motivadas por emparelhamento ideológico grupal, partidário ou sindical.

Esse entendimento, de que o político não pode preceder ao acadêmico, também evitaria comportamentos tóxicos para com nossos pares, sobretudo o de desqualificar o trabalho alheio por conta da não filiação às nossas preferências por parte desse alheio que se concentra em suas responsabilidades profissionais.

Aliás, por falar nisso, outra distorção que poderíamos evitar, caso levássemos a sério aquela compreensão de que existe um mínimo comportamental inegociável entre pares de uma academia, é a perversa preeminência da dimensão pessoal em face do lado profissional de nossas atividades. Quanto o personalismo corrompe o profissionalismo, aí, então, a intricada teia de relações interpessoais pode levar ao aniquilamento daquela postura que não se nega a falar com “B” ou “A”, porque o que medeia a interação entre eles é um compromisso de cunho funcional.

Mas, não! Para os do “meu grupo”, do “meu sindicato”, do “meu movimento” e do “meu partido”, tudo; para aqueles que não se filiam às “minhas crenças”, a indiferença, a cotovelada, a grosseria e a insistente perseguição, mesmo que isso tudo coloque em prejuízo a coisa pública e o bem comum. Se, pessoalmente falando, esse segundo não se enquadra em “minha mundividência particular, grupal, partidária, sindical...”, tanto pior: a ele todas as formas de agressão e desqualificação possíveis e ao alcance.

Quando, além dos interesses acadêmicos e do profissionalismo menos entregues ao politiquismo e ao personalismo, veremos uma prática docente universitária que preze a impessoalidade como regra e o respeito à educação como princípio?

Quando é que conseguiremos construir uma cosmovisão republicana, que, para além dos interesses ideológicos imediatos, coloque em prática uma ideologia voltada para o bem comum, para a coisa pública, para o que é nosso (e não simplesmente “meu”), em proveito de um projeto de nação?

Que esse tempo não tarde tanto. Nossa dignidade não pode esperar. Nossa paciência, também não. E que nossos modos particulares de seres educados não venha a rifar aquele mínimo comportamental suportável e urgente entre nós.