O TERRÍVEL HOMEM

Na Antiguidade, Sófocles declara o homem duplamente admirável em seu "II Canto de Antígone". Por um lado, o homem é capaz de mover-se por "onde não está em casa"; mas, por outro, o homem também é capaz de desrespeitar as leis da polis. Diante disto, Sófocles se declara um tanto perplexo, afirmando que na terra "há muita coisa terrível, mas nada existe mais terrível do que o homem". Será que Sófocles tem razão?

Penso que toda pessoa, medianamente consciente e crítica, verifica, tanto na história pessoal como coletiva, que o homem é espantoso em expressões maravilhosas e em ações terrificantes. Hoje estamos diante de conquistas científicas espetaculares. Mas, em relação às suas capacidades criminosas o homem de hoje se demonstra terrivelmente cruel em muitas situações. De muitas partes da terra nos advêm notícias de guerras, massacres, crueldades de toda ordem, traições, homicídios, corrupções, torturas, assaltos, sequestros... Covardias e todo tipo de maldades vis estão tendo expressão ímpar em nosso tempo. Nenhum outro ser vivo na terra chega aos pés do homem em crueldade. Muitos já terão feito na vida pessoal experiências em contato com a ação terrificante do homem. Pessoalmente, já me confrontei com serpentes, cachorros furiosos, vacas bravas, e sempre me consegui defender sem grande prejuízo, mas quando traiçoeira e covardemente fui atacado por homens corri perigo de vida. Em uma ocasião passei oito dias na semiUTI de um hospital. E pior, sem punição aos agressores; em outras ocasiões já tive grandes prejuízos morais e financeiros. Em tais casos, em geral, nem polícia, nem justiça agem confiavelmente. O indivíduo fica entregue à própria sorte, pois até a solidariedade de seus companheiros de vida permanece frágil.

Então, como nos prevenir contra este "terrível homem"? O filósofo tem respostas: educação, consciência crítica, exercício das virtudes sociais e pessoais, justiça, equidade, etc... Além disto é necessária a prudência e a sabedoria, capazes de nos prevenir e sugerir engajamentos para convivermos e sobrevivermos ao lado das ações do "terrível homem". Somente com muita educação, e exercícios de sabedoria filosófica, existe a esperança de que o homem renuncie às suas potencialidades terrificantes, e busque objetivar o maravilhoso de suas capacidades.

Sem educação civilizatória, sem consciência crítica, sem sabedoria e exercício de virtudes sociais e pessoais o "terrível homem" será uma ameaça constante para a dignidade humana. Aprendamos de Sófocles...

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Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife/PE