Greve nas IFES: SOS Brasil!

Wilson Correia

Acabei de ler o livro de Georges Picard ‘Todo mundo devia escrever: a escrita como disciplina de pensamento’. Trad. M. Marciolino. São Paulo: Parábola, 2008, o qual não deveria ser ignorado por quem milita na educação. Dele destaco o seguinte: “O que há de mais belo na escrita é a tensão entre o que está escrito e o que há por escrever, é o uso de uma liberdade que assume todos os riscos ao imprimir sua marca” (p. 20).

Aí o registro de uma liberdade que, dialeticamente, vê-se premida pela necessidade, estendida entre o escrito e o que há por escrever. Mais: de uma liberdade posta no entremeio do escrito e daquilo que é dever transformar em texto. Creio que o exercício dessa liberdade assim premida entre necessidade e dever torna-se prática complementar a quem faz da escrita uma forma de expressão das próprias militâncias, atividades de pensamento e vida intelectual.

A necessidade e o dever que me levam à liberdade da escrita hoje versa, ainda, sobre a greve dos professores federais. Confesso-me em um misto de desalento e descrença, tendendo a desespero mudo, incredulidade e estarrecimento.

Como acreditar que um país da estatura do Brasil ouse tamanha inépcia com a atual apatia frente às urgências da educação? Esse Brasil que, historicamente, dedica-se a crescer, materialmente falando, mas que negligencia o lado humano que o constitui?

Se entendemos bem o valor do diálogo, o que leva autoridades, que deveriam ser as primeiras a demonstrarem apreço por essa prática, a tratarem esse valor com tamanha infantilidade (infante é aquele que não fala), descaso e sangue frio?

Terão nossas autoridades a aguda consciência do valor pedagógico desses seus gestos, atitudes e comportamentos? Será que vão dormir tranqüilas, se, ao longo de dias, apagaram o Brasil de suas ocupações, humilharam docentes e estudantes, pequenificaram técnico-administrativos e escorcharam ainda mais nosso povo que tanto produz e tanto precisa dos bens do conhecimento para seguir adiante?

Será que nossas autômatas autoridades ligaram o piloto automático mesmo, a ponto de meses de paralisação nada terem a lhes dizer sobre as reais condições de nossa educação quantificada, mas agonizante por insuficiência de qualificação? O que estaria por trás de tão estupenda pirraça?

Tais angústias dilaceram. Ainda mais quando vemos a universidade ter sua autonomia servida, de bandeja, ao mercado, penalizada pelo persistente e sistemático processo de privatização –a empresa criada para cuidar dos hospitais universitários é apenas um sintoma disso, pois, há muito, os valores da mercantilização da educação levou a heteronomia capitalista para dentro dos câmpus.

É nessa esteira que tem legitimidade a greve nas universidades federais brasileiras. E o recado delas é o de que não é possível mais suportar. Acordemos todos, em nome do mínimo de educação que ainda nos resta. Socorra-nos, quem tiver esse poder.