O ENSINO DE GRAMÁTICA NA VISÃO DO PROFESSOR, NO 7º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA JOSÉ INÁCIO GOMES PARENTE – JORDÃO¹

Francisco Edivaldo Eufrásio da Silva

Heliomar de Oliveira Clarindo

Jackson Monteiro de Vasconcelos ²

RESUMO

O presente trabalho traz como principal finalidade, debater e discutir métodos mais convencionais e adaptativos a realidade, no que se refere ao ensino de gramática, tendo em vista e não menosprezando a metodologia ainda predominante em nossas escolas, a da gramática tradicional. Neste artigo autores como BAGNO, BECHARA, FREIRE serviram para subsidiar teoricamente este trabalho. Apresentaremos aqui uma pesquisa realizada em uma escola com um professor do ensino fundamental, do 7º ano, na cidade de Jordão. Nesta pesquisa foi colocado como principal ponto, a importância da gramática e como ela está sendo usada nas escolas. Buscamos trabalhar de uma maneira de co-relações entre os tipos de gramáticas, visando à participação e intervenção dos professores em suas exposições, procurando pontos a serem mais analisados e trabalhados em seus aspectos, sem a pretensão de achar que o professor estaria certo ou errado, pois nosso objetivo não é adotar em essência a gramática tradicional e/ou normativa, e sim olhar em múltiplos aspectos a realidade do ensino da língua, que deve ter como sua principal base a competência comunicativa de seus falantes.

Palavras-chave: Gramática. Metodologias. Professor. Educação. Sala de aula. Ensino.

1. INTRODUÇÃO

Com as grandes transformações ocorridas em todo o mundo no último século, onde grandes feitos foram espalhados por todas as civilizações, não se esperava uma grande ascensão dos estudos das línguas, já iniciados e questionados por estudiosos no final do século passado, sendo Ferdinand Saussure o pioneiro no quesito Linguística. O povo tinha a idéia de que só os nobres detinham o conhecimento, e essa idéia ainda faz parte do nosso cotidiano, mesmo com todos os avanços da educação, da lingüística e do modo de viver em geral.

Essas mudanças ocorridas nas línguas com o advento da lingüística derrubariam em parte a tese de que se é necessário conhecer detalhadamente a nomenclatura gramatical para se fazer um bom uso dos recursos da língua, e é justamente aqui que se inicia o grande questionamento e desafio que nós professores nos deparamos em sala de aula. Como justificar nossa aceitabilidade das variações lingüísticas de nossos alunos, tendo em vista ainda que as noções de “certo e errado” é derrubada pela lingüística, e mesmo assim temos que ensinar os métodos formais da língua, ou seja, os alunos precisam aprender a norma culta.

2. EMBASAMENTO TEÓRICO

Sabe-se que a linguagem escrita em toda história da humanidade sempre fora baseada em modelos. Os clássicos literários eram tomados como base para uma linguagem pura e correta. Todavia não podemos esquecer que na antiguidade a linguagem se concentrava exclusivamente na linguagem literária, e só obtinham o conhecimento os nobres, que quase sempre eram educados nas faculdades de Coimbra e Lisboa. Daí surgiu os filólogos, que eram estudiosos que descreviam as regras gramaticais utilizadas pelos autores clássicos, para que então os próximos estudiosos ou escritores tivessem um patrão, um modelo a seguir, nascendo aqui o conceito de gramática que em grego significa “a arte de escrever”, e que hoje conhecemos por gramática tradicional.

Percebe-se também o motivo da língua em geral, ter seu elitismo, suas características um tanto capitalista, isso se justifica justamente pelo conhecimento ser privilégio de poucos, e isso jamais poderia acabar. Para os tradicionalistas, teria de ser sempre assim, por isso eles jamais aceitariam os novos estudos propostos pelos lingüistas contemporâneos, onde eram aceito os diferentes tipos de conhecimento da língua, os oprimidos não deveriam mais aceitar a imposição da língua das classes dominante, estes que sempre lhe negaram o acesso ao meio social e a cultura.

O que é preciso, sim, é deixar de ver a Gramática tradicional como uma doutrina “sagrada” e “infalível”, para que os estudos gramaticais possam voltar ao seu lugar de origem: o da investigação do fenômeno da linguagem, o da tentativa de compreender a relação entre língua e pensamento, o do exame das relações que as pessoas estabelecem entre si por meio da linguagem, etc. Em suma, empreender o estudo da gramática das línguas dentro de uma perspectiva científica, de acordo com os conceitos modernos das ciências*. (BAGNO, 2002, p. 22)

Os professores ao enfrentar esse grande dilema de gramáticas (normativa, filosófica, histórica e etc.), acham mais cabíveis aderir uma, no caso a tradicional ou normativa, pois está mais próxima de seu domínio, pelo fato de ter sido mais presente em seu processo educacional. Alguns professores, no caso os mais velhos, sequer sabem algo sobre variações lingüísticas, e ainda acham que o que deve dominar mesmo são as regras gramaticais presentes nos livros didáticos, pois elas são as corretas, e ainda consideram os estudos linguisticos apenas “modismo”, sendo assim eles não tem nenhum interesse por suas teorias ou adesão.

PESQUISA DE CAMPO SOBRE A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE GRAMÁTICA:

A pesquisa a seguir foi realizada na escola José Inácio Gomes Parente, no distrito de Jordão, com o intuito de recolher a opinião de um professor, que atua diretamente com a questão levantada neste artigo, foi elaborado quatro questões que, de forma simples e familiarizada com o entrevistado, tem o objetivo de levantar um material suficiente para o seguimento de discussões. O professor informante trabalha como efetivo há cinco anos nesta escola, ministrando aulas de língua portuguesa.

No desenvolver desta análise, veremos as perguntas e as respostas do professor, logo em seguida. Por fim de cada resposta, haverá comentários a respeito. A primeira pergunta foi:

Qual a importância do ensino de gramática em sala de aula?

Sem dúvida tal ensino é essencial e indispensável para a formação do discente. Pois o aluno deve ter o conhecimento sobre a forma padrão da língua. Este conhecimento deve ser discutido e gerado em sala de aula, independente das discussões que são levantadas sobre a questão das variações linguísticas.

O entrevistado mostra, em sua resposta, ter um conhecimento das atuais discussões entre gramáticos e linguístas. Sua posição, de que este ensino deva ser “essencial e indispensável”, é coerente. Percebemos que o entrevistado foi bem sincero e o mais importante, deu uma boa justificativa para tal ensino, pois, não se trata de uma questão de ensinar gramática com o objetivo de que os alunos tenham uma grande capacidade de escrita, no devido uso da norma padrão, se trata de ensinar gramática, no entanto, com o objetivo que os alunos dominem tal conhecimento e que dele façam uso quando necessário.

Qual sua metodologia adotada em sala de aula?

Além do apoio do livro didático e da matriz, outros recursos também são utilizados como: jogos de gramática, para uma aula mais dinâmica e também a prática da leitura através do uso de revistas e jornais.

Vale ressaltar que este entrevistado foi algum tempo acompanhado e que é relevante dizer que as aulas ministradas por este professor não tinham conseguido alcançar os seus objetivos – quando falo objetivos aqui, refiro-me especialmente aos lúdicos. Não tendo a intenção de encontrar um “culpado”, mas o fato é que, nos dias em que presenciei suas aulas percebi que suas tentativas de uma aula mais dinâmica eram frustradas, e como conseqüência, os métodos tradicionais, novamente sustentavam a aula.

O que você acha da participação e do interesse dos alunos nas aulas de gramática?

Ainda hoje temos bons alunos que participam, que se interessam e ajudam no desenvolvimento da aula. Contudo temos também aqueles que não participam, pois acham que o estudo de gramática não tem importância.

De fato, na posição de observador, posso afirmar que isto é ocorrido. O que, intencionalmente ou não, acabam por prejudicar o desenvolvimento da aula.

Hoje, como você acha que a gramática está sendo encontrada no livro didático?

Não podemos generalizar , mas no livro usado na minha escola percebo que o ensino da gramática está diminuído em vista do ensino da leitura e interpretação de texto.

Esta é, sem dúvida, uma grande questão a se discutir: o uso excessivo de interpretação textual em detrimento do uso de gramática nos livros didáticos que nossos alunos levam para suas casas. Contudo, será que era necessária mais gramática nos livros? Será que a intenção de trabalhar mais com a interpretação textual não é, justamente, para que o aluno entenda melhor quando se deparar com uma questão de compreensão gramatical? Ou de fato, não teriam os inúmeros erros de concordância nominal e verbal, presentes nas redações destes alunos, por exemplo, suas raízes nesta gramática mais distanciada e “desfamiliarizada”? Devemos perceber a grande importância de cada um destes ensinos e de melhor maneira possível, transmiti-los aos alunos.

Um grande problema no ensino dessa gramática é justamente pensar a língua como algo já pronto, acabado, com normas, regras e formas, o que não vem a tornar o seu ensino agradável e produtivo, fugindo também dos objetivos do ensino da língua materna que são:

I. Tornar o aluno poliglota em sua língua;

II. Capacitá-lo a usar as diversas funções da linguagem;

III. Formação e aperfeiçoamento das diversas competências lingüísticas.

(BECHARA, 2002, p.11)

O que se busca do profissional do ensino de língua atualmente, é uma visão mais ampla dos fenômenos línguisticos, que faça uma real integração entre as áreas básicas em que normalmente se divide e se estrutura o ensino da língua materna, ou seja, ensino de gramática, ensino de leitura (compreensão de textos), ensino de redação (produção de textos), e ensino de vocabulário, sendo necessária maior ênfase na compreensão e produção, pois é onde se irá levar os conhecimentos lingüísticos para a prática.

Outro desafio do professor é alguns termos com definição equivocada, deixado pelas gramáticas tradicionais que precisam ser ensinados em sala de aula. Marcos Bagno mostra um desses exemplos:

“os pronomes possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa”

Então ele questiona essa afirmação com alguns exemplos:

I.Volta logo, querida! Tua ausência me faz sofrer muito!

II.Chegou a nossa vez de exigir respeito.

Como pode ter a “posse” de uma ausência? Ou então de uma vez?

O professor por sua vez, deve estar atento a essas observações, para isso tem que conhecer o histórico ocorrido com a língua no decorrer dos tempos, suas modificações e transformações. Começamos a ver nesse ponto que os outros tipos de gramática, permanecem com certa importância nos estudos das línguas, todavia deve ser levado em consideração como mais um elemento da variação lingüística, como componente, e não com absolutismo.

Complicado ver a ciência da lingüística como algo que aceita a interferência do meio e dos sujeitos, principalmente pelo fato de sempre sermos alienados com o estereótipo de que o professor e o detentor do saber, e o aluno esta ali para absorver e aprender esse saber. Ora, assim fica mais fácil para todos, mas que cidadão estaremos formando? Que críticos de nossa realidade e da sociedade serão esses? O papel de nós professores, formadores de opinião, e operários da educação estará sendo feito? Embora tenhamos reflexos de outras culturas, temos que buscar nossa própria identidade, ser sujeitos de nós mesmo, e nada melhor que começar pela língua.

Os PCNs, elaborados por especialistas da educação, têm como objetivo justamente estabelecer uma referência curricular e apoiar a revisão e/ ou a elaboração de propostas curricular dos Estados ou das escolas integrantes dos sistemas de ensino.

É importante destacar aqui, as considerações oriundas da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI*, incorporadas nas determinações da lei n* 9.394/96:

a) A educação deve cumprir um triplo papel: econômico, científico e cultural;

b) A educação deve ser estruturada em quatro alicerces: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser.

Em uma pesquisa realizada em escola pública, pode-se ver mais a fundo a dificuldade que os professores enfrentam em seu dia a dia, a realidade e bem mais complicado do que a que vemos e analisamos nas teorias dos cursos de licenciaturas em nossas universidades. O professor na maioria das vezes não conta com um apoio presente de sua coordenação, pois esta muitas vezes está somente como agente, que estão ali para cobrar resultados num fim de determinado período, sendo assim fica “justificada” o ensino das gramáticas tradicionais, na visão dos leigos em estudos da língua ela é exata, pronta, acabada e correta. É preciso resgatar os princípios educacionais de autodeterminação, autodisciplina e liberdade.

O professor deve se portar como pessoas reflexivas, que estão abertos a mudanças, que pensa, age, sente e transforma, sempre visando o seu lado de cidadão livre, mas livre por intermédio do conhecimento. Paulo Freire descreve brilhantemente perfil desse educador;

(...) O homem como ser completo, inacabado. O homem visto como um sonhador que tem direito a sonhar - um sonho que nunca se conclui que reelabora o universo constrói o possível, antes inimaginado, e vive a dignidade essencial de construir o sonho da liberdade da autonomia. (Freire, 1996, p. 10).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos aqui iniciar uma reflexão sobre o ensino de gramática na visão docente, respeitando os procedimentos de cada profissional.

Percebemos que a escola em pleno séc. XXI vem deixando de lado seu papel basilar, que é preparar, ensinar e socializar a cultura, criando estratégias para formar cidadãos livre e democráticos, conhecedores de seus deveres com o próximo e com o mundo.

Considerar um professor “ultrapassado” por seu ensino ser tradicional ou normativo é pura ignorância. O que está havendo atualmente é uma sobrecarga para o profissional da educação, fazendo com que este utilize ainda os métodos normativos de ensino, distanciando-se assim da realidade do aluno.

O professor indiscutivelmente passou e passa ainda por uma decadência no ensino que o atinge socialmente. Porém, para muitos alunos de classe baixa, nós representamos um espelho, uma e talvez a única oportunidade deles trilharem um caminho diferente, para um futuro melhor. Isso é a grande recompensa do magistério, o professor ainda tem sua autonomia, e pode fazer acontecer, sei que não dar mais para mudar o começo, mas se quisermos, mudaremos o final.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

• BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro? São Paulo: 3 edição. Ed. Parábola, 2001.

• BECHARA, Evanildo. Ensino de gramática. Opressão? Liberdade? São Paulo. 11 edição. Ed. Ática, 2002.

• BRASIL. Secretária de educação fundamental. Parâmetros Curriculares nacionais; terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental; língua portuguesa/ Secretaria de Ensino fundamental, Brasilia; MEC/Sef, 1998.

• FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomias-Saberes necessário á prática educativa. São Paulo; Editora paz e Terra. 1996.

• VIEIRA, Silvia Rodrigues. Ensino de Gramática-descrição e uso. São Paulo; Editora Contexto, 1998.

Heliomar Clarindo, Francisco Edivaldo Eufrásio da Silva e Jackson Monteiro de Vasconcelos
Enviado por Heliomar Clarindo em 30/07/2012
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