O Ideb e seus problemas

Wilson Correia

Ideb significa Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Ele vem sendo medido desde 2007 e toma por base desempenho estudantil e taxa de aprovação. Ele considera uma escala de zero a dez, com média 5 para escolas dos primeiros anos do Ensino Fundamental, 4,1 para os anos finais do Ensino Fundamental e 3,7 para o Ensino Médio.

O Ideb é, na realidade, mais um instrumento quantitativista das sociedades ditas “do conhecimento”, “neoliberais”, “capitalistas”, “de mercado”, nas quais a educação é sempre vista na perspectiva da instrumentação profissional para o mercado articulada com a formação para a cidadania na democracia representativa.

Como os organismos internacionais só financiam sociedades que se alinhem aos imperativos capitalistas, no caso particular da educação, a pressão que eles fazem é para que o número de aprovados seja o maior possível, não importando a qualidade dessa aprovação (não é sem motivo que, no ensino superior, deve haver 18 alunos por professor e com meta de aprovação de 90% deles nos períodos letivos normais).

É por demais conhecida a celeuma em torno dessa temática, fervilhante quando o tópico “aprovação compulsória” vem à baila. Essa aprovação prezando o quantitativo, é sintoma de uma sociedade que, não querendo distribuir poder e riqueza social por meio da educação, contenta-se em distribuir aprovações e certificados.

Isso, para as cabeças neoliberais da atualidade, não é problemático porque, na sociedade capitalista, o que regula a vida humana e suas práticas é a lei de mercado. Aí, como o mantra é o que garante que cada indivíduo deve fazer-se por si mesmo, não importa se ele foi aprovado na escola para ser um analfabeto funcional na vida, na universidade (38% dos atuais universitários são analfabetos funcionais) e na sociedade.

Já imaginou uma escala de zero a dez e você sendo aprovado com nota 3,7? De repente, para chegar a esse resultado, nem é preciso estudar. Por isso, quarta-feira passada, 15 de agosto de 2012, em discurso no Senado, o Senador Cristovam Buarque afirmou: “Nós estamos sendo reprovados, [os prefeitos], os senadores, os deputados, os ministros, os governantes, os presidentes. Essa é a nossa reprovação, essa é a nossa nota. Nós deveríamos carregar no peito a nota 3,7, porque é esta a nota do ensino médio no Brasil”.

A sanha do Estado Avaliador é a de estabelecer um controle de tal monta sobre a escola e a universidade que elas se vejam impedidas de fugirem das regras disciplinares da sociedade capitalista: essa que não vê a educação como direito social e para a qual os números significam os valores dos valores, não estando “nem aí” para qualquer exigência que lhe peça qualidade real.

De uns tempos para cá, estamos deparando com isso tudo e estamos dando de cara com uma escola e com uma universidade meia-boca, habitada por alunos também transformados em protagonistas da mediocridade semiletrada. E, como a greve dos professores federais indica, a isso também querem converter os professores universitários.

É por essas e outras que compreendo Edgar Morin: “Hoje, a batalha se trava no terreno do espírito”. Enquanto os brucutus se julgarem os “hors concurs” também em matéria de educação, o prognóstico é o de que temos muito, mas muito mesmo, o que batalhar.