O Ideb e seus problemas III

Wilson Correia

Sob o pretexto de repercutir os resultados do Ideb 2011, em uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo, o jornalão informa que “Para tentar vender a ideia de que o governo tem um plano bem definido de mudança do ensino médio, o ministro Aloizio Mercadante anunciou um projeto de reestruturação do currículo, que reagrupa as 13 disciplinas desse ciclo de ensino em quatro áreas: ciências humanas, ciências da natureza, linguagem e matemática. Com isso, em vez de receberem aulas específicas de biologia, física e química, os estudantes do ensino médio participarão de ‘atividades’ que integrem esses conteúdos”.

Além de criticar a falta de preparo, experiência e improviso do ministro, o jornal continua: “Mercadante também não tratou de outra questão importante - as pressões corporativas que levaram à adoção de modismos pedagógicos, como a introdução de filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias, fragmentando ainda mais os currículos”.

De fato, por comemorar o alcance de metas baixíssimas para a Educação Básica (para se ter uma ideia, em uma escala de zero a 10, o Brasil prevê chegar à nota 6,0 em 2021), o MEC precisa mesmo da reprimenda da cidadania. Outra coisa que merece sérios questionamentos é o fato de se colocar um político para cuidar da educação, quando um profissional da área seria o razoavelmente mais indicado, pois alguém com esse perfil de Marcadante tem, realmente, dificuldade de avaliar uma reestruturação curricular e seu sentido para a educação formal.

Contudo, afirmar: “pressões corporativas” (...) “levaram à adoção de modismos pedagógicos, como a introdução de filosofia e sociologia como disciplinas obrigatórias, fragmentando ainda mais os currículos” é também demonstrar monstruosa ignorância sobre a matéria.

O que é modismo? O dicionário registra que se trata do “Uso passageiro que regula, de acordo com o gosto do momento, a forma de viver, de se vestir”, entre outras coisas (Priberam). Pergunto se a filosofia e a sociologia se encaixam nessa definição e não encontro respaldo para a afirmação feita na matéria. A sociologia está aí, como disciplina autônoma, desde o século XIX. A filosofia, desde o século IV a.C., aproximadamente. Isso é ser “passageiro”?

O que me parece estar por trás dessa afirmação é, antes de tudo, parte de um movimento detrator das disciplinas afiliadas às humanidades. Esse movimento é encabeçado por gente que quer construir um mundo tecnificado e tecnológico de tal monta mecânico-funcionalista que, nele, não haja lugar para o próprio humano. E de que nos valeria um mundo e uma sociedade se não são feitos para, pelo e com o humano?

Depois, note-se, filosofia e sociologia são disciplinas críticas, que ensejam em quem as estuda o desejo e a prática de fazer a análise do mundo vivido. Elas reforçam nos estudantes as capacidades de ver, analisar, julgar, valorar, decidir e agir como serres conscientes e não facilmente cabresteáveis.

Estou de acordo que, quanto ao Ideb, o Ministério da Educação, o ministro e seus assessores merecem, mesmo, o puxão de orelha da sociedade brasileira. Com uma educação tão fajuta, não iremos a lugar nenhum. Quanto à crítica à filosofia e à sociologia, na matéria tratadas como modismos, isso é absurdo e merece o nosso repúdio e condenação. Com esse tipo de ignorância e má-fé desse jornalzão nós não podemos transigir. Jamais!

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=3094736147662&set=a.1770955973985.70320.1841833193&type=1&theater