Projeto coletivo interdisciplinar: uma prática possível

A escola se tornou um espaço de saberes isolados e que não se interagem. Neste caso tal isolamento na maioria das vezes é conseqüência da falta de um projeto interdisciplinar consistente. O que se pode perceber atualmente é que as práticas de ensino-aprendizagem nas escolas são limitadas, pois:

“O parcelamento e a compartimentação dos saberes impedem apreender o que está tecido junto [...] A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos disjuntos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional” (MORIN 2001). Para buscar superar tal problema, é necessário que haja uma interação e organização por parte de um grupo de educadores em um determinado ambiente escolar. Sendo assim, o trabalho interdisciplinar supõe atitude e método, envolvendo a articulação de conteúdos e a integração de educadores.

No Brasil, na década de 1970, um dos primeiros autores a refletir sobre o termo interdisciplinaridade foi Japiassú que entende que a interdisciplinaridade ou o espaço interdisciplinar deverá ser procurado na negação e na superação das fronteiras disciplinares. (JAPIASSÚ, 1976).

De acordo com os PCNs, interdisciplinaridade e transversalidade são: A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de conhecimento produzido por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles – questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constitui. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas. A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma

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relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade (BRASIL, 1999). Assim articular saberes e informações, e efetivar a relação escola e comunidade tornou-se, atualmente, um dos maiores objetivos da interdisciplinaridade que deve se manifestar por um fazer coletivo e solidário na organização da escola.

Neste sentido, a proposta de um trabalho interdisciplinar é a de aproximar os conhecimentos ao mesmo tempo em que também os mesmos se interagem. A interdisciplinaridade seria, portanto, a interação existente entre as disciplinas. Essa interação pode ir da simples comunicação de ideias à integração mútua dos conceitos diretores da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização referentes ao ensino-pesquisa.

Desta forma, a proposta interdisciplinar é a de estabelecer ligações entre os conhecimentos, visando garantir a construção de um conhecimento globalizante. De acordo com os PCNs “[...] todo conhecimento mantém um diálogo permanente com os outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, [...]” (BRASIL, 1999).

Certo de que os conhecimentos devem manter um diálogo, o que se espera é que educadores e educandos possam vir a compreender a aproximação dos saberes não somente em sala de aula, mas em seu dia a dia.

São necessários para uma prática interdisciplinar alguns procedimentos fundamentais para que se efetive esta proposta em um ambiente escolar. Desse modo, o primeiro passo da prática interdisciplinar é a realização de um projeto coletivo, o segundo passo é o comprometimento dos educadores em realizar e efetivar tal proposta e um terceiro passo é fazer com que educandos possam perceber-se na construção de tais saberes e associarem as disciplinas que outrora pareciam dissociadas.

Assim, é fundamental para superar os desafios encontrados na prática interdisciplinar um projeto bem orientado para que possa de fato haver uma possibilidade de prática unificadora de saberes. É necessário um projeto que busque de forma permanente, a transformação da realidade e a melhoria da qualidade de ensino. Há que se buscar nas disciplinas os conteúdos programáticos que são abordados no Ensino Fundamental e Médio e de como estes são trabalhados em cada ano escolar. A socialização destes conteúdos deve acontecer de forma organizada e significativa entre os educadores, pois o conhecimento que se adquire dos outros saberes é fundamental para projetar um entendimento interdisciplinar.

Mas se nem mesmo os educadores se interessarem pela aproximação das disciplinas como esperar que os educandos o façam. Tem de se haver neste sentido, durante e após a elaboração do projeto coletivo interdisciplinar, um comprometimento entre os educadores em torno do mesmo, ou seja, as disciplinas por si só não se dialogam sem antes os educadores dialogarem.

Um trabalho que se constitua interdisciplinar necessita de uma equipe engajada, neste caso, deve se ter educadores comprometidos assim como orientadores pedagógicos que possam vir a facilitar o trabalho acerca dos diferentes conteúdos disciplinares.

Em síntese, para que se efetive uma mediação pedagógica dentro de prerrogativas interdisciplinares, é necessária antes de qualquer coisa, uma mudança de postura. Essa mudança implica no abandono de práticas isoladas e referencia uma caminhada rumo ao trabalho interdisciplinar, fundado essencialmente, no trabalho coletivo.

Sendo assim é necessário o fortalecimento do grupo para que este seja uma ferramenta que garanta a construção de um conhecimento que rompa com os limites das disciplinas. Para isso, será necessário, como propõe Fazenda (1995) uma postura interdisciplinar, que nada mais é do que uma atitude de busca, de inclusão, de acordo e de sintonia diante do conhecimento onde todos ganham: os alunos, porque aprendem a trabalhar em grupo e habituam-se a essa experiência de aprendizagem grupal e os educadores, porque se veem compelidos a melhorarem a interação com os colegas e a ampliar os conhecimentos de outras áreas.

Além disso, faz-se necessário promover um debate ampliado e permanente com professores das escolas, no intuito de sensibilizá-los para uma pedagogia cidadã. Dessa forma o projeto é interdisciplinar na sua concepção, execução e avaliação, e os conceitos utilizados podem ser formalizados e registrados no âmbito das disciplinas que contribuem para seu desenvolvimento (BRASIL, 1999).

Pode-se compreender que o compromisso dos educadores em torno de um projeto interdisciplinar deve promover consequentemente o comprometimento dos educandos com o mesmo, pois não se pode conduzir um projeto que não faça sentido para os educadores e nem tampouco para os educandos. Sendo assim o entendimento interdisciplinar deve acontecer de forma compreensível para ambos.

Por fim, é fundamental na proposta interdisciplinar que os educandos consigam compreender a aproximação das disciplinas e que consigam enxergar a importância de tal articulação de saberes para os questionamentos que possam vir a surgir no dia a dia.

Referências Bibliográficas

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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1997.

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HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999.

LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 11ª ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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PIMENTA, Selma G. O estágio na formação de professores-unidade teoria e prática?São Paulo. Cortez. 1995.

REZNIK, Luís. História Local e Comunidades: o exercício da memória e a construção de identidades. Texto apresentado na 6° mostra de extensão da UERJ, 2002. Disponível em http://www.historiadesaogoncalo.pro.br/txt_hsg_artigo_04.pdf. Acessado em 02/05/2012.

Marcio Carvalho
Enviado por Marcio Carvalho em 13/06/2012
Reeditado em 13/06/2012
Código do texto: T3721979