Quantidade com qualidade

Wilson Correia

A greve de alunos, técnico-administrativos e professores federais, que já se estende por quase três meses, lança luz sobre a expansão da educação no governo Lula. De fato, o Censo da Educação Superior mostra que as Instituições de Ensino Superior (IESs) brasileiras cresceu de 1.180 em 2000 para 2.378 em 2010. As universidades federais foram de 61 em 2000 para 99 em 2010 (expansão de 62,3%). Nesse período, o número de matrículas saltou de 887.026 para 1.461.696 (expansão de 64,7%). Os docentes dessas IESs saiu de 50.165 e chegou a 78.608, sendo que, desses, 70.481 atuam sob o regime de dedicação exclusiva.

Porém, o que pouco se discute é a qualidade de todos esses números. E a greve tem servido para instigar esse debate. Tanto que os pontos de pauta que a sustenta pedem, além de salário com ganho real, infraestrutura de qualidade e carreira docente que assegure aos professores a condição necessária ao desenvolvimento da e na carreira de forma digna e respeitosa.

Atender aos clamores por democratização e interiorização da educação universitária não foi um favor do governo. Foi, sim, o início da reparação de uma injustiça histórica, pois, no Brasil, apenas uma elite chegava a esse tipo de ensino. Porém, é bom lembrar que isso foi feito com o dinheiro do povo, com a riqueza socialmente produzida. Também para isso a atual greve chama a atenção.

Mas acenos de democratização e interiorização meramente quantitativos não nos satisfazem. A universidade, ancorada no perfil institucional consagrado pela nossa Constituição Federal de 1988, deve ser autônoma (administrativa, científica e financeiramente). Isso é elementar para que ela cumpra a contento seu papel de articular e indissociar ensino, pesquisa e extensão.

Desse modo, quando a pauta da atual greve dos professores pede qualidade infraestrutural e carreira segura para docentes, além de salários dignos (um professor-doutor no Brasil ganha perto da metade daquilo que recebe um colega doutor no Canadá, por exemplo), o que se está propondo é a valorização fática da educação.

Não se valoriza a educação mediante a construção aligeirada de prédios (creches, “pavilhões” de aula, “pavilhões” administrativos, restaurantes e casas universitárias). O que decide em uma universidade é a qualidade do que e de quem habita esses espaços: equipamentos, livros, laboratórios e, sobretudo, pessoal altamente qualificado. Isso muda o vetor da interiorização para assegurar outro direito: o da permanência realmente qualificada nos espaços da educação universitária.

Sem infraestrutura altamente qualificada, o que estaremos fazendo é oferecer uma educação de segunda categoria. Com uma educação assim, não chegaremos àquela grande nação sempre adiada que é o Brasil do futuro.

Por isso, torna-se importante lembrar que queremos quantidade com qualidade. Esse deve ser o lema de todo governo e uma bandeira de luta para toda a sociedade brasileira. E seria bom se o governo federal tivesse ouvidos para esse clamor. Aqui, intransigência, capricho, humilhação e desrespeito não funcionam. O que funciona é transformarmos a educação em nossa prioridade número um.