OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DO SUJEITO EM JACQUES DELORS

1.INTRODUÇÃO

Na realidade histórica social fortemente marcada pelas constantes transformações, em que estamos vivendo, assistimos a sobreposição de paradigmas educacionais, por novos modelos, que tem a propedêutica de estabelecer uma linguagem nova para se pensar este tema antigo e sempre novo.

O processo educacional acompanha e inquieta o homem desde a mais tenra idade intelectual, seja no seu processo de significação do espaço, seja árdua construção de caminhos e possibilidades. Na formação educacional do sujeito há um leque de possibilidades, desde as correntes pedagógicas e filosóficas fundadas ao longo da história com o intuito de ser respostas que vem ao encontro dos problemas educacionais pertinentes à emancipação social do sujeito. Realmente as novas correntes pedagógicas intituladas interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinar, são modelos amplamente discutidos, questionados e problematizados como um dos caminhos possíveis da educação, neste nosso século de múltiplos saberes. (DELORS, 2003).

Educação é o processo de internalização do conjunto de ensinamentos absorvido pelo individuo numa contínua relação dialética que se dá na realidade do ser educando e do ser educando educador. Educar pode ser compreendido como uma vastíssima gama de maneiras e possibilidades de deixar postergados as técnicas, hábitos e comportamentos de um determinado grupo, como herança e até mesmo como condição elementar para a sobrevivência e continuação da espécie. (LIBÂNIO, 2002)

O pensador Jacques Delors coordenou em 1996, o relatório anual da ONU, solicitado por um dos braços fortes da instituição, a UNESCO, onde na ocasião fez apontamentos importantíssimos acerca da educação global. Delors, após a análise das várias culturas e suas inúmeras correntes pedagógicas, sugere como uma contribuição o que chamou de quatro pilares da educação, são eles: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

2.EDUCAÇÃO E POSSIBILIDADES

O termo educação possui uma grande variedade de possibilidades nas mais diversas áreas do saber (LUCK, 2007) e está sempre em voga não passando despercebido nos discursos de cunho político, social ou privado, preocupando-se com o desenvolvimento integral do ser humano. Sinceramente educar é uma necessidade real e que precisa ser compreendida para que possa ser uma missão assumida e desenvolvida, onde quer que se esteja. A educação é definida pelo Abbagnano como:

A transmissão e o aprendizado das técnicas culturais de uso, que são as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de homens um grupo de homens é capaz de satisfazer as suas necessidades, proteger-se contra, proteger-se contra a hostilidade do ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto de modo mais ou menos ordenado e pacífico. (ABBAGNANO 2003, p. 305).

A educação é sem sombra de dúvidas um dos principais meios que possibilitou ao homem evoluir, avaliar compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, favorecendo o despertar pela curiosidade intelectual e estimulo o sentimento crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia na capacidade de discernir. (DELORS, 2003). Esse processo contínuo de evolução favorece a formação do sujeito, que absorvendo o que está posto, passa-o pela consciência da práxis educacional é então, capaz de resignificar e melhorar seu espaço, pois conhecer é também a atitude transformadora por onde passa o saber.

Realmente percebe-se que foi construído ao longo da história um conhecimento que procura tornar a vida humana melhor, no que tange o aperfeiçoamento, seja das técnicas de trabalho e desmaterialização do trabalho, seja das mais diversas formas de desenvolvimento do gênero humano objetivando melhores condições de vida por meio da transformação educacional e construindo caminhos e possibilidades.

Caminhos e possibilidades significam propostas amplas que não têm como objetivo reduzir as possibilidades da vida humana à unilateralidade uníssona que algema as potencialidades, mas sim abre horizontes, para construir a partir da práxis consciente possibilidades e perspectivas.

3.PILARES EDUCACIONAIS E A APRENDIZAGEM

Em nossa realidade social com o seu ritmo acelerado, com grande competição pelos lugares de destaque em todos os níveis societários, causados pelas mudanças rápidas nas novas tecnologias obrigando a que cada um se adapte aos novos contextos o mais rapidamente possível sob pena de ser ultrapassado tornou-se obrigatório pensar-se na educação ao longo da vida e para a vida. (LUCK, 2007).

É neste contexto educacional onde os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso unilateral ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, é que Jacques Delors propõe pensar o homem em todos os níveis do processo do desenvolvimento humano educando assim, o sujeito como um todo.

Aprender a conhecer e a pensar é fundamental num mundo fortemente marcado por muitas informações e pouco conhecimento. Esta perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas e métodos de aprendizagem, tanto em nível da elaboração de programas como da definição de novas políticas pedagógicas. Nesta linha de pensamento, a educação baseia-se em quatro pilares, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. (CAMPOS, 2007, p. 59).

Aprender a conhecer, é combinar uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade conteúdos de maneira transdiciplinar, a partir da realidade conhecida do educando. O que também significa, aprender a aprender, para beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida, sem se deixar cegar pelas pretensas verdades prontas e acabadas.

Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional tecnicista, mas de uma maneira mais ampla desenvolver as potencialidades e competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações adversas e a trabalhar em equipe. Mas também, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho que se oferecem aos jovens e adolescentes, oportunidades ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho que leva ao caminho do sucesso.

Aprender a viver juntos, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências e realizar projetos comuns é preparar-se para gerir conflitos no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz.

Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade e estar à altura de agir com capacidade cada vez maior de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal, possibilitando que o indivíduo cresça, desenvolva-se vivendo em harmonia. (DELORS, 2003, p. 245).

Para isso, não negligenciar na educação nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se (DELORS, 2003, p. 244), assim se constrói um ser integral que se percebe em sua inteira totalidade e não de maneira fragmentária. É de suma importância educar o sujeito como de fato sujeito em toda a sua inteireza, pois estaremos preparando-o para ser de fato uma pessoa capaz de se compreender e compreender a sua realidade social.

4.FORMAÇÃO PARA A VIDA

Preparar o sujeito para a vida é formá-lo para a autonomia, para a consciência de si, para a cidadania capaz de a partir de si construir um mundo melhor. Formar para a vida é mostrar as ferramentas a serem usadas e incitar sempre a aprender maneiras novas de usá-las. A educação está arraigada a vida humana, falar de si é falar de educação. A passagem de uma elaboração do espírito crítico e questionador que é peça fundante para se criar um mundo melhor para uma práxis consciente se dá na maturidade do sujeito que foi educado para dizer de si e fazer suas escolhas sendo capaz e livre e autonomamente construir e significar seu mundo. Educa-se para a vida, para a vida saborear que se diz e traduz na realidade do ser educando e do ser educando educador. Esse é o papel do educando educador aquele que não está pronto e acabado, mas que continua sempre a aprender a aprender e que foi instruído e instrumentalizado não para “dar o peixe, mas ensinar a pescar”.

A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, espírito, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade. Todo o ser humano deve ser preparado, especialmente graças a educação que se recebe na juventude, para elaborar pensamento autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida. (DELORS, 2003, P. 97).

A educação tem papel essencial, na missão de conferir aos seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver suas potencialidades, talentos, tesouros e permanecerem tanto quanto, possíveis donos de seu próprio destino.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não existem modelos ou correntes filosóficas pedagógicas certas ou erradas, existem modelos educacionais pertinentes que vem de encontro com a realidade capaz de possibilitar mudanças e transformações. O que se sabe é que cativando, seduzindo para o aprendizado o educando educador atinge com maior qualidade seu objetivo, que concerteza nutre e afasta dos procedimentos que possam inclinar o educando para atitudes desfavoráveis.

Uma das tarefas da pedagogia é ajudar a transformar a interdependência real do sujeito em solidariedade, preparando o individuo para compreensão de si mesmo e do outro, condição necessária para uma verdadeira transformação. A educação manifesta em seu caráter insubstituível a capacidade de fomentar e imprimir nos educandos consciência autônoma e livre pra construir e significar seu espaço.

O processo educacional tem como objetivo, seja o homem rural ou urbano, simples ou complexo, preparar o sujeito a ser capaz de responder com convicção e sensatez as situações pertinentes à vida pessoal e profissional e ser produtor de soluções, significações e resultados de seu espaço na elaboração da cultura. (DELORS, 2003)

Os quatro pilares da educação é uma contribuição moderna e de grande relevância nas discussões sérias que procura estabelecer novos paradigmas, novas fronteiras a cerca da formação do sujeito em suas circunstancias. Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser são depois de séculos ainda questões antigas e sempre novas que nos incita à respostas que venha ao encontro de nossos desafios, estabelecendo uma nova perspectiva fundada na tradição, com olhar voltado ao horizonte.

REFERENCIAS

CAMPOS, Ir. Márcio da Silva. A Pedagogia Cavanis e a formação integral do homem. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Mater Eclésia, Ponta Grossa, 2004.

DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a Descobrir: Relatório para a comissão internacional sobre educação para o século XXI. 8.ed São Paulo. Cortez; Brasilia, DF: MEC: UNESCO, 2003.

_______, Jacques. Biografia. Wikipedia. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_delors. Acesso em: 01 de abril. 2008.

_______, Jacques. Os quatro Pilares da Educação. Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Pilares_da_Educa%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 01 de abril. 2008.

LIBANIO, J. B. A arte de formar-se. 3.ed São Paulo. Loyola, 2002.

LUCK, Heloísa. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teóricos – metodológicos. 14. ed. Petrópolis: Vozes. 2007.

TULLIO, Luiz Antonio Sovinski. Infância e educação em Montaigne. Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade Católica de Uberlândia, Uberlândia, 2010.

Edvaldo Lourenço
Enviado por Edvaldo Lourenço em 17/09/2012
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