Escola e sua contribuição na formação do cidadão

A contribuição da escola na formação de um cidadão consciente de seus deveres e obrigações tem sido fundamental para a nossa sociedade. Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com nossa vida, em todas as esferas sociais.

A escola nos ensina a ser pessoas éticas em nossas ações e isso faz a diferença em uma sociedade, na qual uns dependem dos outros a todo instante. E sem duvida ela a escola tem a função de preparar os indivíduos para o dia-a-dia. Cabe ao professor a grande tarefa de moldar caracteres para o presente e futuro.

De um lado a visão romântica sobre cada um, resultante de uma moral instituída socialmente, como ocorre na maioria, o pensar e agir politicamente correto. De outro uma visão realista, donde vêm à tona os reflexos de uma moral instituinte que se faz no dia a dia, traduzindo num abandono constante da ética, prevalecendo a “lei de Gerson”, e a dinâmica do “salve-se quem puder”.

Particularmente, desde a Idade Moderna, quando Deus deixou de ser tanto o fundamento indiscutível das normas morais, quando o ponto de referência para as decisões morais centrou-se no homem, a busca incessante por novas formas de legitimação, deve ser constante a cada dia. (GOERGEN, 2005, p. 984).

Dessa forma fica evidente que as normas de conduta por assim dizer vão aos poucos se adequando a uma moral que historicamente deixa de ser cristã, e passa a ser regida por uma moral laica, na qual os julgamentos de valor são relativos e subjetivos. Os resultados nem sempre são agradáveis. E isso se refletiu na dificuldade que os jovens tiveram em verbalizar o que pensam sobre os valores humanos. Mas parece que não só essa essas mudanças afetaram as relações sociais, como também as instituições familiares e educativas.

Vista sob outro ângulo a discussão sobre valores humanos adentram os mais variados espaços formativos dos quais se destacam a família e a escola, instituições socializadoras tradicionais. Os jovens quando questionados sobre a vivência dos valores nessas instituições, demonstraram a influência destas em suas vidas, bem como são diferentes as formas de experenciar esses mesmos valores nos os espaços citados.

Na vida familiar esses valores são vivenciados de maneira constante, apesar das criticas dos jovens tecidas aos familiares, por não entenderem algumas de suas posturas como, por exemplo, não respeitar algumas regras familiares, como não cumprir os horários combinados. A maioria também reconhece que não cumprem todas as tarefas solicitadas, e alegam que são obrigados a obedecer aos pais e outras autoridades sem questionarem; simplesmente aceitam as regras impostas, mesmo que não as cumpram todas. Ao mesmo tempo esses jovens ao admitirem que o diálogo seja muito importante, parecem oscilar quanto a vivencia desse valor em casa. De um lado afirmam que conseguem manter um bom diálogo com a família. De outro alguns jovens não obtêm tanto sucesso.

Portanto diante desses resultados expostos, fica claro que os jovens em muitos momentos estão sozinhos para buscar e definir seus valores e condutas, assim como para avaliar com clareza as suas escolhas. Nesse ínterim nota-se que as agências socializadoras - família e escola- precisam redefinir suas formas de atuação e o modo como influenciam na construção pessoal de seus jovens. No caso da escola, esta precisa se abrir para uma dimensão pouco trabalhada: a moralidade. A ética também deve ser retomada em todo âmbito educativo e social. Apesar das semelhanças e diferenças encontradas nas concepções sobre moral e ética, constatamos, sobretudo no campo da filosofia que, é preciso notar que os saberes valorativos da moral se complementam com o questionamento ético sobre os mesmos; e essa dinâmica valorativa deve servir de fomento nas práticas educativas.

Nota-se que a prática educativa com os valores humanos por assim dizer ocorre não freqüentemente de maneira assistemática, a revelia do planejamento pedagógico e das práticas curriculares.

Diante desta perspectiva entende-se que seja preciso então, que seja construída uma “cultura escolar” que favoreça a emergência desta prática, fomentando a discussão de valores emergentes no cotidiano escolar.

Sobretudo, longe da pretensão de esgotar a complexidade envolvida na discussão do tema proposto espera-se que as reflexões apresentadas nesse artigo cientifico nos oriente a (re) pensarmos em uma educação em valores humanos centrada numa ação pedagógica privilegiando a moralidade dialógica em contínuo processo de construção, levando-se em consideração a condição humana de aprendência, tão singular à condição juvenil.

REFERÊNCIAS

ABRAMO, Helena; BRANCO, Pedro P. Martoni (orgs). Condição Juvenil no Brasil contemporâneo. Retratos da Juventude Brasileira. São Paulo: Fundação Perseu Abramo; Instituto Cidadania, 2005, p. 40-54.

BENEVIDES, Mª Vitória de Mesquita. Conversando com os jovens sobre os direitos humanos. In: NOVAES, Regina; VANNUCHI, Paulo (orgs). Juventude e Sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004, p.34-52.

CASTRO, Lucia Rabello de; CORREA, Jane. Juventudes, transformações do contemporâneo e participação social. In: CASTRO, Lucia Rabello de; CORREA, Jane (orgs). Juventude Contemporânea: perspectivas nacionais e internacionais. Rio de Janeiro: NAU Editora:FAPERJ, 2005; p.09-26.

DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sócio-cultural. In: Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996; p. 136-161.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e terra, 1996.

GENTILI, Pablo. Adeus a Escola Pública: A desordem Neoliberal, A violência do mercado e o destino da Educação das maiorias. In: GENTILI, Pablo (org). Pedagogia da Exclusão: Crítica ao Neoliberalismo em educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995, pp. 228-252.

GOERGEN,Pedro. Educação e valores no Mundo Contemporâneo. Revista Educação e Sociedade. Campinas, vol.26, Especial- Out, 2005, p. 983-1011. Disponível em: < http:// www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 05 de maio de 2008.

GROPPO, Luis Antônio. A Juventude como categoria social. In: Juventude: ensaios sobre sociologias e historia das juventudes modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000, p. 07-28.

MENIN, Maria Suzana. Valores na escola. Revista Educação e Pesquisa. São Paulo, v.28, nº1, p. 91-100, jan/jun, 2002. Disponível em: http:www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11657.pdf. Acesso em: 26 de março de 2007.

MESQUITA, Mª Fernanda Nogueira. Valores Humanos na Educação: uma nova prática em sala de aula. São Paulo: Editora Gente, 2003.

MÉSZÁROS, István. A Educação para além do Capital. São Paulo: Editorial Boitempo, 2005.

MIGLIORI, Regina de Fátima( org) . Etica, Valores Humanos e Transformação. São Paulo: Peirópolis, 1998. (Séries Temas Transversais, vol.1)

PEDRO, Ana Paula. Percursos de uma educação em valores em portugal: influências estratégias. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. Tradução de Elzon Lenardon. 2ª edição. São Paulo: Summus, 1994.

PUIG, Josef Maria. A construção da personalidade moral. Tradução de Luizete Guimarães Barros e Raquel Camorlinga Alcarraz. São Paulo: Ática, 1998.

RIGAL, Luis A escola crítico-democrática: uma matéria pendente no limiar do século XXI. In: IMBERNON, Francisco (org). A Educação do século XXI: os desafios do futuro imediato. 2ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000, pp.150-203.

SANTOS, Risomar Alves dos. O papel da educação na prevenção do racismo. Disponível em: http://lpp-uerj.net/olped/documentos/ppcor/0092.pdf. Acesso no dia: 13/03/08

SILVA, Sonia Aparecida Ignácio. Valores em Educação: o problema da compreensão e da operacionalização dos valores na pratica educativa. 3. edição. Petrópolis: Vozes, 1995.

SUBIRATS, Marina. A Educação no século XXI: a urgência de uma educação moral. In: IMBERNON, Francisco (org). A Educação do século XXI: os desafios do futuro imediato. 2ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000, pp.170-205.